João Valente de Miranda Leão tornou-se Dr. em Medicina pela Faculdade Nacional de Medicina do Rio de Janeiro turma de 1925, onde defendeu tese “Indicações Clinicas da Cesariana Mutiladora”, aprovado com distinção em março de 1926. Foi médico por concurso do Hospital Central da Marinha do Rio de Janeiro, entre 1923 e 1925, fez residência no Instituto de Proteção e Assistência a Infância do Hospital Moncorvo Filho, serviço dos professores Pedro da Cunha e Oby Loyola entre 1926 a 1927.
Introdutor da Escola Alemã de Pediatria
De retorno a sua terra natal Manaus, atuou como médico do Serviço de Saúde dos Portos e do Serviço de Saneamento Rural do Estado do Amazonas então sob a direção Samuel Uchoa entre 1927 a 1928. Convidado por aquele ilustre médico da esfera federal o qual fora transferido para o estado do Ceará, o Dr. João Valente de Miranda Leão, foi para Fortaleza, onde trabalhou inicialmente no Serviço de Saneamento Rural e depois como diretor do Abrigo Hospital Demosthenes de Carvalho Serviço de Pediatria entre 1929 a 1930.
Nesse mesmo ano contraiu núpcias com a jovem professora amazonense Virginia Gomes Bezerra, de cujo enlace nasceu os seguintes filhos Luiz, Júlia e Reynaldo. Manteve por um bom período consultório aberto nas cidades de Manaus e do Rio de Janeiro, onde exerceu de forma ininterrupta sua clinica pediátrica particular, fazendo com proficiência a clinica médica sempre como um profissional de desprendimento e muito sentido humanista.
Foi o introdutor da moderna Escola Alemã de Pediatria em nosso meio. Ao contrario da Escola Francesa que enfocava a pediatria como simples especialidade, a Escola Alemã possuía uma visão sistêmica da pediatria, ou seja, toda a medicina aplicada a uma faixa etária da vida.
Foi também médico por concurso do Departamento Estadual de Saúde entre 1931 a 1958, diretor do Departamento de Pediatria da Santa Casa de Misericórdia entre 1947 a 1957, diretor do Hospital Infantil Olga Barroso em convênio com a Universidade Federal do Ceará entre 1962 a 1967, médico puericultor da LBA entre 1951 a 1977.
Professor e um dos fundadores da Faculdade de Medicina, João Valente de Miranda Leão não mediu esforços para sua concretização, ao lado de nomes como Jurandir Picanço, Newton Gonçalves, Saraiva Leão, Valdemar Alcântara, Otávio Lobo e tantos outros, isso para citar apenas alguns dos pioneiros dessa notável realização a qual o presidente Juscelino Kubitscheck deu apoio. João Valente de Miranda Leão tornou-se depois professor emérito da referida Universidade, justo pleito a quem tanto fez por aquela Instituição na qual exerceu também a função de chefe do Departamento de Pediatria.
Pronunciou diversas conferências, palestras e aulas inaugurais, em especial uma sobre Etilismo na Semana Antialcoólica Promovida pela Secretaria de Educação do Amazonas e Sobre o Tabagismo, ambas em Manaus entre 1928 e 1929 e outra sobre a influenza para o corpo médico do Hospital Jesus em 1938.
Vale a pena assinalar ainda o discurso de recepção ao professor Martinho da Rocha, titular da Faculdade Nacional de Medicina em 1950 e sua atuação como representante da Faculdade de Medicina no Congresso de Pediatria em Recife em 1957. Coube-lhe também presidir a Jornada de Pediatria realizada no Crato e ministrar aula inaugural no Curso de Cirurgia Infantil do professor Newton Gonçalves em 1962, assim como saudar o pioneiro da Anatomia Humana do Instituto Anatômico Andréas Versalius, no quarto centenário da morte daquele mestre em 1964. Foi ainda orador oficial das comemorações alusivas ao jubileu de ouro dos formandos de 1925 na cidade do Rio de Janeiro em 1975.
O Dr. José Valente de Miranda Leão entre 1930 a 1970 publicou dezenas de artigos nas revistas médicas do Amazonas, Ceará, Pernambuco e Rio de Janeiro, assim como na imprensa desses estados, sobre temas de clinica médica tais como: Diagnostico Diferencial em Pneumonia, Antibioticoterapia, Febre Reumática, Avitaminose. Destes sobressaem a memoria apresentada como representante do Ceará no Primeiro Congresso de Pediatria e Puericultura na cidade do Rio de Janeiro sobre Distúrbios Nutritivos do Lactente e Vinda a Lume nos anais desse Congresso em 1933. Distrofia Alipogenética, Megacolo Congênito (Doença de Hirschprung) em 1934, Linfogranulomatose Venérea em Criança (Doença de NicholasFavre), Anatomopatologia da Gastrenterite em 1936, publicou também a biografia do Dr. Wolferstan Thomas, patologista da Escola de Medicina Tropical de Liverpool, radicado e falecido em Manaus em 1937 e Desnutrição no Meio Escolar de Fortaleza publicado na revista do Instituto de Pediatria e Puericultura, serviço do professor Martagão Gesteira no Rio de Janeiro em 1958.
Simplicidade e Cultura Enciclopédica
Embora fosse pessoa extremamente simples era profundo cultor do vernáculo, do latim e do grego. O Dr. João Valente de Miranda Leão conhecia bem o italiano, lia e falava com fluência o francês e o alemão, voltando-se a dedicar-se aprender e a dominar o inglês, neste período já residia no Rio de Janeiro. Cinéfilo desde tempos do filme mudo o tinha em alta conta o poder avassalador da imagem cinematográfica e a importância do cinema como nova e instigante forma de arte, notadamente após a introdução do áudio, valorizador do silêncio o que lhe permitia entender a nobre arte.
Também cultor do xadrez, praticou-o amiúde com seu colega Oswaldo Cruz Filho, filho do professor Oswaldo Cruz, quando estudante de medicina. Iniciou-se neste jogo depois de alguns ensinamentos da arte de Capablanca, a quem conhecera pessoalmente quando das andanças do cubano campeão mundial. Estudioso da filosofia teve o privilegio na cidade do Rio do Janeiro o filosofo Herman Von Keyserling.
Em família era o pai amigo, sempre pronto a tirar as dúvidas, mestre dedicado, médico capaz de exercer a profissão como um sacerdócio, deixou o doutor João Valente de Miranda Leão um legado por mais significativo. Membro Honorário da Sociedade Cearense de Pediatria, Cidadão Cearense concedido pela Assembleia Legislativa, professor emérito da Universidade Federal do Ceará, empresta seu nome a uma rua no bairro do Outeiro em Fortaleza.
O Dr. João Valente de Miranda Leão deixou saudades e um vazio indivisíveis em todos os seus descendentes e escreveu uma das mais belas páginas da historia da medicina no Brasil e naturalmente com grande orgulho para o Amazonas.
Professor da Universidade Federal do Ceará –L. G. de Miranda Leão.