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Terça, 23 Abril 2024

Com ninhos nunca vistos, ave rara e exclusiva da Amazônia está ameaçada de extinção

Choca-de-garganta-preta macho. Foto: Carlos Alexandre
Com apenas 17 centímetros e 31 gramas, o choca-de-garganta-preta carrega uma importante mensagem: a preservação da Amazônia é essencial para a manutenção da biodiversidade do mundo. Isso porque essa ave específica é exclusiva da região amazônica e está em alto risco de extinção antes mesmo que detalhes do seu comportamento tenham sido descobertos.

Os registros do animal são raros e os estudos sobre ele são escassos. Até hoje, por exemplo, não se sabe como são seus ninhos porque nenhum deles foi encontrado. Também não existem informações quanto aos seus hábitos e métodos de reprodução.

"Proteger a Amazônia é o ponto chave, na minha opinião. Sem isso a gente acaba perdendo diversas espécies que a gente nem mesmo conseguiu entender completamente como elas vivem, o que elas fazem. Com o desmatamento avançando tão rápido, a gente pode acabar perdendo espécies que a gente nem chegou a descobrir ainda".

A fala é de Wellington Nascimento, biólogo e guia de observação de aves. Ele e outros cientistas e amantes de pássaros fizeram um registro raro de um choca-de-garganta-preta em Porto Velho, durante um evento mundial de observação de pássaros realizado no último fim de semana. "Foi a primeira vez que vi a espécie em campo. Já tinha ido outras vezes observar ela. sem sucesso. Foi uma experiência incrível", relembra.

A choca-de-garganta-preta é exclusivamente pertencente à região amazônica. Inclusive, seu nome em inglês é 'Rondônia bushbird'. Sua área de distribuição de estende no interflúvio do rio Madeira e Tapajós. Segundo Wellington, em Rondônia a ave já foi encontrada em Ji-Paraná (RO) e Machadinho do Oeste (RO). O registro feito em Porto Velho, no último fim de semana, é raro.

"O autor que descreveu ela diz que ela pode estar ameaçada de extinção por conta do desmatamento e pelo fato dela ocorrer numa área muito específica. Isso é muito perigoso para um espécie que, um exemplo, só vive numa floresta 'X'. Se desmatarem aquela floresta, essa espécie deixa de existir", comentou o biólogo.

Raro e único 

O nome do choca-de-garganta-preta foi dado a ele por conta da coloração da fêmea: castanho-amarronzado com a garganta de cor preta. Já macho da espécie é completamente preto.

O bico do pássaro é adaptado para furar bambus e se alimentar de formigas que vivem dentro dos bambuzais. No entanto, o biólogo Wellington Nascimento ressalta que mais informações sobre a alimentação e moradia da ave também são pouco conhecidas.

"Quando a gente vai a campo e encontra esses bambuzais em que ela vive, todos eles são recortadinhos com um espacinho que provavelmente ela recortou para se alimentar. Até hoje não existe registros de ninhos e é o que a gente tenta estudar, com todo cuidado, tenta observar dentro do ambiente que ela vive",

aponta.
O canto da espécie é uma sequência de assovios. Wellington descreve como "calmo, tranquilo, que pode até passar despercebido para algumas pessoas". A ave ocupa a categoria de vulnerável na categoria de avaliação quanto à proteção. Isso significa que ela enfrenta um risco alto de extinção na natureza.

O primeiro encontro

O registro do choca-de-garganta-preta em Porto Velho foi feito durante o "Big Day", evento mundial de observação de pássaros.

"A gente teve a ideia: vamos lá no local ver se a gente consegue observar, porque o Raul [outro biólogo] já tinha escutado a espécie no local, mas a gente não conseguia fazer o registro fotográfico nem vídeo. Então a gente ficou: 'poxa, será que não é coisa da cabeça?'. É uma coisa tão rara que a gente acaba até duvidando de si mesmo", relembra Wellington.

No local, os biólogos colocaram uma caixa de som tocando o canto do pássaro, a fim de que ele respondesse para demarcar território. E não precisaram esperar muito: "Logo ela começou a cantar, a gente ficou em silêncio, esperamos um pouquinho e logo a gente conseguiu observar ela pulando entre um bambu e outro e a gente conseguiu fotografar e filmar".


*Por Jaíne Quele Cruz, do g1 Rondônia

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