Candidaturas Coletivas: Conheça a ‘Bancada das Manas’

Continuando a nossa série de entrevistas sobre Candidaturas Coletivas, confira o bate-papo que a nossa equipe teve com Michelle Andrews e Marklize Siqueira, ativistas políticas e integrantes da ‘Bancada das Manas’.

Manaus (AM) – O tema candidatura coletiva é bastante amplo, não é mesmo? Na entrevista passada entendemos um pouco sobre o conceito e características desse tipo de sistema de representação participativa, e agora teremos a oportunidade de conhecer um outro ponto de vista: O de quem participou ativamente da construção de uma candidatura coletiva pautada na participação política feminina no Amazonas.

Nesta segunda entrevista, conversaremos com duas das cinco representantes da ‘Bancada das Manas’ (Coletivo que defende o protagonismo das mulheres, defesa dos direitos humanos, cultura, diversidade, educação, direito das mães e crianças, além da sustentabilidade, comunidade e povos ribeirinhos) a produtora cultural e estudante do curso de direito Michelle Andrews (PCdoB) e a assistente social, ecosocialista e feminista Marklize Siqueira (PCdoB). 

Amazônia Que eu Quero (AMQQ): Michele, porque você optou por uma candidatura coletiva?

Michelle Andrews– Optei por uma candidatura coletiva devido à minha formação política no movimento hip-hop e minha participação ativa em coletivos culturais. Esses princípios coletivos e engajamento nos movimentos sociais me levaram a buscar uma abordagem mais participativa na política, e uma candidatura coletiva foi a forma que melhor se alinhou com meu desejo de exercer a política.

Michele Andrews também dividiu conosco os tipos de feedback que recebeu ao longo das suas candidaturas:

Michelle Andrews– As opiniões sobre minha candidatura nesse formato são diversas. No entanto, valorizo profundamente a proposta participativa que ela oferece e acredito que é através da inclusão e do envolvimento de diversos indivíduos que podemos construir uma política mais representativa e efetiva.

Amazônia Que eu Quero (AMQQ): E para finalizar, Michele, fazendo agora um pequeno recorte (de gênero e de raça) seguindo ainda a mesma perspectiva de candidatura coletiva, mas, falando agora especificamente sobre política e participação feminina, como você avalia a participação das mulheres na política aqui no Amazonas? O que você acha que ainda pode ser melhorado?

Michelle Andrews– A participação feminina na política no Amazonas tem mostrado avanços, mas ainda falta a implementação de iniciativas contínuas dentro dos partidos para garantir que as mulheres possam competir em igualdade de condições. Especialmente as mulheres financeiramente mais vulneráveis, muitas delas sendo negras, por exemplo, enfrentam barreiras adicionais. Precisamos de ações concretas para promover a equidade de gênero e de raça na política, assegurando que todas as mulheres tenham espaço e oportunidades justas para exercerem seu poder político.

Marklize Siqueira é Assistente Social, Ecossocialista e Feminista e também compõe a ‘Bancada das Manas’ (PcdoB), ela nos conta sobre o motivo de optar por uma candidatura coletiva, um balanço da sua última participação, no ano de 2022, e qual a Amazônia que ela deseja para o futuro. Confira:

“A escolha por uma candidatura coletiva nasceu na verdade em 2019 e desde então começamos a pesquisar, participamos de um encontro conhecido como Ocupe a Política em Recife/Br que foi esclarecedor. Existem vários motivos que me levaram a participar deste formato. Um deles é a questão de não estar só na política. A política é um espaço muito hostil para as mulheres no Brasil. Eu não me sentia preparada e com condições de disputar sozinha uma eleição. Outro motivo é a possibilidade de unir capitais políticos e conseguir um número expressivo de votos, outro é ter mais pessoas cobrando o financiamento de campanhas de mulheres.

