Luciana Ramos conduziu o debate com participação de, Francy Junior, Michelle Andrews e Carol Amaral.
A invisibilização de mulheres afro-ameríndias e a falta de representatividade nos espaços de poder no Amazonas foram pautas da live ‘Mulheres Negras nos espaços de poder – Espaço Marielle Franco’, que aconteceu nesta terça-feira (21) com transmissão na página Semana Mulheres Negras Manaus.
O debate contou com participação da historiadora e atriz Francy Junior, ativista do Movimento de Mulheres Negras; Michelle Andrews, ativista do movimento de cultura, feminista e negritude e Carol Amaral, advogada e atual presidente da Comissão de Igualdade Racial da OAB/AM.
Luciana Ramos, pós-doutora em Desigualdades Globais e Justiça Social pela Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (FLACSO), fez a mediação do debate.
Sobre a participação de mulheres negras na política, Michelle Andrews pontuou a exclusão imposta na estrutura social do Brasil.
“A luta das mulheres negras é grande, histórica e contínua. Na maioria das vezes, somos tidas como pessoas que não têm capacidade de estar ali. Quando você é uma mulher negra, do Norte do Brasil, você é educada para falar bonito, se comportar bem, não parecer uma “cabocona”. É muito importante hoje estarmos numa live como essa falando sobre espaço de poder”, pontuou a pré-candidata à vereadora.
Os avanços sociais conquistados pelas mulheres, muitas vezes, é visto em uma hegemonia, como se a realidade das diversas mulheres fossem iguais. “Temos muitas mulheres advogadas em espaços de poder na OAB, temos uma vice-presidente na nossa seccional, mas são pouquíssimas mulheres negras que ocupam esses espaços. Eu sou a única presidente de comissão negra na minha seccional. A mulher negra está abaixo de homens brancos, de mulheres brancas, de homens negros. A gente vive numa estrutura feita para nos subjugar”, pontuou a advogada Carol Amaral.
Francy Junior citou a filósofa Djamila Ribeiro para ressaltar que a diversidade de visões e experiências é fundamental para um espaço político democrático.
“Para a sociedade, para homens pretos e não pretos, a mulher preta tem que ficar simplesmente a serviço, ser serviçal. É essa a ideia, acham natural a mulher preta estar sempre atrás, nunca ao lado ou à frente. Não é normal uma mulher preta querer estar num espaço que a sociedade tipifica como um espaço masculino, ou de mulheres brancas, héteros e economicamente bem de vida.”, pontuou a também pré-candidata à vereadora.
Luciana Ramos ressaltou o fortalecimento das mulheres negras, há mais de 500 anos, dentro da realidade racista, machista e sexista da sociedade brasileira, pontuando o ativismo da mulher negra na política prática e do dia a dia.
“Eu tenho trabalhado há muitos anos com mulheres negras, seja nos movimentos sociais ou na advocacia popular. Não tem um processo de luta e de resistência em que à frente não estejam mulheres, não há um em que uma mulher negra não seja protagonista. O que falta, talvez, é entender que aquilo que a gente faz, seja ajudando uma vizinha a cuidar do filho enquanto ela vai trabalhar, ou quando a gente não aceita, no nosso espaço de trabalho, assédio sexual, nenhum tipo de violência racista, sexista, isso tudo é política, isso tudo a gente faz no dia a dia. Às vezes, as mulheres pensam que não podem, que não são capazes, que não têm o conteúdo (para ocupar espaços de poder). Não precisa, a gente sente na pele sermos a base da pirâmide social desse País”, explicou.
Assista ao debate completo:
Semana das Mulheres Negras, Afro-Ameríndias, Latino-americanas e Caribenhas 2020
O debate faz parte da programação da Semana das Mulheres Negras, Afro-Ameríndias, Latino-americanas e Caribenhas 2020, que promove debates, oficinas e intervenções artísticas entre os dias 18 e 25 de julho. O evento é online e gratuito, com transmissão nas redes sociais.
O debate desta quarta-feira, 22, é sobre “Educação Antirracista” e acontece às 19h, com a presença de Marklize Siqueira, feminista, professora, assistente social e Mestra em Sociologia. Cléia Alves, professora, artista, produtora cultural e feminista negra. Raescla Ribeiro, professora, escritora, militante nos projetos Coletiva Banzeiro Feminista, Rede Fulanas, Grito Anarquista e idealizadora do Projeto “Mana, escreve”
Na mediação teremos Luciana Santos, jornalista, advogada, membra da Comissão de Igualdade Racial da OAB/AM e mestranda em Direito pela Ufam.
A realização da Semana é feita de forma colaborativa pelos coletivos ‘Esse é o Nosso Norte’, Crioulas do Quilombo de São Benedito, Mídia Ninja, Coletivo Difusão e Ocupa Minart.