Conheça a história da origem de 10 cemitérios de Manaus

A capital do Estado do Amazonas conta com dez cemitérios públicos divididos em áreas rurais e urbanas.

O Dia de Finados é celebrado no dia 2 de novembro desde o século V, após a Igreja Católica escolher um dia do ano para rezar por todos os mortos. Pelo menos data 600 mil pessoas são esperadas nos cemitérios públicos de Manaus (AM), este ano, para homenagear os entes queridos que morreram, de acordo com a Secretaria Municipal de Limpeza Pública (Semulsp).

A capital do Amazonas conta atualmente com dez cemitérios divididos em áreas rurais e urbanas e vale lembrar que até a primeira metade do século XIX, Manaus ainda não possuía um cemitério adequado.

De acordo com o livro ‘Manaus, entre o passado e o presente’, do Instituto Durango Duarte, em mensagem de 1º de outubro de 1853, o presidente da Província, Herculano Ferreira Penna, já expressava a necessidade de se construir um cemitério público, medida que exigia certa urgência, principalmente porque as inumações continuavam a ser realizadas no entorno do largo da Trincheira e nas imediações da Igreja dos Remédios – locais desprovidos das mínimas condições possíveis, em covas rasas e à mercê dos animais que por ali circulavam.

Foi então que após um acordo entre a presidência da Província, a chefia de Polícia e o vigário da Igreja de Nossa Senhora dos Remédios, o administrador provincial mandou que se cercasse a área próxima a igreja para que o local passasse a servir de necrópole pública até que a Província pudesse providenciar um campo santo em local apropriado. As obras de adaptação do terreno da igreja ficaram prontas em 1854. 

Gravura: Sant’Anna Nery. In: Le Pays des Amazones, 1885. Frederico José de Sant’Anna Nery. Foto: Reprodução/Instituto Durango Duarte

Batizado de Cemitério dos Remédios ou da Cruz, a necrópole se localizava no entorno das ruas da Cruz, atualmente Leovegildo Coelho e dos Andradas. Já em 1856, os sepultamentos passariam a ser realizados no Cemitério São José, onde fica o prédio do Atlético Rio Negro Clube.

Atualmente, com as adaptações e crescimento da cidade, Manaus conta com dez cemitérios divididos em áreas rurais e urbanas. Confira a história de cada um deles: 

Cemitério Nossa Senhora da Piedade

Fundado em 1901, conhecido inicialmente como ‘Cemitério do Cariri’, o cemitério Nossa Senhora da Piedade está localizado na Avenida Torquato Tapajós, no Km 05, Rodovia AM 010, no Bairro Tarumã. O cemitério possui uma capela que continha imagem identificada como Nossa Senhora da Piedade, que deu o nome ao local

A área total estima-se em 0,69 hectares, com uma quadra e média de um sepultamento diário, geralmente atendendo as comunidades adjacentes. É considerado o menor cemitério em área e em quantidade de sepultamentos localizado na área urbana da cidade.

Seu primeiro inumado foi Luíza Marquês de Souza, em 14 de agosto de 1905. Incorporado ao patrimônio municipal em 1969, quinze anos depois, deixou de ser uma alternativa existente na cidade, pois estava muito distante do Centro e por seu terreno ser inadequado, o que impossibilitava os enterramentos. 

Foto: Antonio Pereira/Semcom Manaus

Cemitério São João Batista

O popular Cemitério São João Batista foi fundado em 1890, inserido na Zona Centro Sul, na Praça Chile, esquina com a Avenida Boulevard Álvaro Maia, no bairro Nossa Senhora das Graças.

A história se inicia em 26 de março de 1890, quando o Governo do Estado solicitou à Superintendência Municipal que lhe indicasse uma área onde se pudesse construir um campo santo. Menos de quatro meses depois, em 1º de julho, uma comissão composta, entre outros, por João Carlos Antony apresentou o local encontrado: um terreno situado no bairro do Mocó, atual Nossa Senhora das Graças. 

A autorização para que a Superintendência desapropriasse essa área foi concedida em 25 de agosto daquele ano, pelo então governador Ximeno de Villeroy. No mês seguinte, foram adquiridos os terrenos pertencentes a João Batista Gonçalves da Rocha e a Manoel José Fernandes Júnior. Depois, em outubro, mais um lote foi comprado, de propriedade de Amélia Leopoldina de Mello Cardoso.

