Além de uma futura carreira, ela diz que quer, antes de tudo, “felicidade” e o “desejo de inspirar” os filhos
Vendendo lanches diariamente pelo campus da Universidade Federal do Amapá (Unifap) em Macapá, a autônoma Alessandra Ferreira, de 45 anos, alimentou a vontade de conciliar a fonte de renda com o sonho de ingressar no ensino superior. Depois de 15 anos de tentativas, ela foi aprovada para o curso de Geografia e vai começar a estudar em 2021.
O convívio diário com a vida acadêmica a inspirou ainda mais a tentar o processo seletivo da Unifap através do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). O desejo era tanto que, mesmo não se inscrevendo em um cursinho preparatório, isso não a impediu de buscar o sonho.
Além de uma futura carreira, ela diz que quer, antes de tudo, “felicidade” e o “desejo de inspirar” os filhos, a família e outras mulheres a não desistirem dos objetivos, independente da idade ou dificuldades.
“Eu, como mãe, tinha que mostrar para os meus filhos que é necessário ter uma graduação. E a gente têm que buscar cada vez mais evoluir. Eu preciso ter o ensino superior. É uma coisa que vai me fazer bem e me deixar mais feliz. Eu acho isso muito importante”, comentou.
O nome dela consta na lista de aprovados divulgada no sábado (20), na 1ª chamada pública do processo seletivo de 2020, para o curso de bacharelado em geografia. As aulas acontecerão no formato remoto em função da pandemia da Covid-19.
Será o primeiro contato de Alessandra com o ensino superior para, assim, seguir o caminho do marido e dos dois filhos já graduados.
“Eu sempre achei o auge da inteligência humana entrar numa universidade federal. Para mim só importava se fosse federal. Em vários anos eu escolhia cursos mais difíceis, mas vi que a nota que eu tirava não era suficiente. Aí resolvi escolher um curso com uma nota de corte mais baixa. Pesquisei sobre os cursos e vi que o que mais me agradava era geografia”, explicou.
A conquista foi compartilhada por Alessandra numa rede social e recebeu centenas de curtidas, compartilhamentos e comentários. Nas mensagens, estudantes, clientes, familiares e desconhecidos a parabenizaram: “Sempre acreditei e soube que esse dia chegaria parabéns rainha, vc merece! [sic]”, dizia um deles.
A preparação para a universidade foi dividida com o trabalho e a produção de sucos, coxinhas e empadas para vender aos acadêmicos.
“Eu nunca estudei ou fiz cursinhos [focados para fazer o Enem]. Aí eu observava os temas que poderiam cair na redação e sempre procurando saber sobre as regras da redação e as outras disciplinas que poderiam cair [no Enem]”, contou.
Alessandra contou que ainda planeja como vai conciliar os estudos com o trabalho. Para continuar vendendo os lanches caseiros na Unifap e se sustentando, ela pretende contratar uma funcionária.
Numa nova rotina, porém, ela ressalta que continuará buscando evoluir através dos estudos.
Escrito por Victor Vidigal