Os partidos por sua estrutura machista e patriarcal fragilizam no geral candidaturas de mulheres, usando apenas para cumprir cotas. Inclusive, chegamos a ouvir que nossa candidatura não era diferente de nenhuma outra e não tinha porque ter mais investimento do partido. É por isso que afirmo que a política partidária é um espaço muito hostil para as mulheres. Portanto, ou você vai em coletivo ou você desiste antes de começar, sobretudo, quando você é uma mulher da classe popular. ” Afirma Marklize Siqueira.

Amazônia Que eu Quero (AMQQ): Qual o balanço que você faz sobre a experiência de concorrer via Bancada das Manas nas últimas eleições a uma vaga na Assembleia do Estado (qual tipo de feedback você recebeu da população e qual o trabalho de educação política vocês tiveram o cuidado de desenvolver para que a comunicação fosse mais eficaz)

Marklize Siqueira– Foi a minha primeira candidatura ao legislativo e é uma experiência completamente diferente da disputa pelo executivo. Posso dizer que foi um exercício de construir a boa política. Não é fácil! A classe política do nosso Estado acostumou o povo a vender seu voto por dinheiro ou algum bem material: cesta básica, óculos, areia, cimento, tijolo, enfim o que for possível pedir. A eleição vira um verdadeiro mercado a céu aberto. Por isso, as campanhas milionárias acabam se beneficiando desse mercado e quem recebeu dinheiro do dito orçamento secreto teve mais condições ainda de “comprar” esses votos.

A classe política se aproveita da situação de pobreza, da necessidade do povo para conseguir o voto. Isso é muito marcante nas ruas e nas visitas nos bairros e comunidades. É difícil conversar com as pessoas sobre qual é realmente o papel de Deputado Estadual, qual seu dever e competências no Estado Democrático.

Diante disso, eu tenho muito orgulho dos votos que tivemos, pois foram votos conquistados falando de um projeto de ocupação política, falando de propostas, realizando fóruns e debates para a construção de propostas junto com as pessoas, movimentos e entidades. Foi um voto da boa política, da política que eu acredito para um mundo mais justo e melhor.

Amazônia Que eu Quero (AMQQ):Por que você considera importante que este modelo de candidatura se torne cada vez mais presente aqui no Amazonas?

Marklize Siqueira– Por que é uma das formas de pessoas do meio popular conseguirem assumir espaços de poder. É uma tecnologia na qual podemos compartilhar as responsabilidades, os recursos, as preocupações de uma campanha eleitoral. Mas principalmente porque é possível atender mais demandas sociais existentes na sociedade. Eu espero que a legislação avance no reconhecimento desse modelo de candidatura no país.

Amazônia Que eu Quero (AMQQ): Qual a Amazônia que você quer para o futuro?

Marklize Siqueira– Uma Amazônia que seja a expressão da diversidade de seus povos e sua gente. Uma Amazônia que tenha um modelo de desenvolvimento que considere sua riqueza ecológica. É urgente discutir uma política de preservação dos territórios da Amazônia e conectar a Amazônia com o restante do Brasil. Talvez sejamos uma das últimas gerações a ver a Amazônia de pé. Isso é muito grave.

É inadmissível a classe política defender garimpo artesanal, não ter uma atenção para a gravidade das mudanças climáticas, continuar fechada no modelo de desenvolvimento verticalizado na Zona Franca. É preciso ter olhar no futuro, mas com os pés no chão da Amazônia e suas potencialidades.

Amazônia Que eu Quero (AMQQ): Muito obrigada pela entrevista, Michelle e Marklize!! Em nome de toda equipe do Amazônia Que eu Quero.

Michelle Andrews: Eu é quem agradeço! Muito obrigada pelo convite e pelo espaço. Até a próxima!

Marklize Siqueira: Muito obrigada! Vida longa ao projeto! Até a próxima!

E você, gostaria de participar de uma candidatura ou mandato coletivo? Conta pra gente nos comentários! Até a próxima.

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