A inauguração do cemitério ocorreu em 5 de abril de 1891, recebendo o seu primeiro inumado no dia seguinte: uma criança de um ano de idade, chamada Maria.

Em 1897, o engenheiro-chefe da Comissão de Saneamento de Manáos, Samuel Gomes Pereira, já cogitava a possibilidade de serem encerrados os enterros nessa necrópole. Um dos motivos era que esse Cemitério havia sido construído nas nascentes dos igarapés da Castellana, do Aterro e de Manáos, os quais poderiam ser contaminados pelos líquidos que escorriam do subsolo do campo santo, prejudicando os ribeirinhos que se serviam dessas águas. 

Outro ponto destacado no relatório do engenheiro foi que o tubo principal do encanamento que saía da casa das máquinas, que ficava às margens do igarapé da Cachoeira Grande, em direção ao Reservatório do Mocó, fora instalado muito próximo a esse Cemitério, o que também tornava possível ser infectada a água que abastecia a Cidade.

Foto: Marina Alves/Sistema Verdes Mares

Isso supostamente tenha sido o motivo do fechamento do Cemitério São João Batista, em 31 de maio de 1897. A Intendência Municipal promulgou a Lei 72, que autorizava o fechamento do cemitério e mandava a administração municipal construir outro, em um local apropriado. A atual necrópole ficaria apenas com enterros em mausoléus perpétuos, sem a abertura de novas sepulturas, o que não aconteceu na prática.

Em 1902, quando o Cemitério São João Batista já se encontrava sem área disponível para novas sepulturas, a administração municipal solicitou ao Governo do Estado que o auxiliasse na construção de uma nova necrópole. Após a realização de estudos sobre um local apropriado para essa obra, foi escolhido um terreno de propriedade estadual, situado à margem direita do igarapé da Cachoeira Grande.

Devido ao Estado e ao Município não disporem de recursos financeiros para realizar essa obra, em 1903, o superintendente Martinho de Luna Alencar decidiu aumentar o São João Batista e adquiriu uma área anexa que pertencia a Manoel José Fernandes Júnior e sua esposa. Nesse mesmo ano, Adolpho Lisboa, sucessor de Luna de Alencar, sugeriu que, ao invés de se construir outros cemitérios, melhor seria que fossem realizadas exumações, processo que teve início em 1903 com os cadáveres inumados em 1891.

Em 1905, foram erguidos os muros da avenida Álvaro Botelho Maia, antiga Boulevard Amazonas, e da rua Major Gabriel, onde foram colocados gradis e portões de ferro. Os muros em alvenaria dos lados das ruas Getúlio Vargas e Belém foram construídos somente no início da década de 20. Além disso, o superintendente Adolpho Lisboa mandou construir a nova capela, inaugurada em 30 de outubro de 1906. Dois dias depois, em 1º de novembro, essa ermida recebeu a trasladação da imagem de São João Batista, proveniente da igreja de São Sebastião.

O Jornal, 21 de julho de 1968. Foto: Reprodução/Instituto Durango Duarte

Um ossuário para guardar os restos mortais não reclamados vieram do Cemitério São José, que foi extinto. Ao todo, existem, nesse ossuário, os despojos mortais de, ao menos, 48 pessoas, segundo a placa de mármore existente no local, que também recebeu restos mortais do cemitério São Raimundo.

Na década de 70, quando o São João Batista, praticamente, já não mais comportava novas inumações, foi cogitada a sua extinção, o que também não ocorreu. Continuou, então,  o processo das exumações dos corpos para entrada de novos, até que no ano de 1982, devido aos três cemitérios municipais da época já estarem lotados (cemitério São Francisco, São João Batista e o Santa Helena), e por conta de um contrato de exclusividade firmado entre a Prefeitura e a empresa responsável pelo recém-construído cemitério-parque, a administração municipal decidiu que, a partir de 8 de janeiro de 1983, somente seriam permitidas novas inumações nesse novo cemitério do Tarumã.

