Em busca de alimento, onças pintadas da Amazônia ocupam ilhas fluviais

A dinâmica dos rios na Amazônia forma as ilhas fluviais que, assim como surgem, podem sumir em questão de poucos anos. Preguiças, macacos e outros animais que vivem na copa das árvores são habitantes comuns das ilhas de rio, porém até a onça-pintada, o maior felino das Américas, é visto em pequenos pedaços de terra como esses. Um estudo recente, feito por um pesquisador associado do Instituto Mamirauá, indica que a oferta de alimentos pode determinar a presença de onças em ilhas fluviais na Amazônia Central.

Predadoras de topo de cadeia, as onças-pintadas são animais flexíveis. Esses felinos terrestres conseguem se adaptar bem a ambientes alagáveis, como é o caso das florestas amazônicas de várzea. Na temporada de cheia dos rios, as onças percorrem, a nado, lagos e rios da região e chegam a viver durante meses em copas de árvores, comportamento monitorado e registrado pela primeira vez por uma equipe científica do Instituto Mamirauá. 

Foto: Divulgação/Instituto Mamirauá

A mais nova pesquisa associada ao instituto investigou os motivos que levam onças-pintadas a se deslocar pelos corpos d’água e entre diversos habitats da floresta. Foi avaliado se a ocorrência de onças-pintadas em áreas isoladas pela água, como as ilhas, é diferente de áreas florestais contínuas e como a abundância de presas influencia a frequência de onças nesses lugares.

Para isso, o ecólogo Rafael Rabelo, que assina o estudo, fez um levantamento de duas espécies predadas por onças (o macaco guariba – Alouatta juara e a preguiça comum – Bradypus variegatus) em 24 locais na Reserva Mamirauá, dentre eles 15 ilhas fluviais e 9 áreas de floresta contínua.

“A amostragem foi feita por meio de registros de avistamentos e vestígios, tais como pegadas e fezes, ao longo de trilhas, e foi repetida quatro vezes em todos os sítios para obter o histórico de detecção da onça-pintada”, explica o pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) e associado do Instituto Mamirauá. Com base nos dados coletados, Rafael calculou as probabilidades de detecção e ocorrência de onças-pintadas em cada local.

Foto: Divulgação/Instituto Mamirauá

“Descobri que a probabilidade de um local ser utilizado pela onça é de 75%, tanto nas ilhas, quanto na floresta contínua. Ou seja, a chance de encontrar um vestígio de onça em uma ilha é a mesma que na floresta contínua”, afirma Rafael. De acordo com o pesquisador, esses resultados analíticos sugerem que a água que circunda as ilhas fluviais não afeta os padrões de uso do espaço e o movimento de onças-pintadas na paisagem.

“Além disso, encontrei que quanto maior a abundância das presas em um determinado local, maior será a chance de uma onça estar presente nesse local”, ressalta. De acordo com o pesquisador, esse resultado indica que a busca por recursos alimentares pode ser o fator motivacional para as onças usarem as ilhas. 

Foto: Divulgação/Instituto Mamirauá

Preguiças podem ser as presas preferidas 

Os números do estudo também indicam que as duas espécies de presas influenciaram na probabilidade de ocorrência da onça com a mesma intensidade, mesmo que a abundância das preguiças tenha sido menor. “Ainda que a abundância de preguiças seja menor que a de guaribas, ambas espécies tiveram o mesmo efeito na probabilidade de ocorrência das onças, o que pode estar associado a uma preferência da onça-pintada por essa espécie de presa”, afirma.

Foto: Divulgação/Instituto Mamirauá

Estudo em destaque em simpósio de conservação na Amazônia

A pesquisa, chamada “Abundância de presas determina o uso de ilhas fluviais por onça-pintada (Panthera onca) na Amazônia Central”, será apresentada durante os próximos dias 3 a 6 de julho em evento especializado do Instituto Mamirauá. O Simpósio sobre Conservação e Manejo Participativo na Amazônia (Simcon) chega à 15ª edição no município de Tefé, Amazonas, com apresentações e oficinas que dão foco a iniciativas de pesquisa e extensão para a conservação do meio ambiente e desenvolvimento sustentável da região. 

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