O Portal Amazônia visitou o único bairro indígena do Brasil para conhecer alguns idiomas e selecionou seis dos mais populares para mostrar.
A população indígena no Brasil, segundo dados do Censo Demográfico de 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), é formada por 896 mil pessoas que se consideram ou se declaram indígenas. A maior porcentagem está na Região Norte, com 48,6%. O Estado do Amazonas possui a maior população autodeclarada indígena do País, com 168,7 mil habitantes. Somente na cidade de Manaus, o número chega a 30 mil indígenas, considerado a cidade com a maior população indígena do País.
Dados indicam ainda que, na capital amazonense, há representantes de 19 línguas indígenas em 41 bairros: Munduruku, Tikuna, Mawé, Mura, Desano, Tukano, Baré, Língua geral amazônica (Nhengatu), Piratapuya, Wanano, Apurinã, Tariano, Kaixana, Kokama, Karapãna, Tuyuka, Barasana, Baniwa e Kambeba.
Em comemoração aos 353 anos da capital amazonense, o Portal Amazônia visitou o bairro Parque das Tribos, localizado no Tarumã, onde 16 línguas são faladas por 35 etnias para saber como dizer “Feliz aniversário”, “Parabéns” ou outras formas de parabenizar a cidade em seu aniversário, no dia 24 de outubro.
Tariana
Os Tariana se reconhecem e são reconhecidos entre as etnias do Uaupés como “filhos do sangue do trovão”: bipó diroá masí. De origem Aruak, hoje a imensa maioria dos Tariana fala a língua Tukano e vive no povoado de Iauaretê ou em comunidades próximas, às margens do Uaupés.
Atualmente, a língua Tariana, da família Aruak, é falada apenas por indivíduos pertencentes a sibs de posição hierárquica inferior. Isso está relacionado ao fato de que, uma vez vivendo no Uaupés, os homens da maior parte dos sibs passou a se casar com mulheres Wanano e Tukano, de modo que as crianças nascidas dessas uniões foram se habituando às línguas maternas.
Seguindo a regra da exogamia linguística característica da região, homens Tariana não se casam com mulheres de sua própria etnia. Hoje praticamente todos são falantes do Tukano, que funciona como língua franca no Uaupés. Sua língua original é muito próxima à dos Baniwa, grupo Aruak que ocupa praticamente toda a extensão do rio Içana.
Tukano
A família linguística Tukano Oriental engloba pelo menos 16 línguas, dentre as quais o Tukano propriamente dito é a que possui maior número de falantes. Ela é usada não só pelos Tukano, mas também pelos outros grupos do Uaupés brasileiro e em seus afluentes Tiquié e Papuri.
Assim, o Tukano passou a ser empregado como língua franca, permitindo a comunicação entre povos com línguas paternas bem diferenciadas e, em muitos casos, não compreensíveis entre si.
Em alguns contextos, o Tukano passou a ser mais usado do que as próprias línguas locais. A língua tukano também é dominada pelos Maku, já que precisam dela em suas relações com os índios Tukano.
Já as línguas classificadas como Tukano Ocidentais são faladas por povos que habitam a região fronteiriça entre Colômbia e Equador, como os Siona e os Secoya.
Tikuna
A língua Ticuna é amplamente falada em comunidades presentes em três países: Brasil, Peru e Colômbia. No lado brasileiro, o número de comunidades ascende a um alto número de aldeias (cerca de 100) contidas em diversas áreas localizadas em vários municípios do Amazonas (entre os quais estão Benjamin Constant, Tabatinga, São Paulo de Olivença, Amaturá, Santo Antonio do Içá, Jutaí, Fonte Boa, Tonantins, Beruri). A maior parte das aldeias encontra-se ao longo/nas proximidades do rio Solimões.
Sateré
A língua Sateré-Mawé integra o tronco linguístico Tupi. Segundo o etnógrafo Curt Nimuendaju (1948), ela difere do Guarani-Tupinambá. Os pronomes concordam perfeitamente com a língua Curuaya-Munduruku, e a gramática, ao que tudo indica, é tupi.
O vocabulário mawé contém elementos completamente estranhos ao Tupi, mas não se relaciona a nenhuma outra família linguística. Desde o século XVIII, seu repertório incorporou numerosas palavras da língua geral.
Munduruku
Falada por cerca de 13 mil pessoas, a língua Munduruku vive uma situação vulnerável atualmente, devido a falta de uso. A língua pertence ao tronco linguístico Tupi e forma, junto com a língua Kuruáya, a família linguística Munduruku.
Existem casos em que a língua Munduruku passa por processo de desuso, com domínio quase exclusivo do Português, com crianças e jovens que não falam plenamente o Munduruku, a exemplo das aldeias do Mangue e Praia do Índio, localizadas na periferia da cidade de Itaituba, no Pará, e nas comunidades da Terra Indígena Coatá-Laranjal, no Amazonas.
Os Munduruku estão situados em regiões e territórios diferentes nos Estados do Pará, Amazonas e Mato Grosso. Costumam habitar geralmente regiões de florestas, às margens de rios navegáveis, sendo que as aldeias tradicionais da região de origem ficam nos chamados “campos do Tapajós” , classificados entre as ocorrências de savana no interior da floresta amazônica.
Nheengatu
Conhecida como a língua geral amazônica, o Nheengatu é uma língua indígena pertencente à família tupi-guarani, sendo então derivada do tronco tupi. O nheengatu está presente em toda a região do Rio Negro entre os povos Baniwa, Baré e Warekena, entre outros, principalmente no território do município de São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas, onde, desde 2002 é um dos idiomas oficiais (juntamente de baníwa, tukano e português).
Além disso, é falado também na região do Baixo Amazonas, entre os povos Sateré-Mawé, Maraguá e Mura, e no Baixo Tapajós, no Pará, onde está sendo revitalizado entre os diversos povos da região, como o povo Borari e o povo Tupinambá, também entre os próprios ribeirinhos.
De acordo com a UNESCO, infelizmente esta língua está severamente ameaçada, sendo realizado diversos projetos para revitalizar o idioma.