O Cemitério São João Batista foi tombado como Patrimônio Histórico do Estado do Amazonas pelas suas edificações históricas como a capela gótica e pórticos, além das sepulturas de valor religioso, histórico, cultural e arquitetônico, como os inúmeros modelos que apresentam técnicas variadas de construção, alguns com materiais valiosos antigos como cerâmica inglesa, esculturas artísticas, pintura marmorizada. 

O gradil antigo do cemitério, por exemplo, foi confeccionado com rebites de ferro para unir as peças e anéis decorativos de chumbo para reforçar essas estruturas, já que não existia a solda elétrica à época. Possui um amplo arquivo de sepultamentos realizados desde 1882.

Cemitério Santo Alberto

Fundado por missionárias que cuidavam dos hansenianos internados na antiga leprosaria do Aleixo, com atividades iniciadas na década de 1910, recebeu a denominação Santo Alberto por meio da Lei Municipal 1842, de 8 de julho de 1986.

O cemitério possui cinco quadras, cerca de quatro mil sepulturas, com mais de seis mil inumados. Localizado na rua Monteiro Maia, s/n, no bairro Colônia Antônio Aleixo, Zona Leste de Manaus

O Jornal, 21 de julho de 1968. Foto: Reprodução

Cemitério Santa Helena

Foi construído no dia 8 de junho de 1933, devido às dificuldades que os familiares que moravam no bairro São Raimundo tinham para realizar as inumações no São João Batista que, na época, era o único cemitério público da cidade.

O cemitério São João Batista era muito longe do bairro e, além disso, naquele tempo ainda não existia nenhuma forma de acesso que ligasse o São Raimundo ao restante da cidade a não ser por pequenas embarcações que eram utilizadas para a travessia do igarapé da Cachoeira Grande.

O terreno em que foi construído o Cemitério Santa Helena pertencia a Walentim Normando, pai do ex-vereador Ismael Benigno, que doou uma parte da área para a edificação desta necrópole. A outra parte, a Prefeitura recebeu autorização da Câmara Municipal para adquiri-la em 1930.

Cinco décadas desde a sua criação, a partir de 8 de janeiro de 1983, devido a sua área estar quase que completamente tomada por mausoléus, o Santa Helena deixou de receber a abertura de novas sepulturas e passou a aceitar apenas enterramentos em jazigos perpétuos. 

Localizado na rua Coração de Jesus, o Cemitério possui, aproximadamente, 58 mil metros quadrados de área, dividida em seis quadras. De acordo com informações da Coordenadoria de Cemitérios, o Santa Helena contém, atualmente, mais de 5.300 sepulturas e acima de 22 mil inumados.

Foto: Reprodução/Instituto Durango Duarte

Cemitério São Francisco

O Cemitério São Francisco teve sua fundação no ano de 1937 e atende pequena parcela dos sepultamentos ocorridos em Manaus, em sepulturas perpétuas já adquiridas mediante concessão de uso.

O necrotério foi construído somente no final da década de 60. Essa necrópole possui uma área de quarenta mil metros quadrados, dividida em cinco quadras, e contém, aproximadamente, 8.500 sepulturas e 34 mil inumados.

Localizado à Rua Coronel Pedro de Souza s/n – Morro da Liberdade, recebeu seu primeiro inumado no dia 12 de maio de 1908, Manoel José de Santana.

Foto: Reprodução/Google Maps

Cemitério Nossa Senhora Aparecida

Único cemitério que está em atividade para novos sepultamentos, popularmente conhecido como Tarumã, a necrópole Nossa Senhora Aparecida fica localizada na Avenida do Turismo, n.107, Km 12, no Tarumã. O local possui 90 quadras em uma área total de 105,43 hectares.

Na década de 70, as necrópoles de Manaus estavam em estado crítico por conta da explosão demográfica ocorrida na capital amazonense, impulsionada, principalmente, pela criação da Zona Franca. Os cemitérios São João Batista, no bairro Nossa Senhora das Graças, e Santa Helena, no São Raimundo, recebiam somente enterramentos em jazigos perpétuos. 

O único campo santo que ainda possuía área para abertura de novas sepulturas era o São Francisco, no Morro da Liberdade, mas que, também, já apresentava carência de espaço.

Com isso, para resolver o problema, a administração municipal, passou a desenvolver estudos com o objetivo de encontrar um local adequado à construção de um cemitério modelo. No início de 1974, a Secretaria de Obras do Município anunciou que havia encontrado dois locais para a nova necrópole. 

