Ativista luta pela educação dos povos indígenas no Amazonas

André Baniwa é o novo diretor do Departamento de Territórios na Secretaria de Direitos Ambientais, a convite da Ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara.

Foto: Divulgação/ Foirn

Um dos principais nomes da luta pelos direitos indígenas, André Fernando Baniwa nasceu na comunidade de Tucumã-rupitã, localizada no Alto Içana, no Amazonas. Ele morou na comunidade de Ipadu Ponta, próximo à cidade de São Gabriel da Cachoeira, onde permaneceu até meados da década de 1980, quando a comunidade se desfez.

André é professor, escritor, empreendedor social (Educação: Escola Baniwa Pamáali, Economia: Baniwa, Arte Baniwa, Pimenta Baniwa, e Patrimônio Cultural), ativista indígena e umas das lideranças do povo Baniwa desde 1992. Também é vice-presidente da Organização Indígena da Bacia do Içana (OIBI), uma das 90 associações de base ligada à Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (FOIRN), principal estrutura de organização, que abrange 750 aldeias, de 23 povos indígenas, distribuídas na calha do Rio Negro e de alguns de seus afluentes. 

Em quase 30 anos de atividade, já foi assessor da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) e auxiliar técnico de desenvolvimento e pesquisa socioambiental no Instituto Socioambiental (ISA).

“Tudo começou pela influência do meu pai. Eu via a angústia do meu pai muito forte. Por quê isso ou por quê aquilo, e ninguém explicava para ele. Isso tem sido minha motivação, eu ficava com pena do meu pai não poder entender e de alguma forma busquei estudar um pouco a sociedade brasileira para explicar ao meu pai como as coisas acontecem”,

conta o ativista ao Portal Amazônia.

Trajetória

Em 1987, a criação da Organização das Nações Indígenas do Rio Negro foi um marco importante para André: “eu vi mais uma vez o meu povo reafirmando a necessidade da formação escolar que aconteceu em 1984. Os Baniwa não sabiam falar português, não tinham escolaridade, quase zero. Alguns sabiam ler, mas, na maioria das vezes, não sabiam se expressar bem e o povo Baniwa nessa história tinha apontado a necessidade de aprender”.

André estudou na Escola Agrícola Rainha dos Apóstolos, em Manaus, e, ao retornar para Tucumã, passou a ser professor na comunidade, como funcionário da prefeitura.

“Quando voltei para a minha comunidade, já estavam organizando uma assembleia para criar a Organização Indígena da Bacia do Içana em 1992. Foi apenas no mês de julho que entrei no movimento formalmente. Já vinha acompanhando o processo e via durante os estudos na escola muitas informações negativas sobre os povos indígenas nos livros de História e Geografia. Nunca concordei com a forma que os livros estavam contando sobre nós, eu achava muito errado e me levava a fazer uma redação ‘detonando’ isso”, conta André.

Foto: Reprodução / Redes Sociais

Por conta da sua revolta, André Baniwa afirma que percebia que os professores não davam visibilidade ao seu trabalho escolar. Entretanto, na escola, ele desenvolveu um processo de visão crítica sobre a condução educacional dos povos indígenas. Nos anos de 1996 a 1999, o professor organizou  encontros anuais sobre a educação Baniwa e, por conta disso, criou uma parceria com a Universidade do Estado do Amazonas (UEA).

Assim, apesar da ausência de professores que falassem a língua indígena, a partir da unificação, foi possível especializar novos professores para que pudessem ensinar e gerar oportunidade para os indígenas.

No ano 2000, em conjunto com uma mobilização coletiva, foi fundada a Escola Baniwa e Coripaco Pamáali, na Terra Indígena Alto Rio Negro, em São Gabriel da Cachoeira. A escola contava com professores formados no magistério indígena, deixando a educação a ser guiada pelos próprios Baniwa, que até então, era ensinada por missionários católicos desde 1657.

“Construímos ela coletivamente e ganhamos apoio de estudantes noruegueses e depois do Instituto Socioambiental (ISA), das Organizações Indígenas do Rio Negro, e conseguimos compor no Programa Rio Negro de Educação Escolar Indígena, coordenado pela Foirn junto com o ISA. Isso foi muito importante para o processo de formação de professores para garantir a implantação correta do que tínhamos definido coletivamente como Baniwa e Coripacos e também como indígenas e cidadãos brasileiros, com a interculturalidade do conhecimento”, defende.

Representatividade

Quatro anos após a criação da Organização Indígena da Bacia do Içana, André Baniwa se tornou o presidente da organização aos 25 anos. Assumindo o cargo, ele mobilizou e uniu as comunidades reivindicando a educação escolar indígena, além da geração de renda, valorização cultural e a medicina tradicional.

Nesta última área reforçou a importância da medicina dos Baniwa e Coripaco em um projeto apoiado pela França, pela faculdade de medicina da Universidade Federal do Amazonas (UFAM) e ainda pela Foirn e outras instituições. O projeto foi voltado para a formação de agentes de saúde indígenas, para suprir a ausência na região. “O projeto mobilizou muita gente, identificamos muitas plantas domesticadas na roça, assim como na floresta. Fizemos vários trabalhos, além de uma publicação sobre as doenças e os cuidados no povo Baniwa”, comenta.

Foto: Carol Quintanilha/ISA.

Já na questão de geração de renda, a produção de cestaria de arumã ganhou repercussão a partir da visibilidade incentivada por André, com apoio do ISA e da Foirn, para aprender e participar de feiras nacionais, eventos de produtores em São Paulo. Foi assim que surgiu o projeto ‘Arte Baniwa’, com várias oficinas desenvolvidas em conjunto com artesão e considerada a primeira grife indígena do país.

Incentivo

Além de professor, André Baniwa é autor de livros que apontam reflexões sobre o modo de vida indígena. Suas obras são: 

’25 anos de Gestão de Associativismo da OIBI para o bem-viver Baniwa e Koripako’, de 2018;

‘Bem-Viver e Viver Bem do povo Baniwa no noroeste da Amazônia Brasileira’, de 2019.

Foto: Reprodução / Redes Sociais

Diretor do Departamento de Territórios na Secretaria de Direitos Ambientais

Em março de 2023, a convite da Ministra dos Povos Indígenas, Sônia Guajajara, André Baniwa assume o cargo de diretor do departamento de demarcação territorial. O órgão está ligado à Secretaria de Direitos Ambientais e Territoriais do Ministério dos Povos Indígenas. A decisão foi publicada pela Casa Civil da Presidência da República, no diário oficial da União no dia 31 de março.

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