Artesão une sementes e sobras de madeiras nativas da floresta a ouro e prata para criar biojoias

Artesão César Farias, que é ourives, usa sementes da Amazônia e sobras de madeira para criar biojoias.

A paixão pelo meio ambiente e pela sustentabilidade, mesmo antes de o assunto se tomar uma preocupação mundial, fez com que o artesão Cícero César de Farias França, de 57 anos, unisse duas paixões: a ourivesaria e as riquezas da floresta.

Ele, que se intitula um autodidata, e é mais conhecido por Cesar Farias, usa sementes da floresta e restos de madeira para esculpir peças que viram biojoias rústicas e, ao mesmo tempo, delicadas que agradam a todos os gostos.

Farias conta que herdou a profissão do pai, que foi o pioneiro no Acre na profissão de ourives. Ele fala que o pai começou a trabalhar com joias quando chegou ao estado, em 1942.

“Meu, pai José Farias, veio do Ceará trazendo ourivesaria na mala. De lá para cá, conheceu a Deusa e se casou. As alianças ele mesmo confeccionou em Tarauacá (AC). Depois veio para Rio Branco com uma penca de menino para criar, nessa época eu ainda não tinha nascido, pois sou o mais novo. A casa de joias dele foi a primeira daqui”, diz.

O artesão fala que é o único dos filhos que seguiu os passos do pai e que, inclusive, nasceu dentro de uma ourivesaria. Ele diz que começou a trabalhar ainda em 1984 e, de lá pra cá, foi percebendo que podia dar vida às peças usando matéria-prima tirada da natureza.

 “Trabalho com ouro, prata e também com aço cirúrgico, nasci dentro de uma ourivesaria, meu pai passou esse ofício para a minha mãe também e ela criou os todos os filhos trabalhando com ourivesaria. Agora, nesse momento, estou trabalhando com madeira, sou pioneiro nesse trabalho de associar metais nobres às sementes da floresta.”

Farias é um conhecido artista de Rio Branco, famoso por seu trabalho como cantor, repentista e artesão. Ele lembra começou a criar as biojoias na época em que servia o Exército.

“Eu era da Infantaria de Selva e passava boa parte do tempo na mata, então, colhia sementes para fazer artesanato e me distrair. Comecei a desenvolver esse trabalho em uma época que ainda não existia esse conceito de biojoias. Quem fazia anéis, colares e pulseiras com sementes eram apenas os índios”, acrescenta.

Matéria-prima da natureza

Dentre as sementes que o artesão usa estão a jarina, tucumã e o murumuru. Já as madeiras que ele reutiliza são o roxinho, muiricatiara, paxiúba, aroeira e a sucupira. O autoditada fala que a criatividade e as escolhas para criar as peças, que ele chama de “joias sustentáveis”, vêm do que seu conhecimento e estudos que fez com produtos regionais.

“A matéria-prima da floresta é o que eu vou achando bacana e que eu sei que tem dureza e que vai ficar bonito.”

Farias conta ainda que já ganhou alguns prêmios com a produção de biojoias e que já formou muitos artesãos passando seu conhecimento.

“Já rodei esse mundo todo, agora que eu estou mais parado. Bem antes de a ecologia virar moda eu já vinha falando da sustentabilidade, bem atrás, sou pioneiro nessa área. No Acre, quem trabalha com esse tipo de artesanato ou aprendeu comigo ou aprendeu com quem aprendeu comigo.”

Produção e vendas

Para produzir as peças com sementes da Amazônia, madeiras, ouro e prata, ele diz que a matéria-prima sustentável precisa ser resistente por causa do processo de produção.

“Trabalho muito com semente e agora eu estou em uma fase de madeira, estou trabalhando com a muiracatiara, é chamada de madeira do tigre por ter coloração e lembrar a pelagem dos tigres. A muiracatiara tem uma grande resistência. O roxinho é uma madeira muito dura, que ninguém gosta de trabalhar por causa da dureza, mas a dureza é o grande lance, para a ourivesaria é bom por causa da resistência”, explica.

Ele fala ainda que os preços são acessíveis, mas depende da peça, tamanho, tipo de produto usado e produção.

“Os preços variam, um par e brinco, por exemplo, é na média de R$ 50, um colar é R$ 80, mas já fiz peça de R$ 2 mil, R$ 3 mil, com rouxinho associado a pedras preciosas, pois também sou lapidador, já trabalhei dois anos com lapidação de pedras em Goiás. Dependendo da peça eu fico uns dois, três dias trabalhando, mas tem peça simples que a gente faz até umas cinco por dia.”

César finaliza dizendo que a originalidade é o segredo de seu trabalho.

“São exclusivas, uma peça nunca sai completamente igual à outra. Há ainda a opção de a pessoas pensarem junto comigo, o que eu acho bom. Meu trabalho é diferente do que a pessoa compra na vitrine, no meu a alma da pessoa vai junto.”

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