Com fotos, citações textuais, gifs e vídeos, mostra multimídia destaca a força e a resistência das mulheres ciganas da etnia Calon
Nesta segunda-feira (24), comemora-se no Brasil o Dia Nacional dos Ciganos. Para marcar a data, a Associação Estadual das Etnias Ciganas de Mato Grosso (AEEC-MT) lançará a exposição multimídia “Calin”. O trabalho destaca a força e a resistência das mulheres ciganas da etnia Calon de comunidades de três municípios mato-grossenses: Cuiabá, Tangará da Serra e Rondonópolis.
A exposição integra o projeto “Diva e as Calins de Mato Grosso: Ontem, Hoje e Amanhã”, aprovado no edital Conexão Mestres da Cultura – Marília Beatriz de Figueiredo Leite, com recursos da Lei Aldir Blanc.
O projeto premiou a raizeira e benzedeira Maria Divina Cabral, a Diva, como Mestra da Cultura Mato-grossense e se desdobrou em vários produtos culturais transmidiáticos. Dentre as ações, o I Encontro de Mulheres Ciganas de Mato Grosso, que ocorreu em abril, a web série em edição ‘Diva e as Calins’, e a “Exposição Multimídia “Calin”.
Diva é um dos destaques da exposição, que reúne fotografias de mulheres do seu círculo de convívio, como a mãe, filhas, netas, bisnetas, primas e tias. O lançamento será às 19h, durante uma live, que contará com a roda de conversa ‘Protagonistas: Mulheres Ciganas, mil faces’.
Além de Diva, a roda terá a participação da presidente da AEEC-MT, Fernanda Caiado, da ativista e cantora cigana Rom-Kalderash, Aline Miklos, da fotógrafa Karen Ferreira e de representantes da Secretaria de Cultura de Mato Grosso (Secel).
A live conta com a parceria do Fórum de Entidades em Defesa do Patrimônio Cultural Brasileiro em Mato Grosso e do Centro de Direitos Humanos da Unemat, que certificará o evento. Durante a abertura estará também presente a coordenadora adjunta do Fórum de Entidades MT pelo ICOMOS Brasil, a professora Ana Carolina Borges.
Na ocasião, serão projetadas fotos destaque da exposição, bem como a exibição de um teaser de pré-lançamento da web série “Diva e as Calins”. A plataforma digital que ancorará as fotos, textos e gifs também apresentada durante a live.
“A cultura é plural e essa homenagem à Diva e às ciganas ajuda a dar visibilidade a uma tradição que está presente Mato Grosso. Somos honrados pelo projeto ter sido contemplado. Que seja um importante movimento para o respeito e acolhimento à diversidade do estado”, expressa o titular da Secel, Alberto Machado.
Ineditismo
De cordo com a presidente da AEEC-MT, Fernanda Caiado, o registro fotográfico é um marco na história das mulheres ciganas. “Nós sabemos que devido às nossas mães, tias, avós, viajarem em barracas e os ciganos não terem muitas condições financeiras, quase não temos registros fotográficos das mulheres anteriores a nós. A exposição enche a gente de orgulho. Como presidente da associação e como mulher que participei, fiquei lisonjeada, maravilhada”, emociona-se.
Para Fernanda, a exposição é um movimento que coloca as Calins se apropriando das representações de seus corpos, vidas, memórias e narrativas. “No Encontro (de Mulheres Ciganas, em Rondonópolis) a Jéssika, neta da Diva, disse que a avó nunca tinha recebido uma homenagem tão importante, com fotos, filmagem, dela se sentir empoderada como mulher e cigana”, lembra.
Já a ativista feminista e fotógrafa Karen Ferreira avalia o processo como enriquecedor. “Uma das coisas mais importantes de criar representações é a contribuição que damos para construir novos imaginários da mulher e dos povos ciganos, que historicamente tem tido representações estigmatizadas. O projeto nos possibilita apropriar das artes e dos meios de comunicação para nos transformarmos em criadoras das próprias histórias”.
Para Karen, foi muito impactante ver a força geradora que se criou ao unir tantas mulheres ciganas em um espaço.”Foi visível a transformação que todas nós passamos. Uma se fortalecendo no reflexo da outra. Não por acaso, se separa as mulheres há tantos séculos, pois quando estamos juntas movemos as estruturas”.
Exposição Calin
Calin é uma palavra de autoidentificação das mulheres ciganas do tronco étnico calon e no dialeto destes grupos significa “cigana”. Assim, o trabalho busca valorizar os saberes, tradições, costumes e filosofia romani, com foco principal nas vozes, olhares e narrativas de suas mulheres.
“A exposição coroa todo um trabalho realizado durante meses com as mulheres ciganas de Mato Grosso. Vamos mostrar a importância delas nas nossas vidas e na vida de todos ao seu redor. São mulheres guerreiras, vencedoras, empoderadíssimas. Mulheres que tomam as decisões, que tomam a frente”, enfatiza a presidente da AEEC, Fernanda Caiado.
O diretor de arte Rodrigo Zaiden explica que a exposição segue uma linha conceitual que considera todas as mulheres ciganas da geração de Diva, 66 anos, como também mestras da cultura cigana. O trabalho se delineou a partir de Diva e outras quatro de suas parentes: Venerana Rodrigues Cunha (tia); Irandi Rodrigues Silva (prima-irmã), Nilva Rodrigues Cunha (prima-irmã) e Terezinha Alves (prima-primeira).
Além de fotos e citações textuais dessas cinco mestras da cultura Calon, a exposição apresenta, em fotos e gifs (e num segundo momento vídeos), suas filhas e netas, reunindo outras 20 ‘Calins’ mato-grossenses de várias idades.
“Construímos um material rico em simbologias e elementos culturais e identitários das mulheres Calins, com o principal objetivo de quebrar os estereótipos sobre este universo e mostrar a diversidade dentro da própria comunidade”, pondera Rodrigo Zaiden.
“Quando elas se virem, vão sentir orgulho de si mesmas. Saber que essa é a nossa história e estamos conseguindo mostrar para as pessoas, deixa o meu coração cheio de amor e felicidade. A exposição nos fortalece, porque através das fotos, não apenas conseguiremos nos ver, como também outras mulheres ciganas poderão se reconhecer em nós”, conclui Fernanda Caiado.