Um deles compreendia uma parte do terreno da antiga empresa de tecelagem Brasiljuta e o outro, ficava na estrada do Tarumã, próximo à praia da Ponta Negra, área que seria a escolhida para a edificação da nova necrópole.

Os trabalhos de terraplenagem desse local foram iniciados em 1975, sob a responsabilidade da construtora Endeco. A proposta original para esse cemitério-parque, que foi projetado pelo arquiteto Antônio Leitão, era a de um campo raso com jardins, onde as sepulturas seriam cobertas com uma lápide de concreto e marcadas com placas metálicas.

Foto: Alex Pazuello/Semcom Manaus

Em setembro de 1975, após relatório que apontava estar o cemitério São Francisco com apenas sessenta vagas disponíveis, e, com as obras do cemitério-parque ainda em andamento, o então prefeito Jorge Teixeira mandou que se preparasse, em caráter de urgência, uma quadra dentro da área do novo campo santo, a qual receberia, provisoriamente, os enterramentos da capital. 

A ideia do administrador da Cidade era transferir essas sepulturas para outro espaço, depois de concluída a necrópole do Tarumã. Menos de um ano depois, em agosto de 1976, essa área emergencial, mandada abrir por Jorge Teixeira, recebeu a sua inumação de número 1: o corpo de Raimunda Alexandre, índia waimiri-atroari. 

No mês seguinte, de acordo com o matutino ‘O Jornal’, já haviam sido inumadas mais de sessenta pessoas, e, em março de 1977, segundo matéria do ‘Jornal do Commercio’, jaziam naquele lugar, aproximadamente, 600 corpos.

Depois de um convênio realizado em 1978, a Urbam passou a se responsabilizar em reservar uma área nos fundos do Cemitério Parque Tarumã, destinada, exclusivamente, aos enterros de indigentes e que foi denominada Cemitério Ponta Negra.

Dois anos depois, em dezembro de 1980, a Empresa de Urbanização celebrou contrato com a firma Consórcio Riograndense de Construção e Urbanização – Cortel S. A. – para a continuação e a execução das obras e a implantação e comercialização do Cemitério Parque Tarumã.

A empresa somente aceitou depois da Prefeitura de Manaus garantir que todos os enterramentos da cidade seriam obrigatoriamente realizados no espaço do cemitério-parque. Por conta disso, a cidade passou a ficar sem um cemitério público, a não ser aqueles que eram considerados indigentes, que seriam enterrados no Cemitério Ponta Negra. 

Foto: Reprodução/Instituto Durango Duarte

Cemitério Nossa Senhora do Carmo

O cemitério está localizado às margens do rio Amazonas (costa do rio Paraná da Eva), no interior do Puraquequara, e possui uma área total estimada em 1,02 hectares, com total de duas quadras, fundado em 1903. 

Foto: Reprodução/Google Maps

Cemitério Nossa Senhora das Lajes

Localizado nas margens do Rio Negro na Ilha Visconde de Mauá, no bairro Mauazinho, o cemitério Nossa Senhora da Conceição das Lajes foi fundado em 1906 e possui aproximadamente 20 mil metros quadrados, com mais de 1900 sepulturas.

Isolado em uma ilha com aproximadamente 40 metros de altura, o acesso para o cemitério pode ser feito apenas por meio fluvial, geralmente em período de cheia do rio, por meio de lanchas que vão até o local.

Foto: Reprodução/Instituto Durango Duarte

Cemitério Santa Joana do Puraquequara

Fundado no ano de 1870, o cemitério está localizado às margens do lago do Puraquequara, possui uma área total estimada em 0,49 hectares, com uma quadra, dentro de uma área militar. Sua área abriga mais de 500 sepulturas e acima de 540 inumados. 

Cemitério São José do Jatuarana

Fundado no ano de 1880, o cemitério está localizado às margens do rio Amazonas (costa do rio Jatuarana), possui uma área total estimada em 0,22 hectares, com uma quadra. O acesso é pela rua da Paz, n. 68, na margem esquerda do rio Amazonas. O local possui 2160 metros quadrados e sua única quadra contém, aproximadamente, 660 sepulturas e mais de 670 inumados.

Foto: Google Maps

Referências

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