Shanay-timpishka, o rio peruano que ferve no meio da Amazônia, foi uma lenda por muito tempo.
Você sabia que existe um rio na Amazônia que mata tudo que cai nele? Parece exagero, não é? Mas ele é real. Por muito tempo o rio foi um mistério, pois era apenas uma lenda, mas graças ao geocientista Andrés Ruzo, hoje é comprovada a existência dele. O curso de água fica no centro da floresta peruana e para ter acesso ao local é preciso muito esforço. Isso porque é necessário cerca de uma hora de voo até a cidade de Pucallpa, que abriga a maior parte da Amazônia dentro do território do Peru. Depois se percorre duas horas de carro entre a cidade até o rio Pachitea, e mais 30 minutos para chegar até a foz do Rio Fervente, o lugar considerado mortal.
O nome indígena do rio é Shanay-timpishka e significa ‘fervido com o calor do sol’. Isso porque durante as manhãs, as águas do rio são frias, depois elas começam a esquentar, mas durante a noite tornam a serem frias. No entanto, o que provoca a morte das pessoas é o fato de que, na maioria das vezes, a temperatura atinge picos muito grandes. Existem relatos de animais que também acabaram mortos ao tentar matar a sede nesse rio.
Mas você deve estar se perguntando: como o geocientista descobriu esse rio? Então, senta que lá vem história…
Quando Andrés Ruzo era um garoto no Peru, seu avô lhe contou uma história que continha um detalhe muito instigante: existe um rio, no coração da selva amazônica peruana, que ferve como se tivesse uma fogueira queimando embaixo dele. Doze anos mais tarde, depois de formado em geociências, Andrés partiu para uma viagem às profundezas da selva em busca desse rio fervente. Depois de anos de perguntas, dúvidas, consultas a livros e revistas especializadas, becos sem saída e muitas frustrações, Ruzo finalmente encontrou seu Rio Fervente que, realmente, chega quase ao ponto de fervura, com a temperatura das suas águas variando muito ao longo do seu percurso. Em algumas partes, suas águas atingem 97°C .
“Mergulhar minha mão em certas partes do rio por mais de meio segundo significaria sofrer queimaduras de terceiro grau”, diz Andrés Ruzo. “Cair dentro dele é morte certa”, assegura.
A alta temperatura do rio gera muitas dúvidas e curiosidades. “O que é incrível, de novo, são as temperaturas. São similares ao que eu vejo em vulcões no mundo todo e até mesmo supervulcões. Mas é aí que está: os dados mostram que o rio fervente existe independente de vulcanismo. Não é nem magmático ou de origem vulcânica, e novamente, está a mais de 700 quilômetros do centro vulcânico mais próximo.” explica.
Logo, por que ele ferve tanto assim?
Segundo o geocientista, que conversa há anos com geotérmicos e vulcanólogos, ele ainda não conseguiu encontrar outro sistema geotérmico não-vulcânico com essa magnitude. É único e especial em escala global.
Mas então, como ele funciona? De onde sai esse calor? Andrés explica: “Basicamente, funciona assim: quanto mais fundo na terra, mais quente fica. Nós chamamos isso de gradiente geotérmico. As águas poderiam estar vindo até mesmo de geleiras nos Andes e infiltrando-se na terra e saindo para formar o rio fervente depois de serem aquecidas pelo gradiente geotérmico, tudo graças a esse cenário geológico único. Ainda há muito para explorar. Nós vivemos num mundo incrível. Então saiam. Sejam curiosos. Porque nós vivemos num mundo onde onde rios fervem e lendas ganham vida”.