São mais de 250 espécies de peixes-elétricos e o poraquê é uma das que produz as descargas elétricas mais fortes, chegando a 860 volts. Em 2020, foram descobertas mais duas espécies de poraquês.
Você já deve ter ouvido falar em um peixe amazônico que “dá choque” em quem o toca. Apesar de por si só não ser o suficiente para levar uma pessoa à óbito, instiga a atenção de curiosos.
O “famoso” peixe é uma das espécies conhecida como poraquê, natural de água doce. A única espécie conhecida pela ciência até ano passado, era a Electrophorus electricus (E.eletricus) descrita pelo naturalista sueco Carl Linnaeus em 1766.
Em setembro de 2020, um estudo publicado na revista Nature Communications por pesquisadores que receberam incentivos da Fafesp, Smithsonian e National Geographic Society revelou que existem ao menos três espécies descritas como poraquês.
O Portal Amazônia reuniu algumas curiosidades sobre os poraquês, confira a seguir:
O poraquê pode ser encontrado em toda a América do Sul, com incidência maior na região da bacia amazônica, e chega medir 2,5 metros de comprimento. As outras duas espécies descritas são a E. voltai e E. varii.
Voltagem quatro vezes maior que a de uma tomada
Os poraquês utilizam-se de descargas elétricas para caçar e se proteger de predadores. Antes da descoberta das duas novas espécies, a voltagem máxima registrada era de 640 volts. Agora, a descarga mais forte encontrada foi de 860 volts. Ou seja, a tensão elétrica da espécie E. voltai chega a ser quatro vezes maior que a de uma tomada.
O doutor em biologia de água doce e pesca interior, Douglas Bastos, explica: “Uma das hipóteses é que a espécie com a descarga mais forte (Electrophorus voltai), pode ter mais células elétricas e, por isso, tem a capacidade de armazenar e disparar descargas mais potentes. Novos estudos serão feitos para entender quais são os mecanismos das descargas elétricas e, quem sabe, elucidar questões evolutivas”.
Os poraquês possuem “órgãos elétricos”, que são o órgão principal, órgão de Hunter e órgão de Sachs. Em cada um há células eletrólitos, responsável pela eletricidade natural do animal.
Mas não se preocupe! Diferentemente da tomada, que produz uma tensão constante, o E. voltai dá uma descarga alternada, com cerca de 1 a 3 amperes, o que não é perigoso para humanos. Uma tomada comercial, pelo contrário, possui cerca de 220 volts e a tensão pode ser de 10 à 20 amperes, o que ocasiona em um choque maior.
Mudança de comportamento
Natural de água doce, o comportamento das espécies varia de acordo com o local:
Uma das espécies (E. varii) ocupa a região baixa da Amazônia , preferindo os rios, lagos e igarapés com um fraco fluxo de água. Nesses ambientes, os poraquês são vistos caçando solitariamente e consumindo presas que estão associadas ao fundo/substrato do rio, como os tamuatás e acarás.
Douglas Bastos, doutor em biologia de água doce e pesquisador no Inpa.
Em relação às outras duas espécies, o pesquisador afirma que elas habitam regiões mais altas da Amazônia, onde há um forte fluxo de água, como cachoeiras e corredeiras.
Nesses ambientes há muitas piabas (pequenos peixes de escama), o que pode ter favorecido a caça em grupo, para cercar essa presa em abundância, por exemplo.
Douglas Bastos
Homenagem
Os nomes científicos para as novas espécies foram atribuídos em homenagem a pesquisadores. E. voltai foi devido ao físico italiano Alessandro Volta, que se inspirou nos poraquês para inventar a primeira bateria elétrica, em 1799. Além disso, Alessandro foi o descobridor do metano.
Já a espécie E. varii foi em homenagem a Richard Vari, pesquisador estrangeiro falecido em 2016 que incentivava outros pesquisadores para o estudo de peixes do continente sul-americano.
Tratamento para Alzheimer?
De acordo com a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), há diversas pesquisas em andamento realizadas com o poraquê, desde estudos que envolvam eletricidade até a produção de remédios.
Algumas destas pesquisas realizam a análise de enzimas produzidas nos órgãos elétricos do peixe e avaliam a aplicabilidade como componentes para a produção de medicamentos que tratam de doenças neurodegenerativas, como o Alzheimer.