Projeto ‘Leituras Dramatizadas Online’ chega à reta final

O projeto reúne principais nomes da dramaturgia contemporânea no Amazonas e abre espaço para discussões sobre o fazer teatral na região

Desta quinta-feira (10) ao sábado (12), o projeto ‘Pandêmicos – Leituras Dramatizadas Online’ apresenta de forma gratuita, por meio de transmissão ao vivo na plataforma Zoom, mais três obras dramatúrgicas de autores amazonenses. Integram este segundo ciclo as obras “Quem Tem Tu Tem Medo”, de Adanilo; “Dinossauro”, de Denni Sales; e “Complexo da Gaivota”, de Thais Vasconcelos.

“Complexo de Gaivota é um texto de teatro que fala sobre o fazer teatral, o medo do fracasso e os complexos processos de criação dos artistas. Fala sobre o desejo de fama, as aspirações malucas daqueles que se envolvem com a arte e muitas vezes nem sabem o porquê”, explica a dramaturga. A primeira inspiração vem do texto de Anton Tchekhov – A Gaivota, que trata das intempéries do fazer teatral.

A história se desenvolve a partir de um diretor e dramaturgo em falência, Trepliev, que decide mudar os rumos da sua produção artística e para isso pensa em construir um musical contemporâneo chamado “Elefantes Verdes”. Pede ajuda de sua mãe, Arkádina , uma mulher que foi uma grande atriz e se considera a prima-dona do teatro para compor o elenco e, por fim, faz um rápido teste com uma jovem atriz, Nina, que está na plateia.

“O musical não dá certo e ao ouvir a opinião dos críticos vindos do sul e sudeste do país, Trepliev entende então que, para ser o que ele busca, precisa voltar às suas origens e dar vazão ao que se chama de identidade nortista do Brasil. Uma tragédia porque tira sarro do nosso próprio trabalho enquanto artistas de teatro, mas também uma comédia porque tudo é feito com irreverência e apoiado por personagens caricaturais”, conclui Thais.

Animalizado

Outra obra que integra a programação é “Quem Tem Tu Tem Medo”, de Adanilo, que se apresenta a partir de um discurso conceitualmente animalizado, que investiga as variantes de alguns dos medos que assolam a humanidade. “Presos no topo da cadeia alimentar criada por nós mesmos, seguimos consumindo, destruindo tudo em volta, a terra, as águas, o ar, infinitas espécies de animais, vegetais. O medo do desconhecido, do futuro, da morte, da natureza selvagem e até do outro-humano nos fez chegar até aqui, nos protegendo de tudo que fosse ameaça”, explica o autor.

“O medo é dicotômico, ajuda e atrapalha, salva e mata, assusta e protege, é inerente ao mínimo de raciocínio. Nós não somos os únicos animais a tomar decisões baseadas em pensamentos lógicos, não somos os únicos racionais. E quem tem ‘tu’, tem medo”, completa Adanilo.

Contemporâneo

Já a obra “Dinossauro”, de Denni Sales, que também é o coordenador do projeto, trata sobre o bombardeio de informações do nosso tempo, a diluição das estruturas que não acompanham a velocidade com que avançamos tecnologicamente, e paradoxalmente, nos torna tão arcaicos nos instintos e em nossas relações. Sem enredo convencional, três atores-personagens e não personagens deliram num palco que não cabe suas angústias, vaidades, dúvidas, egos e aflições, momentos após uma inesperada notícia. Através de um humor ácido e existencial, vozes se cruzam e se escavam num labirinto cujo fluxo é na impermanência.

Denni é amazonense, ator, dramaturgo e produtor, formado em Filosofia pela Universidade Federal do Amazonas (UFAM), pós-graduado em Gestão e Produção Cultural pela Universidade do Estado do Amazonas (UEA), e possui formação técnica em Artes Cênicas e Audiovisual pelo Liceu de Artes e Ofícios Cláudio Santoro (LAOCS) através da Secretaria de Cultura do Amazonas – SEC/AM. Transitando entre o Teatro, Audiovisual e Produção, participa desde 2005 de circuitos, mostras e festivais na cidade e em outros Estados. Foi integrante do Teatro Experimental do SESC-AM/TESC, realizou residência artística no Club Noir (SP), participou de turnês dos espetáculos “As Folias do Látex”, “As Mil e uma Noites”, Carnaval Rabelais”, do diretor e escritor Márcio Souza, realizou curtas metragens selecionados em mostras e festivais competitivos na cidade de Manaus, além de ser vencedor do prêmio de dramaturgia “Álvaro Braga” (SEC/2010), possui publicações de textos e participações em coletâneas de dramaturgia junto com outros autores.

O projeto foi contemplado no edital Prêmio Manaus de Conexões Culturais 2020 – Lei Aldir Blanc, da Prefeitura de Manaus. Sob a coordenação de Denni Sales, com produção de Suelen Tourinho e mediação de Vanja Poty, o elenco das leituras é formado por Dimas Mendonça, Dinne Queiroz, Daniely Peinado e Ítalo Rui. 

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