Manoel Martins Vidal: uma história com a Vila de Serpa, a atual Itacoatiara

Esse português como tantos outros que imigraram para a Amazônia começaram a desbravar vilas e cidades. Cidadão imigrante, homem quase desconhecido, mas que deram o seu melhor, criaram e recriaram seus espaços ajudando a emanar no tempo, na terra e no espaço que escolheram para fincar suas raízes.

Foi realmente nesses tempos difíceis, sem as possibilidades da modernidade da técnica e de utensílios capazes, que homens como Manoel Martins Vidal foram de tempera rígida, imigrantes chegados de seu país de origem, deixando tudo para trás, para embrenharem-se na floresta virgem quase inacessível e inabitável, levado aos lugares mais distantes do Amazonas, o espírito do construtor que vai preparar o seu novo habitar para seus filhos, uma nova terra de muitas promessas daquele embrião de cidade banhada pelo rio Amazonas.

Manoel Martins Vidal. Foto: Acervo/Abrahim Baze

Seus descendentes em Portugal na expectativa da descoberta de suas origens iniciaram a busca de elementos para registrar a passagem deles por aqui. O sentimento de seus familiares foi trazer a lume a comunhão entre eles com sentimento de que estiveram em terras onde ele pisou, como se aqui, eles estivem presentes nas suas próprias vidas.

Foi uma busca longa e de muito trabalho, porém, é a forma de contribuir para sociedade de hoje de tudo quanto ele aqui contribuiu para o desenvolvimento daquela pequena cidade que acabara de nascer.

Manoel Martins Vidal nasceu no Alto do Minho, mas, propriamente em São Pedro da Torre, Valença em Portugal. Filho de Pedro Martins Vidal, de ascendência alemã e de Maria Martins Vidal, de ascendência espanhola, imigrou muito novo para o Brasil, aventurando-se no coração da Amazônia, onde deixou marcas de sua passagem. 

Nasceu no dia 24 de dezembro de 1832 e teria vindo para o lugar de  Vila de Serpa, mais tarde Vila de Serpa e atual município de Itacoatiara onde instalou-se e dedicou-se a uma atividade comercial, especialmente a exploração e produção de cacau, exportação de borracha e outros manufaturados. Nessa região casou-se por volta de 1860 com a senhora Clara Coelho de Abreu natural do município de Barreirinha e filha de Pedro e Maria Coelho de Abreu, tendo nascido vários filhos deste casamento. 

Pelas suas virtudes de conceituado comerciante e professando a religião Católica e Apostólica Romana, segundo seus descendentes de Portugal, cooperou na construção da primitiva igreja como também em diversas construções de habitação e armazéns junto ao porto de embarque, dedicando-se a exportação de produtos regionais para a Europa pela importância que tinha e tem até os dias atuais o porto de Itacoatiara. 

Ainda com informações de seus familiares ele foi possuidor de áreas de terras junto aos rios Madeira e Solimões. Entre essas áreas encontrava-se a época a famosa Ilha do Monte Cristo, terras no Puraquequara e nos Igarapés de Santa Quitéria e de Sarapó, tendo possuído através de concessões outras propriedades de seringais. 

Como fato relevante na nossa história, Manoel Martins Vidal participou no dia 24 do mês de junho de 1858 no ato solene da Constituição da Vila de Serpa, estando presente na primeira sessão da nova Câmara Municipal como testemunha do fato histórico e um dos principais comerciantes naquele lugar. 

A primeira Ata da sessão solene relativa a inauguração e constituição da passagem deste lugar a Vila de Serpa foi assinada pelo presidente interino e pelo secretario da Câmara Municipal da Vila de Silves, respectivamente Salustiano de Oliveira e Fidelis Alves da Costa, pelos Vereadores eleitos para nova Câmara Municipal da Vila de Serpa nomeadamente Manuel Joaquim da Costa Pinheiro Presidente, Antonio José Serrudo Martins, Damaso de Souza Barriga, Agostinho Domingos de Carvalho, Raimundo Candido Ferraz, João da Cruz Pinheiro, Manoel Porfírio Delgado e tantos outros que assinam a Ata de fundação inclusive Manoel Martins Vidal.

