Localizada na Zona Sul de Manaus, a região faz parte da história do bairro Educandos. Nome ficou conhecido como expressão popular.
Ser da Região Norte é saber que existem uma infinidade de expressões e gírias únicas. Uma única expressão pode, inclusive, ser usada em momentos diferentes, seja para expressar sentimentos ou situações. Talvez o termo “fica na baixa da égua” seja um desses que todo amazonense “já nasce sabendo” o que significa: um lugar longe… longe… muito longe.
Mas você sabia que a Baixa da Égua realmente existiu?
Localizada na Zona Sul de Manaus (AM), a chamada “Baixa da Égua” nada mais era do que uma área do bairro Educandos, especificamente na Avenida Rio Negro.
A história começa com a formação do bairro Constantinópolis, iniciada em 1856. Na época, foi construída a instituição de ensino dos Educandos Artífices, primeira escola técnica do Amazonas direcionada ao ensino das artes, dando início à formação do bairro. Com a construção do edifício dos Educandos Artífices, o bairro começou a se desenvolver, sendo batizado de Constantinópolis em 1907, mas popularmente já conhecido como Educandos. O bairro surgiu devido a necessidade de expansão da cidade em direção ao sul, principalmente com a chegada de migrantes vindos do Nordeste para Manaus
Com a necessidade da cidade de mão de obra para trabalhar na extração da borracha, além do aprimoramento da própria cidade, no fim do século XIX e início do XX, a classe trabalhadora ainda possuía uma mão de obra majoritariamente indígena, que não era suficiente e satisfatória para o projeto de modernização da “capital da borracha”. Para formar uma classe de trabalhadores, o governo buscou incentivar a migração para o Amazonas, tornando-a mais atrativa.
“Em 1877, quando violentas secas assolavam o sertão nordestino, principalmente o Ceará, obrigando seus habitantes a se refugiarem em outras regiões que oferecessem melhores condições de sobrevivência, intensificou-se uma corrente migratória em direção à Amazônia, onde governos e latifundiários acenavam, prometendo grandes melhorias nas condições de vida daqueles que para ela se dirigissem. Os nordestinos eram atraídos por promessas de trabalho e enriquecimento fácil, mas na realidade, muitas vezes, se tornavam escravos de um sistema rudimentar de trabalho, em que eram explorados pelos ‘coronéis de barranco’ – donos de seringais que manipulavam as leis e reforçavam o seu domínio”.
Trecho do livro ‘Manaus, história e arquitetura: 1669 -1915’, de Otoni Mesquita.
O período Áureo da Borracha proporcionou muitas transformações no espaço urbano de Manaus, como nos costumes e culturas da população. Porém, já nos primeiros anos do século XX, começava a demonstrar a redução das rendas do Estado pela desvalorização da borracha que era produzida no Amazonas no mercado internacional.
Em 1870, algumas sementes de seringueiras foram levadas para o Jardim Botânico de Kew, sendo posteriormente levadas e plantadas no Ceilão e em Singapura. Por desenvolver uma produção mais racional, de melhor qualidade, o oriente passa a ser o maior produtor de goma elástica, o que causa a crise econômica na Amazônia durante as primeiras décadas do século XX. A crise provocou o fechamento de diversas fábricas pela desestabilização de vários setores da indústria.
Com a crise, muitas pessoas acabaram ficando desempregadas, além do fluxo de grupo de migrantes chegando na cidade, o que acabou causando mais problemas de falta de habitação, aumentando casas de palafitas e flutuantes em áreas não regulamentadas, surgindo a ‘Cidade Flutuante’, que foi erguida em 1920 e existiu até 1965.
O Educandos seguia sendo um povoado pequeno, tendo suas primeiras ruas oficialmente abertas somente em 1901. A colina do Alto da Bela Vista, como era conhecida, só contava com o edifício dos Educandos Artífices, a Vila Neuza e Vila Peres, ambas construídas em 1891, como também três edificações da mesma tipologia arquitetônica. Anos depois, em 1906, foram construídos mais dois chalés e a Vila Cavalcante, em 1912.
Assim como os outros bairros suburbanos na época, o Educandos não contava com coleta de lixo ou outros serviços de limpeza pública. Era capinado e varrido apenas uma vez ao ano, o que deixava a responsabilidade dos habitantes de cuidarem de seus terrenos. Longe da agitação do Centro da cidade, a colina era um lugar tranquilo, no Alto da Bela Vista, com seis ruas e só podia ser acessada através de catraias que eram atracadas no porto que ficava no início da rua Delcídio Amaral, via Lima Bacury e início da Manoel Urbano, via dos Andradas.
Foi a partir de 1920 que o bairro começou a ter avanços e desenvolvimento do bairro, com a construção de pontes que ligaria Constantinópolis ao bairro Cachoeirinha, além do aumento populacional da área.
A Baixa da Égua e seus problemas
Apesar do grande desenvolvimento do bairro Educandos, a área conhecida como “Baixa da Égua” sofria com problemas de infraestrutura. O bairro sofria com problemas de saneamento, pobreza e marginalização devido a falta de investimento.
Em uma imagem de 1968 é possível ver a chamada ‘Praia da Ponta Branca’, onde os aviões aquatizavam da área da Panair. Infelizmente a praia atualmente está extinta.
A área ficava próximo a um barranco, onde havia constantes desabamentos. Dois anos depois, no ano de 1970, o barranco da Baixa da Égua acabou desabando, causando a morte de uma pessoa.
Um ano depois, em 1971, o lado esquerdo da Avenida desabou, vitimando algumas pessoas e deixando vários feridos. Após o incidente, o Governo amazonense resolveu desapropriar uma parte da via, construindo uma orla, popularmente conhecida como Orla do Amarelinho.
Referências
MESQUITA, Otoni. Manaus história e arquitetura: 1669 – 1915. Manaus: Valer, 2019