Projeto quer transformar Museu à Céu Aberto da Segunda Guerra Mundial em parque no Amapá

Base Aeronaval de Amapá foi construída pelos EUA em 1941 e serviu como apoio para reabastecimentos e patrulhamentos no Atlântico até o fim da guerra.

Um projeto da Universidade Federal do Amapá (Unifap) pretende transformar o Museu à Céu Aberto da Segunda Guerra Mundial, localizado no município de Amapá, região centro-leste do estado, em um parque. A ideia é envolver locais que foram usadas no período do conflito mundial e que estão fora da área do museu.

Base usada durante a Segunda Guerra Mundial no Amapá. Foto: Reprodução

O coordenador do Laboratório de História Militar da Unifap, Edinaldo Pinheiro, detalhou que importantes pontos como o local onde os dirigíveis atracavam e o porto por onde chegavam equipamentos e veículos militares, não estão na área do museu e precisam ser preservados de alguma forma.

“Nós fizemos parte do contexto da 2ª Guerra. Hoje em dia a base é considerada um museu e a ideia do projeto é abranger toda a infraestrutura que foi construída e deixada pelos norte-americanos lá, que é muito maior que só o museu”, 

explicou o pesquisador.

Dirigíveis na Base Aeronaval de Amapá, durante a guerra. Foto: Reprodução

A Base Aeronaval de Amapá foi construída em 1941, um ano antes da entrada do Brasil no conflito, que ocorreu em 22 de agosto de 1942. A área da base mede 623,34 hectares, e abrigou militares da marinha e do exército estadunidense e servia como ponto para reabastecimentos de aeronaves que seguiam para os EUA ou para a África.

Mas, segundo o pesquisador, o principal objetivo era compor a corrente de proteção no Atlântico, para evitar a destruição de navios mercantes dos Aliados pelos submarinos alemães, os chamados U-Boats. Dois deles foram afundados no litoral amapaense.

Torre de atração de dirigíveis em Amapá. Foto: Rafael Aleixo/Arquivo Pessoal

Queda de aeronaves aliadas no Amapá

Do lado dos Aliados as perdas ocorreram fora dos combates. Edinaldo Pinheiro informou que cerca de 5 aeronaves militares caíram em várias regiões do estado por conta de condições climáticas, falta de combustível ou por problemas de desorientação de instrumentos dos aviões.

“Eu participei da cerimônia, em 1991, de velório da tripulação de um B-24 que acabou o combustível e caiu na região do Cassiporé. Meu tio inclusive levou os americanos para localizarem os destroços. E de 2005 a 2008 eu participei da localização de um outro avião militar que caiu na região do Gurupora”, descreveu Pinheiro.

Edinaldo Pinheiro, coordenador do Laboratório de História Militar da Unifap. Foto: Rafael Aleixo/g1 Amapá

Um outro B-24, que também caiu no período da Guerra, foi visto em 2022 durante um patrulhamento da Companhia Especial de Fronteira, do Exército Brasileiro no município de Oiapoque. No local foram encontradas metralhadores e equipamentos usados pelos militares dos EUA.

Militares do Exército Brasileiro no local da queda de uma avião estadunidense durante a Segunda Guerra Mundial, no Amapá. Foto: Reprodução

Nazistas no Amapá antes da guerra

Pesquisadores da Alemanha nazista estiveram no Sul do Amapá antes da guerra, entre 1935 e 1937. O objetivo da “Expedição Jari” era implantar uma colônia na América do Sul, a exemplo do Suriname (Holanda) e das guianas Inglesa e Francesa.

Durante a viagem no Amapá, Joseph Greiner, um dos integrantes da comitiva alemã morreu e foi sepultado no município de Laranjal do Jari. Greiner morreu de uma febre não especificada durante a expedição.

Registros feitos à época mostram trabalho de pesquisadores alemães. Foto: Reprodução/Rede Amazônica

Segundo estudos e um livro alemão sobre o assunto, ele era capataz da tropa e morava no Brasil antes de ser recrutado pelo governo alemão. O objetivo era que ele facilitasse a comunicação. Na cruz, está a mensagem: “Joseph Greiner morreu aqui de febre em 2 de janeiro de 1936 a serviço da pesquisa alemã”.

A cruz caiu em 2022, mas o pesquisador Edinaldo Pinheiro informou que ela está sendo restaurada em Laranjal do Jari para ser posta novamente no mesmo local.

Joseph Greiner morreu em 2 de janeiro por uma febre misteriosa. Foto: Reprodução/Rede Amazônica

A ao longo de 17 meses, a pesquisa levantou informações sobre fauna, flora e a cultura indígena. Registros em imagens feitos à época mostram a relação com a tribo Aparai.

“A expedição durou cerca de dois anos. Eram três cientistas, todos com formação militar, que pesquisaram todas as nossas riquezas, como a nossa fauna, flora e minérios. Eles fizeram incursões com o objetivo de chegar à Guiana Francesa. Eles fizeram todo um estudo da nossa região e das riquezas”, disse o pesquisador.

Expedição Jari usou pequeno avião para sobrevoar floresta. Foto: Reprodução/Rede Amazônica

Com o possível plano de invasão em mente, a equipe retornou à Alemanha, mas o projeto Guiana nunca foi realizado, mesmo assim, a visitação levou crânios e informações de mais de 500 mamíferos, répteis, anfíbios e aves, além de registros em fotos e filmagens.

Um documentário alemão, feito na época, mostra em detalhes os percalços da viagem, inclusive com imagens da expedição e do contato com os índios. Confira:

*Por Rafael Aleixo, do g1 Amapá

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