José Wandres descreve o processo desde 2010 e propõe a criação de um centro de cultura na aldeia de Marechal Thaumaturgo, no Acre.
Um projeto para criar um centro de Cultura e Educação na aldeia dos Shawãdawa, em Marechal Thaumaturgo, no Acre. Essa é uma das propostas que José Wandres Shawãdawas, conhecido como Hūduã Shãwã, apresenta ao descrever um estudo que alerta para uma possível extinção da língua materna de seu povo. Segundo ele, essa seria a forma de preservar a cultura do povo.
O povo Shawãdawa também é conhecido como Arara. Na história descrita no site da Comissão Pró-índio (CPI-AC), diz que um branco andava caçando na mata e o índio Arara também, quando os dois se encontraram e o branco perguntou: “Como é o nome do seu povo, compadre?”. O índio não entendeu a pergunta, mas ele tinha matado uma arara, levantou a arara e mostrou pro branco. Com isso, o branco entendeu: “Ah, o nome do teu povo é Arara”.
De acordo com a comissão, as terras indígenas se concentram no Igarapé Humaitá, com 87.572 hectares e Jaminawa Arara do Rio Bajé, com 28.926 hectares e que abrangem as cidades de Porto Walter, Tarauacá, Marechal Thaumaturgo e Jordão.
Hūduã diz que, como professor e pesquisador, faz uma pesquisa de levantamento linguístico para que a língua não seja extinta. Ele relata que em 2010, quando o então ministro da Cultura Jucá Ferreira esteve no Acre, foi entregue uma carta mostrando a importância do projeto.
“A partir de então começou-se o registro de tudo que se pudesse pensar para que o projeto se concretizasse. Nessa primeira etapa, iniciamos um processo de coleta, registro, gravação de vocabulário que ainda estava na memória dos falantes. Com objetivo de dar uma maior visibilidade e maior uso para apoio aos professores em seu processo de ensino-aprendizado”, destaca.
Ele afirma ainda que há um descaso por parte do poder público no incentivo para que essa característica cultural seja preservada. “E até hoje os governos estadual e federal, que tem o dever de nos ajudar a retomar ou resgatar nossa língua perdida no período de colonização do território demarcado, não têm nos dando subsídios para esse problema”, declara.
O pesquisador informa também que o resgate da língua materna é importante para manter as formas linguísticas características da identidade de um povo.
“Com essa proposta inicial, percebemos a importância de parcerias das Secretarias de Educação Municipais e Estaduais, ONGs e Universidades, quanto à formação do professor indígena através de propostas de ensino que promovam à transmissão de conhecimentos baseados na valorização de sua cultura”, diz.
Ele contou que tem acompanhado todo esse processo desde 2010. Para evitar a extinção da língua, ele sugere retomar, através do registro sistematizado, os conhecimentos linguísticos Ãdá Shãwã para contribuir com o processo de ensino da língua materna no espaço educacional Pêshê Sãwã da Terra Indígena Jaminawa-Arara com ênfase na retomada e resgate da língua e da cultura dos indígenas no contexto do cenário da Amazônia Acreana.
O tema é levantado por ele, inclusive, na tese de mestrado. O objetivo é focar na educação de indígenas e ter apoio do poder público para que isso seja feito efetivamente nesses locais:
“A formação do professor indígena é uma preocupação recente que decorre, dentre outros fatores, do reconhecimento da educação escolar indígena como direito subjetivo desses povos. Sabemos também das grandes contribuições e influências linguísticas dos povos nativos para a formação da cultura diversificada no cenário amazônico, o que enfatiza a importância da participação dos professores indígenas em programas de formação docente específica às suas realidades socioculturais e históricas. Enfim, o tema deste projeto é de extrema importância para que os Shãwã podem contribuir para a causa do reconhecimento das culturas nativas tão esquecidas, e a valorização, retomada e uso dos conhecimentos linguísticos que é uma riqueza cultural que não deve ser perdida”.
*Por Tácita Muniz, do g1 Acre