Jovem ribeirinha desenvolve projeto para melhorar venda de polpas de frutas de sua comunidade

Açaí e cupuaçu viraram matéria prima de sofisticados cosméticos e caros produtos alimentícios no exterior. Antes de 2017, entretanto, essas e outras frutas regionais da Amazônia chegavam a estragar na Boa Esperança, comunidade ribeirinha localizada no estado do Amazonas, na região do Médio Solimões, Amazônia Central, e lar de mais 80 famílias que sobrevivem da agricultura.

Açaí sendo processado em unidade de beneficiamento (Foto: Amanda Lelis/Instituto Mamirauá)

Com sistema de energia solar, uma unidade de beneficiamento foi instalada na comunidade em 2017 e os ribeirinhos passaram a processar e armazenar as polpas de frutas cultivadas em abundância na área. Localizada na Reserva de Desenvolvimento Sustentável Amanã, distante 3 a 4 horas de Tefé, centro urbano da região, a comunidade hoje enfrenta outro problema: conseguir vender as polpas congeladas que enchem os freezers.

Foi pensando nisso que a jovem de 19 anos Geice Monhões desenvolveu projeto com um plano de ação para melhorar o escoamento da produção e garantir, assim, uma fonte de renda viável aos agricultores como seu pai, Jesuy Monhões, um dos idealizadores da Casa de Polpa de Frutas.

Geice é estudante do Centro Vocacional Tecnológico (CVT) do Instituto Mamirauá, organização social vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC).

A jovem está finalizando o primeiro ano do programa, que é dividido em duas etapas. Na primeira, os estudantes frequentam aulas na sede do Instituto Mamirauá, no município de Tefé, enquanto desenvolvem, sob orientação de técnicos e pesquisadores da organização, um projeto que visa suprir alguma demanda de suas respectivas comunidades e associações; na segunda, voltam aos seus locais de origem para aplicar um plano de ação.

Geice é filha de agricultores da comunidade (Foto: Everson Tavares/Instituto Mamirauá)

O CVT tem financiamento da Fundação Moore e da BrazilFoundation.

Boa gestão para melhorias nas vendas

Em atividade realizada em julho, Geice diagnosticou as deficiências que os produtores enfrentam. As principais problemáticas levantadas pelos agricultores participantes foram conhecimento das regras, organização financeira e das atividades da unidade de beneficiamento.

Baseado nos resultados, o plano de ação de Geice foi construído com atividades destinadas à organização do cronograma de trabalho, do setor financeiro e das fichas de entrada e saída do produto.

Escoamento da produção é um dos desafios dos agricultores ribeirinhos (Foto: Amanda Lelis/Instituto Mamirauá)

A maior parte das ações devem ser implementadas em 2020, quando a jovem volta para a sua comunidade, mas ainda neste ano Geice vai realizar o mapeamento de mercado para identificar possíveis compradores.

“Eles estão com dificuldade de comercializar porque a raiz do problema está na gestão. A Geice vai ajudar em ações de gestão que os agricultores, muito ligados à produção, não tem tempo para ver”, afirma Tabatha Benitz, analista de Inovação e Pesquisa do Instituto Mamirauá e orientadora do projeto.

A especialista afirma que a Casa de Polpa já conta com ferramentas de gestão importantes, como as fichas de controle de produção e um Regimento Interno estabelecido.  Por isso, o trabalho da jovem será voltado a garantir a adequada aplicação e funcionamento desses mecanismos.

Geice também irá acompanhar e aconselhar os agricultores com funções específicas dentro da associação e verificar regularizações da Declaração de Aptidão ao Pronaf (DAP), documento que habilita o agricultor familiar a participar de vendas públicas. O Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) é um programa de financiamento do Governo Federal que beneficia produtores rurais.

Atualmente, a legislação federal determina que no mínimo 30% do valor repassado a estados, municípios e Distrito Federal pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) para o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) seja destinado a compra de alimentos da agricultura familiar. Por isso, a importância da adequação dos agricultores aos requisitos para participar de editais públicos.

Nesse sentido, o plano de ação da estudante também prevê uma minioficina de prestação de contas. “Com essa estrutura, o escoamento vai melhorar porque muitos dos problemas na venda é por falhas em alguns desses processos”, ressalta Tabatha, que destacou a proatividade e dedicação da jovem. “É muito inteligente e ativa e o projeto é uma troca de conhecimentos, também aprendo muito com ela. ”

Como Geice, outros cerca de 30 jovens de comunidades ribeirinhas da região também desenvolvem projetos que visam a melhoria da qualidade de vida e manejo de recursos naturais. Os participantes são indicados pelas próprias comunidades e associações para participar do programa do Instituto Mamirauá, que oferece uma bolsa para estadia dos jovens durante o primeiro ano do programa, em Tefé.

Casa de Polpa de Frutas foi inaugurada em 2017 (Foto: Amanda Lelis/Instituto Mamirauá)

Para ajudar mais jovens a transformarem a vida em suas comunidades no interior da Amazônia, o Instituto Mamirauá, em parceria com a empresa MOKO, lançou a coleção de camisetas ‘Sonhos Amazônicos’. O valor das peças será revertido ao programa. Para comprar, acesse moko.com.br/sonhosamazonicos.

Casa de Polpa de Frutas

A Casa de Polpa de Frutas da comunidade Boa Esperança opera com um sistema de energia solar que mantém em funcionamento freezers e máquinas despolpadeiras. A unidade contou com a assessoria técnica do Programa de Manejo de Agroecossistemas e do Programa Qualidade de Vida do Instituto Mamirauá e recursos do Fundo Amazônia.

Publicidade
Publicidade

Relacionadas:

Mais acessadas:

Projeto de cosméticos sustentáveis assegura renda de comunidades na Amazônia

O Projeto Cosméticos Sustentáveis da Amazônia é uma parceria público-privada que congrega 19 associações de produtores focadas na extração da biodiversidade amazônica.

Leia também

Publicidade