O artesanato indígena é antigo, algo passado de pais para filhos. Aos 58 anos, a empreendedora Nandia Pereira se diz orgulhosa de mostrar uma arte que veio de família. Durante a entrevista, a moradora de Maués (município distante a 253 quilômetros de Manaus) mostrou as mãos calejadas com orgulho. “A minha mãe passou todo o seu conhecimento para mim, e sempre me incentivou a trabalhar com artesanato“, contou a indígena da etnia Sateré-Mawé.
Sementes, caroços e árvores são as principais matérias primas utilizadas pelos indígenas. “Nossos ancestrais sempre utilizaram materiais da própria natureza, e demos continuidade a esses trabalho, mas, agora, temos um negócio e podemos sustentar as nossas famílias. Achamos no empreendedorismo uma forma de nos sustentar e exaltar nossa herança cultural“, afirmou Nandia.
No início, a comunidade Sateré-Mawé teve dificuldade de empreender, mas, aos poucos, eles foram contornando a situação e conseguiram vender suas peças. Atualmente, os objetos produzidos variam entre R$ 25 a R$ 40. “Somos cinco mulheres que lutamos para mostrar a nossa arte, tudo é manual, feito do jeito que nossos descendentes faziam. Claro, que ainda temos muito que aprender sobre o mundo do empreendedorismo, mas tenho certeza que vamos conseguir“, assegurou a empreendedora.
Evolução
Da etnia Kulina, a empreendedora Marlene Araújo explicou que um bom tempo eles não produziram nenhuma peça para venda. “A cidade mesmo não dá valor, por muito tempo, eles produziam por demanda. Hoje eles estão voltando a fazer, mas dessa vez, queremos fazer as coisas da forma certa, conhecendo mais o mercado e fazendo de tudo para expandir os negócios, afinal, famílias dependem desse dinheiro“, disse.
Além de trabalhar com o artesanato indígena, Marlene também é educadora. Ela acredita que a união da comunidade foi importante para o crescimento da visão empreendedora. “Em 2018, comecei a fazer algumas viagens para Manaus, conhecer mais a produção de artesanato e a forma de beneficiar a nossa comunidade. O trabalho é árduo, mas vale a pena, você vê a felicidade dos artesãos quando eles encontram alguém que dá valor ao trabalho desenvolvido“, afirmou.
Experiência
De acordo com a coordenadora da Rede de Mulheres Indígenas do Amazonas (Makira-Êta), Rosimere Teles, os indígenas precisam se adequar ao mercado. “Antes, a produção era para consumo próprio, os indígenas sempre fizeram seus próprios utensílios e objetivos do dia a dia, com o passar do tempo, o conhecimento foi passando de geração a geração, e hoje, ela se transformou para o universo do empreendedorismo“, explicou.
A identidade indígena é primordial para que os negócios deem certo. “Seja na produção de diversas formas, como o artesanato, histórias, pinturas, hoje temos várias formas de dialogar. O maior desafio é fazer os indígenas compreenderem essa importância cultural que ele leva|“, contou a coordenadora do Makira-Êta.
Na opinião de Rosimere, o próprio povo amazonense ignora a existência do artesanato dos povos indígenas. “Somos invisíveis para eles, nós precisamos valorizar a cultura indígena, até mesmo, a alimentação. Por exemplo, em Manaus, as pessoas adoravam comer em restaurantes Japonês e Chinês, mas a base da culinária indígena é tão rica quanto. O mesmo vale para as obras feitas pelas comunidades indígenas que se arriscam no empreendedorismo, mas acabam desistindo por causa das dificuldades“, falou.