Ele aliou um estabilizador de energia com uma bateria de carro para manter aparelhos simples funcionando nos dias críticos do blecaute e foi chamado de inventor. ‘A vida só faz sentido se você puder compartilhar’, diz.
Grandes problemas exigem soluções simples e eficientes. Em meio à crise energética do Amapá, que chegou ao 15º dia nesta terça-feira (17), um acadêmico de engenharia elétrica usou o próprio conhecimento para ajudar os vizinhos e famílias carentes. Ele montando uma engrenagem que gera energia para equipamentos como ventilador, para amenizar o calor, e ainda ligar a TV.
O problema no fornecimento de energia iniciou no dia 3 de novembro, quando um incêndio atingiu a principal subestação de energia do estado, em Macapá. A transmissão precisou ser interrompida, deixando mais de 765 mil pessoas sem luz e outros prejuízos.
As causas ainda são investigadas. O estado ficou completamente “no escuro” por quatro dias e só no dia 7 de novembro o serviço começou a ser retomado; atualmente a distribuição para 90% da população é através de rodízio, de 3 e de 4 horas.
A ideia surgiu no período mais crítico da crise, nos primeiros 4 dias. Para isso, Rivelino Santana usou um estabilizador de energia e uma bateria de carro em busca de diminuir o impacto do problema na rotina desses amapaenses.
Juntando os equipamentos em um circuito, Santana conseguiu energizar alguns aparelhos. É por um curto prazo, mas suficiente para quem não tinha nada.
“A vida só faz sentido se você puder compartilhar o que você sabe com teu próximo e tentar ajudar. Conhecimento é você expelir o que sabe para outras pessoas para adquirir novos”, declarou.
A invenção começou para ajudar a mãe a dormir com mais conforto, pois as noites de calor se tornaram um incômodo.
Mas, ao perceber que a ideia deu certo, o acadêmico pensou que, assim como a mãe, outras pessoas também estavam sofrendo da mesma forma e resolveu compartilhar a engenhosidade.
O acadêmico descreve que, mesmo sem internet e sinal de telefone, muitos vizinhos deixavam o celular carregando através do circuito.
“Foi com um nobreak e uma bateria de carro 12 volts que eu consegui colocar o ventilador para funcionar, a televisão para passar o jornal, e carregar o celular do pessoal. Eu ia aqui no lado de casa [e perguntava]: ‘ei, teu celular tá descarregado?’, porque não tinha energia”, detalhou.
Um dos beneficiados com a invenção foi o metalúrgico Augusto Silva. Ele conta que estava no escuro e desinformado, e com a ajuda do vizinho passou a ter um pouco mais de conforto e ficar atualizado.
“A gente sabe que a capacidade do equipamento é pequena, mas amenizou nosso problema em 70%, 80%. Ajudou muito, tá ajudando e outras pessoas também estão sendo beneficiadas através da ideia dele”, disse Silva.
Além de fazer os eletrodomésticos funcionarem, Santana também conseguiu bombear água para as casas do lado e tirou parte da preocupação do batedor de açaí Gilvan Silva. Com a ajuda, ele continuou trabalhando.
“A gente se preocupou porque a gente precisa de água, né? É para tudo. Como a gente vai fazer sem água e sem energia? Graças ao nosso vizinho, que Deus deu esse dom pra ele, nós chamamos ele até de inventor. Já virou prática da gente: tudo que precisamos, corremos até ele porque ele tem a solução”, comentou.
Outro beneficiado pelo acadêmico foi o autônomo José Mendes. Ele reconheceu e agradeceu a atitude de solidariedade em meio à crise.
“São atos muitos simples mas que têm grande valor numa circunstância como essa sem a energia que move tudo. De madrugada você fica sem dormir por causa do calor, carapanã, e quando você tem um ‘bico’ de energia para ligar um ventilador é de grande valor e muito importante”, lembrou.