Atualmente, no Brasil, existem 154 línguas indígenas. Calcula-se que 80% dos idiomas falados no país desapareceram de 1.500 até hoje.
A chegada dos portugueses no Brasil e a posterior colonização do território proporcionou uma drástica mudança no modo de viver nos nativos que habitavam a região. Costumes, roupas, religião e até mesmo o modo de falar. Estima-se que antes da chegada dos portugueses, havia entre 600 e mil línguas sendo faladas pelos nativos indígenas.
Essas e outras informações fazem parte de uma extensa pesquisa que resultou no livro ‘Não Fala Só Tupi’, dos linguistas Bruna Franchetto e Kristina Balykova. Entre as informações sobre as pouco mais de 150 línguas indígenas faladas no Brasil atualmente, está a forma como a maioria possui e adapta expressões de acordo com a região.
O Portal Amazônia mostra algumas destas variações:
A exemplo da língua portuguesa, que é falada em dez países ao redor do globo, a língua indígena apresenta mudanças decorrente de fatores históricos e culturais. O português que se fala no Brasil não é o mesmo que se fala em Portugal, ou na Angola, ou Timor-Leste, o que não faz com que sejam línguas diferentes, apenas possuem dinâmicas linguísticas distintas. O mesmo acontece na língua inglesa, nos Estados Unidos e na Inglaterra.
As 154 línguas indígenas existentes no território brasileiro são agrupadas em famílias. Algumas delas podem ser formadas por subfamílias, pequenas ou grandes. No estado do Pará, são faladas 34 línguas indígenas. Destas, 18 são tupi; nove são da família Karib; cinco línguas Macro-Jê; uma língua da família Aruak e uma da Warao.
Línguas evoluídas
Em Rondônia existe uma grande variedade de línguas da família tupi, concentradas em um espaço relativamente curto e muito diferentes das que existiam no litoral. A conclusão dos pesquisadores é que a família tupi tenha surgido nos arredores de Rondônia há aproximadamente cinco mil anos e se expandiu para o litoral há cerda de dois mil anos.
O mesmo comparativo pode ser feito em outras famílias, porém é necessário que hajam mais pesquisas. Contudo, esse levantamento deixa claro que não existem línguas “primitivas”. Pelo menos não no sentido de ser simples ou possuir poucos recursos de expressão.
Nós
O kwazá, uma língua isolada de Rondônia falada por apenas algumas dezenas de pessoas, possui um “nós” inclusivo e um “nós” exclusivo. Veja o exemplo:
Original: Ya-‘a-tara-ni
Literal: Comer-nós (inclusivo)-primeiro-vamos!
Adaptado: ‘Bora, vamos (eu e você, com quem estou falando) comer primeiro!
Original: Ya-‘axa-tara-ni
Literal: Comer-nós (exclusivo)-primeiro-vamos!
Adaptado: Por favor, deixe-nos (eu e a pessoa comigo) comer primeiro!
Serialização
Na língua hup, que faz parte de uma pequena família de idiomas do Alto Rio Negro, no Amazonas, ocorre a serialização verbal, que é a capacidade de transformar vários verbos em uma coisa só:
Original: Tiy-his’ap-b’uyd’äh-yë-yí’ay-mah
Literal: Empurrar-quebrar-jogar-entrar-completo-dizem
Adaptado: Ele empurrou-a (uma porta) até que a quebrou, jogou-a de lado e entrou, pelo que dizem
“Eu vi”, “Me disseram”
E assim como na língua portuguesa, existem técnicas de deixar claro que você presenciou um fato ou que alguém contou a você uma informação:
Original: Sama tikelaso ki-pi
Literal: Anta caiu (testemunhado)
Adaptado: (Eu vi que) a anta caiu
Original: Sama tikelaso tha-pi
Literal: Anta caiu (não testemunhado)
Adaptado: (Me disseram que) a anta caiu
Original: Wa sanömo noa
Literal: Você banhar-se (inferência)
Adaptado: (Parece que) você tomou banho