Pesquisa investiga história e território de comunidade ribeirinha de Maués, no Amazonas

O autor da pesquisa, Messias Barbosa Ramos, reside na localidade de Maués chamada de Santo Antônio do Rio Morais

As comunidades ribeirinhas são caracterizadas por povos que habitam as margens dos rios, igarapés, igapós e lagos da Floresta Amazônica. Seus modos de vida estão totalmente ligados ao fluxo das águas adaptando-se aos períodos de seca e cheia dos rios.

Cada comunidade – relativamente isolada – pode ter seus próprios costumes, rituais e uma história característica. Nesse sentido, a  pesquisa intitulada “A comunidade ribeirinha Santo Antônio do Rio Morais/Amazônia: história e território” surgiu com o objetivo de entender a comunidade localizada em Maués, distante mais de 902 km de Manaus, capital amazonense.

Além disso, compreender a formação da Comunidade Santo Antônio do Rio Morais e suas mudanças ao longo da história, desde sua fundação pela igreja católica em 1978 até 2021, considerando suas origens e a relação de seus moradores com o ambiente. Confira como o estudo:

Comunidade ribeirinha Santo Antônio do Rio Morais – Foto: Rudá Marques/Acervo.

A comunidade 

A Comunidade Santo Antônio do Rio Morais conta com 56 famílias, totalizando 380 moradores. Uma das motivações do autor do mestrado, Messias Barbosa Ramos, que possui origem ribeirinha foi através do interesse do autor em pesquisar a “ribeirinhidade”. 

“Outro motivo para pesquisar este tema consiste em que no Médio Amazonas, as comunidades estão incrustadas nas beiras dos rios, paranás e lagos são comuns, o que permite a produção de sociedades tradicionais que se mantêm ao longo do tempo reproduzindo um modo de vida particular”

conta Ramos.

De acordo com os documentos encontrados junto à comunidade e a Paróquia de Maués a área era destinada inicialmente a igreja conforme escritura pública registrada na Comarca de Maués em setembro de 1964, de acordo com a Lei de Terras nº 112 de 1958. Os padres Silvio Miotto e João Andena, tinham a responsabilidade de atender aos moradores com os sacramentos e visitas periódicas a localidade. 

Em 1978, foi fundada a Comunidade Santo Antônio do Rio Morais pelos padres Leão Martinelli e João Andena. Conforme depoimentos e anotações de diário de campo é constituída por 56 famílias com 380 moradores atualmente. 

Na comunidade, além da capela construída em homenagem a Santo Antônio, também há a Escola Municipal Manoel Cabral de Morais, cujo nome é em homenagem ao fundador da comunidade, o campo de futebol .

A estrutura de saneamento ocorreu a partir dos anos 1980 quando foi estendido o cabeamento de energia elétrica a partir da Embrapa.

A comunidade ribeirinha de Santo Antônio do Rio Morais, com suas quatro décadas de fundação, tem todas as características de comunidade tradicional. Entre os muitos elementos formadores e identificadores e destaca-se o componente religioso que se faz presente em todos os momentos da vida comunitária na região.

Foto: Ellen Ester/Reprodução

Como o estudo foi feito? 

A revisão bibliográfica, a pesquisa documental e pesquisa de campo com a aplicação de entrevistas, a realização de história oral e diário de campo foram as ferramentas empregadas por Ramos para atender aos objetivos do estudo. 

Quais foram os resultados do trabalho? 

Como resultado apontam-se a descrição da história e da formação do território da comunidade, as transformações ocorridas ao longo do tempo, assim como as mudanças na paisagem, a cultura e as atualizações culturais como dinâmicas sociais importantes para a permanência do ribeirinho em seu ambiente.

O trabalho também discute possibilidades de enfrentamento de desafios futuros com soluções voltadas ao desenvolvimento de tecnologias sociais, a exploração sustentável dos recursos naturais por meio do ecoturismo e a organização social para beneficiar os habitantes.

Foto: Social Brasilis

O estudo inaugura o tema sobre a formação histórica de comunidades ribeirinhas na região do Médio Amazonas e trata de sua territorialidade ao longo do tempo. 

“Assim o tema ganha relevância com o olhar voltado para essas comunidades rurais, que são relegadas ao esquecimento, seja territorial, histórico ou cultural, e para sua importância econômica para os municípios onde estão localizadas”, explica o mestre.

Dentre os destaques a partir daquilo que foi investigado no trabalho, Ramos ressalta os quintais agroecológicos que são cultivados, o conhecimento sobre as plantas medicinais, a organização administrativa da comunidade e o papel da mulher na localidade. 

“Em termos econômicos, é possível afirmar que a produção é extrativista e tecnologicamente atrasada se considerado o modelo de produção capitalista, porém, para essas populações, como se vê no texto da dissertação, o acúmulo financeiro não está entre as maiores preocupações”

indica Ramos.

A pesquisa de Ramos identificou que a comunidade local tem uma forma de organização administrativa para tomada de decisões a partir do consenso para dar respostas às questões que afetam diretamente a localidade. Além disso, o trabalho apontou a preocupação dos ribeirinhos com o avanço das visitas não programadas ao local, levando ao aumento da geração de resíduos e do consumo de álcool – o que também impacta no aumento da violência na comunidade.

Publicidade
Publicidade

Relacionadas:

Mais acessadas:

Pará perde Mestre Laurentino; artista completaria 99 anos em janeiro de 2025

Natural da cidade de Ponta de Pedras, na Ilha do Marajó, ele era conhecido como o roqueiro mais antigo do Brasil.

Leia também

Publicidade