Os primeiros exemplares das novas espécies foram encontrados na Reserva Extrativista do Baixo Juruá, no município de Uarini, e na Floresta Nacional de Tefé.
Duas novas espécies de anfíbios do gênero Allobates foram encontradas na Reserva Extrativista do Baixo Juruá, no município de Uarini, e na Floresta Nacional de Tefé. O projeto de pesquisa, realizado por meio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam), iniciou em março deste ano e conta com a coordenação da doutora em Ecologia e coordenadora do projeto, Albertina Pimental Lima, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), e dos estudantes de pós-doutorado Miqueias Ferrão, Anthony Ferreira, Jussara Dayrell e Antônio Saulo, também do Inpa.
Além de identificar as espécies na região, outro objetivo do projeto é treinar os moradores desses municípios para que saibam identificar e coletar da forma correta os anuros – anfíbios que não possuem caldas, representados na natureza pelos sapos, rãs e pererecas.
O Portal Amazônia conversou com Albertina Lima para saber mais sobre as principais características das novas espécies e se existe a possibilidade de outras serem encontradas.
Ao todo, a pesquisa foi realizada por duas equipes que estavam nas reservas florestais e duraram 20 dias. “Nosso projeto prevê excursões com coleta de anuros em áreas de conservação e fora delas. Nós buscamos por anuros em trilhas padronizadas de amostragens segundo o modelo PPBio [Programa de Pesquisa em Biodiversidade]. Em cada sítio de amostragens usamos três quilômetros de trilhas com seis parcelas de amostragem”, explicou Albertina.
As duas novas espécies se encaixam no gênero dos Allobates, comuns em alguns países da Amazônia Internacional, e que são popularmente conhecidos como sapos cuidadores.
“Isto porque os machos cuidam dos seus filhotes no ninho que é em folhas no chão da floresta. As duas novas espécies são diferentes tons de marrons com ventre amarelo. As diferenças estão em combinações do canto, cor do ventre e comportamento reprodutivo”,
informou a especialista.
Ao todo estão previstos sete sítios de amostragem da pesquisa, sendo cinco na região de Eirunepé e dois na região do Rio Abacaxi. Durante a pesquisa na região das reservas florestais em Tefé e Uarini, foram encontrados muitos anuros do gênero dos Allobates.
“Ele é um grupo grande com várias espécies sendo descritas nos últimos anos. Só na BR319 foram descritas três espécies nas últimas décadas. Sendo uma com os dedos azul e outra com larvas que tem desenvolvimento direto no ninho. Eu e meus estudantes estamos trabalhando com o gênero Allobates desde 2000, e já descrevemos dez espécies, cinco pertencentes ao Estado do Amazonas”, comentou a coordenadora da pesquisa.
Existe a possibilidade de serem encontradas novas espécies?
Todos os indicativos apontados nas coletas indicam surgimento de novas espécies.
“As regiões de amostragem em nosso projeto são quase desconhecidas, com raríssimas amostragens. Esperamos encontrar pelo menos mais cinco espécies novas só no gênero Allobates. Mas como nesse projeto iremos mostrar todos os anuros, com certeza devemos encontrar uma quantidade semelhante de espécies novas em outros gêneros. Eu estimo que pelo menos 20 espécies novas devem ser encontradas”,
revelou a doutora.
Os estudos estão sendo realizados por sete pesquisadores de diversos Estados e até de fora do Brasil, que participam da coleta dos animais e das descrições das espécies. As instituições que incentivam esse estudo são o Inpa, a Universidade Federal do Amazonas (Ufam) e a Universidade de Harvard, nos Estados Unidos.
A pesquisa, intitulada ‘A Mega Diversidade Escondida de Anuros nas Regiões Periféricas do Estado do Amazonas’ também prevê a criação de pôsteres e guias com dados como os nomes populares e científicos das espécies de anuros que habitam as unidades de conservação analisadas no projeto.