O evento faz parte do Projeto Aldeia Urbana, que visa trazer os costumes da aldeia para a cidade
Com muitos cantos, danças e pinturas corporais, o povo Shanenawa reuniu diversos turistas do Brasil e até da Rússia em um retiro cultural indígena, realizado no último fim de semana, em um hotel de Rio Branco, capital do Acre. Essa foi a forma que os indígenas escolheram para demonstrar a cultura da etnia e gerar experiência com trabalho de cura e saberes da floresta.
Esse foi o objetivo da primeira edição do retiro cultural. O evento promoveu a vivência entre os participantes e indígenas na capital acreana.
O evento faz parte do Projeto Aldeia Urbana, que visa trazer alguns costumes da aldeia para a cidade. “Estamos buscando esse contato com nós mesmos acreanos, que estamos aqui, e que não temos acesso às aldeias. Estamos com esse projeto de trazer a aldeia para a cidade”, destacou o proprietário do hotel, Victor Pontes.
Pedro Silvino Shanenawa, representante dos indígenas, explicou que, entre os costumes do povo, alguns remetem ao processo de cura no xamanismo com o conhecimento da diversidade biológica das florestas nas áreas medicinal e espiritual.
Reda”Dentro desse conhecimento trazemos fortalecimento de toda população desde os mais velhos até as crianças. Dentro disso inclui o povo Shanenawa que trazemos hoje, na capital, estamos fazendo essa festa, trazendo o benefício espiritual”, frisou.
O retiro também contou com exposição de artesanato, cerimônia com UNI, que é chá de ayahuasca, uso de rapé, sananga e outras atividades. “Nossa cultura é muito viva, temos na nossa comunidade sanai, nossa bebida tradicional. Nossa vivência é bem tradicional, apesar de entrar a cultura do não índio no nosso povo hoje estamos tentando revitalizar nossa cultura”, contou o aprendiz de pajé, Xanupá, Shanenawa.
Turistas
Além de rio-branquenses, o retiro atraiu turistas de várias regiões do Brasil e da Rússia. Já acostumada com o idioma, a russa Tatiana Perkova, que passa pelo Brasil pela terceira vez, esteve no evento durante a primeira visita ao Acre.
“Passei já um mês e meio no Acre visitando diversos povos, diferentes tribos e adorei a experiência. É muito importante para todo mundo, não só para as pessoas do Brasil, conhecer essa cultura com muito conhecimento ancestral e cura para a gente”, falou a turista.
O autônomo Fábio Nunes, que é de Sergipe, acompanha Tatiana na visita às terras acreanas. Ele descreveu a experiência como algo mágico e surreal. “A gente, às vezes, só ver em documentário, em TV, vídeos, mas vindo para cá vivenciar isso é algo indescritível”, pontuou.
O Projeto Aldeia Urbana já prevê novas atividades e terá como foco o sagrado feminino e será conduzido por lideranças femininas indígenas. A data ainda não foi definida. “Estão surgindo várias lideranças mulheres, que não é da cultura, isso é uma tradição dos homens, porém, no século 21, na modernização, na tecnologia da informação, os indígenas também estão passando o bastão para as mulheres”, descreveu Victor Pontes.
*escrito por Aline Nascimento e Murilo Lima