Veja partes do documento:

Foto: Acervo/Abrahim Baze

Foto: Acervo/Abrahim Baze

Foto: Acervo/Abrahim Baze

Era um comerciante extremamente estimado na cidade e com o era comum na época tornava-se padrinho dos filhos de seus fregueses. Antônio José Serrudo Martins, o qual sucedeu pouco tempo depois Joaquim da Costa Pinheiro da Presidência da Câmara Municipal foi padrinho da filha Virginia de Manoel Martins Vidal. Damasio Souza Barriga que achava-se no exercício do cargo de Subdelegado de Polícia em 1861, também foi padrinho de batismo da filha Damasia. Ainda como comenta a família Manoel Martins Vidal tinha um dos principais estabelecimentos comerciais da Vila de Serpa no período de 1866/1867. Manoel da Silva Vidal era extremamente generoso e procurava pagar bem aqueles que trabalhavam em suas terras. Ainda segundo seus familiares pelos seus relevantes serviços ao estado, a Igreja e a sociedade a qual lhe foi atribuído o titulo de Barão de Serpa e de Barão de Puraquequara. Neste período trouxe ao mundo quatro filhos Virginia em 1861, Damasia em janeiro de 1863, Manuel em 1864 e Maria Virginia em maio de 1865. O primeiro e o terceiro faleceram pouco tempo depois de seu nascimento.

Entre 1866 e 1867, já com algumas economias amealhadas transferiu-se para Manaus com atividade comercial fornecendo produtos ao longo do Rio Amazonas cobrindo a Vila de Serpa, Codajás e Manaus. Entre 1873 e 1874 manteve seu estabelecimento comercial na Rua Barés, Freguesia de Nossa Senhora da Conceição Bairro dos Remédios e outro na freguesia Nossa Senhora das Graças em Codajás.  

Aqui em Manaus a família cresceu e vieram ao mundo outros filhos Ana em abril de 1867, Manoel em junho de 1868, Ines em maio de 1870, Rosa em março de 1872, Fugêncio em janeiro de 1874, Domingos em novembro de 1876, Adrião em março de 1879 e Felisbela em 1881. Dedicou-se também a Construção Civil de Imóveis sendo autor dos projetos dos prédios construídos nos arredores do Centro, junto ao Mercado e tornando-se proprietário de vários imóveis na Rua dos Barés, Mundurucus, Rua dos Andradas, Rua Dr. Moreira antiga Rua Oriental, Rua Pedro e no distante a época Bairro da Cachoeirinha. Foram cerca de dez anos de intensa construção.

Fugêncio Martins Vidal, em Manaus (1903). Foto: Acervo/Abrahim Baze

Em meados de 1890 tomou a decisão de retornar a Portugal tendo passado uma procuração a seu filho Manoel Martins Vidal Júnior e ao seu genro Polidoro Rodrigues Pessoa, dando-lhes plenos poderes para representá-lo em todos os negócios inerentes ao seu patrimônio, tendo ficado em Manaus sua esposa Clara Coelho de Abreu Vidal que veio a falecer com 64 anos em Manaus no dia 16 de junho de 1907. 

Em Portugal Manoel Martins Vidal fixa-se inicialmente em Vila Nova de Gaia e posteriormente na cidade do Porto, onde veio a falecer em 21 de outubro de 1908.

Da sua descendência a família orgulha-se, pois seus filhos deram nome e relevo a sociedade brasileira onde estudaram na Europa e em várias cidades tais como: Berlim, Londres, Geneve e Lisboa. Também constituíram família em diversos países: Argentina, Inglaterra, Portugal e no Brasil nas cidades do Rio de Janeiro, Brasília, Salvador e Manaus.

Fugêncio Martins Vidal, em Londres (1912). Foto: Acervo/Abrahim Baze

*Informações fornecidas por Jorge Manuel de Macedo Martins Vidal. 

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