Pelo modelo, este ano haverá uma cheia que potencialmente causará problemas na cidade de Manaus e nas zonas rurais da região. De acordo com o pesquisador, o modelo de previsão é uma ferramenta importante para se fazer previsões e evitar possíveis desastres com antecedência de três meses do pico da cheia, normalmente ocorrendo no mês de junho na região da Amazônia Central.
O pesquisador explica também que a nova modelagem de previsão de cheias utiliza uma série temporal longa de dados disponíveis a partir de 1951 até 1990, que foram utilizados para fazer a calibração do modelo, além de dados de 1991 até os dias de hoje para fazer a validação e testar se o modelo é capaz de prever cheias com antecedência de mais de três meses.
“Este fenômeno é acentuado em anos de El Niño, caracterizado pelo aquecimento das águas superficiais do Pacífico Equatorial na região central-leste. Este ano, as anomalias de temperaturas das águas superficiais indicam a evolução de um El Niño fraco que geralmente afeta as cabeceiras das regiões do norte, central e leste da Bacia Amazônica”, explica Schöngart.
O pesquisador lembra que no Porto de Manaus há um registro excepcional de medições do nível da água que começaram em setembro de 1902. Trata-se de uma série histórica longa que abrange mais de 116 anos. Depois de uma série de cheias extremas, o modelo prevê novamente uma cheia acentuada acima da média das enchentes históricas.
Segundo Schöngart, tem-se observado nos últimos 30 anos a tendência de aumento de cheias que resultaram nas duas maiores cheias no registro de 2009 (29,77 metros) e 2012 (29,97 metros). Com as cheias nos anos subsequentes de 2013 (29,50 metros), 2014 (29,33 metros), 2015 (29,66 metros) e 2017 (29,00 metros) a região passou por seis cheias extremas durante os últimos dez anos. No período antes da década de 1970 somente nos anos de 1953, 1922 e 1909 foram registradas cheias severas passando o nível crítico de 29 metros. “Este aumento da frequência e magnitude de eventos extremos das cheias é resultado de uma intensificação das Células de Walker”, explica o pesquisador Schongart.
Devido ao forte aquecimento do Oceano Atlântico e ao resfriamento do Pacífico no mesmo período a convecção e precipitação intensificou na Amazônia, principalmente nas regiões central e norte da bacia. O Pacífico mudou recentemente de uma fase fria para uma fase quente, porém a tendência de aquecimento do Atlântico tropical deverá continuar nos próximos anos.
A hidrologia da Amazônia é complexa pelas dimensões da maior hidrobacia do mundo com quase 20% da descarga de água doce para os oceanos. Os três grandes oceanos influenciam a convecção e precipitação na Amazônia pala variação ano por ano da temperatura nas superfícies, mas também pelas oscilações de baixa frequência ao longo de décadas.