Imigrantes seguem acampados em ponte do AC que faz fronteira com Peru

Autoridades afirmam que previsão é que mais imigrantes cheguem e pedem intervenção do governo federal para resolver situação

O número de imigrantes haitianos que ocupam a Ponte da Integração que liga a cidade acreana de Assis Brasil à cidade peruana Iñapari chega a 400. O grupo, que antes era de 300 pessoas, começou a se concentrar no local nesse domingo (14) na tentativa de passar para o lado do Peru e de lá seguir viagem para o Equador e México.

No entanto, com a fronteira fechada por conta da pandemia da Covid-19, eles estão impedidos pelas autoridades peruanas de atravessar. A equipe da Rede Amazônica entrou em contato com o consulado do Peru no Acre e aguarda um retorno sobre a situação.

Nesta segunda-feira (15), o prefeito do interior do Acre, Jerry Correia, em entrevista ao Bom dia Acre, disse que a situação ainda é crítica pediu intervenção federal.

Foto: Arquivo Pessoal

 “Nós como prefeitura continuamos dando assistência a eles; são homens, mulheres, muitas crianças e mulheres grávidas. Improvisamos com lonas as tendas, mas choveu muito no dia de ontem [domingo,14], essas pessoas ficaram na chuva. Servimos 350 refeições no almoço e na janta servimos 400 refeições. Hoje pela manhã, a situação é igual, eles permanecem na ponte. Nós insistimos ontem que, pelo menos, as mulheres e crianças voltassem para os abrigos, mas não voltaram. E hoje pela manhã, a prefeitura de Iñapari está servindo o café da manhã”, disse o prefeito.

A fronteira do Acre com o Peru está fechada desde março de 2020. Nesse período, diversos imigrantes chegaram em Assis Brasil, onde foram alojados em abrigos e mantidos pela prefeitura. A cidade chegou a decretar situação de emergência.

Os imigrantes começaram a deixar a cidade a partir do mês de julho. Em janeiro deste ano, a prefeitura abrigava apenas um cubano na Escola Municipal Edilsa Maria Batista. Na época, o prefeito recém-empossado, Correia, afirmou que faria uma auditoria para saber quanto foi gasto pela gestão passada com a questão imigratória e qual montante de dívidas que a cidade acumulou.

O prefeito voltou a dizer que a situação precisa de atenção por parte das autoridades federais e pediu intervenção. Ele disse ainda que no ano passado o governo federal chegou a enviar R$ 600 mil para construção de abrigo e auxiliar com assistência dos imigrantes e o governo do estado mais R$ 130 mil. Mas, afirmou que a situação não pode continuar como está e que o governo federal precisa negociar com o governo peruano.

Foto: Reprodução

 “Nós não queremos, a população de Assis Brasil, não quer permanecer recebendo ajuda, seja do governo estadual ou federal, para simplesmente continuar amparando essas pessoas sem ter as mínimas condições para atendê-los. Pedimos que as autoridades olhem para a situação que estamos vivendo, isso aqui é um barril de pólvora. Temos aqui hoje 400 pessoas na ponte, esse número pode aumentar.”

Corredor de passagem

Para o prefeito, uma solução seria o governo brasileiro negociar a abertura da fronteira com o governo peruano, uma vez que os imigrantes querem somente passar para chegar aos seus destinos.

“O governo federal precisa dialogar com o governo peruano, criando um corredor de passagem para essas pessoas. Essas pessoas querem simplesmente passar pelo Peru, chegando na fronteira, entrando nos ônibus e seguindo para seu destino. Caso contrário, interrompesse o fluxo, porque não param de chegar imigrantes com destino a Assis Brasil, ficando represados aqui na nossa cidade”, falou Correia.

Ele informou ainda que esses imigrantes fazem parte dos que fizeram a fronteira do Acre com Peru como uma rota de entrada para o Brasil entre os anos de 2010 e 2016, durante crise no Haiti.

Foto: Arquivo Pessoal

Na época, a informação era de que mais de 50 mil imigrantes entraram no país por essa rota. Agora, eles fazem o caminho inverso, por conta da situação de crise, em busca de emprego em outras localidades.

“Eles vêm de diversas cidades do Brasil, especialmente São Paulo. São pessoas que há anos atrás entraram no país, em busca de dias melhores com aquela situação que ocorreu no Haiti. Algumas delas estão há cinco, sete, até 10 anos aqui no nosso país. Mas, com a crise, perderam seus empregos e estão fazendo o caminho inverso. Voltando pela mesma rota e querem procurar outros países em busca de trabalho. Mas quando chegam aqui, eles encontram a fronteira fechada e vão ficando aqui em Assis Brasil.”

Restante da cidade abandonada, diz prefeito

Com as atenções voltadas todas para o atendimento aos imigrantes, o prefeito informou que os demais serviços da cidade estão praticamente parados. Segundo ele, ruas e ramais estão sem manutenção e, por isso, bairros e comunidades rurais estão quase que isolados.

“Praticamente abandonamos as outras funções da prefeitura. Boa parte da equipe da Secretaria de Assistência Social está isolada por ter testado positivo para Covid-19. E nós tivemos que reforçar com outros servidores das demais secretarias. É uma prefeitura pequena, com poucos servidores e está quase que por inteiro dedicada a essa causa, e temos uma cidade com tantos problemas, uma cidade com população carente, desempregada e que precisa também de auxílio.”

Correia voltou a falar que a situação é grave e pediu ajuda. “A situação é gravíssima em Assis Brasil, as autoridades têm que olhar isso como uma prioridade. É uma política de responsabilidade do governo federal, que não pode se omitir nesse momento e nem se contentar em simplesmente estar mandando auxilio”, finalizou.

*escrito por Iryá Rodrigues

Publicidade
Publicidade

Relacionadas:

Mais acessadas:

Pará perde Mestre Laurentino; artista completaria 99 anos em janeiro de 2025

Natural da cidade de Ponta de Pedras, na Ilha do Marajó, ele era conhecido como o roqueiro mais antigo do Brasil.

Leia também

Publicidade