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Sábado, 27 Abril 2024

"É algo chocante e muito triste": a relação do Cabaré Chinelo e as prostitutas da Belle Époque em Manaus

mulheres

Mulata, Balbina, Antonieta, Soulanger, Felícia, Laura, Joana, Luiza, Enedina, Sarah, Maria e Gaivota. Talvez, esses nomes não signifiquem nada para você, mas as mulheres citadas viveram na Belle Époque de Manaus (AM) e fazem parte de um recorte triste da capital amazonense do século XX.

E esse recorte pode ser visto no espetáculo musical 'Cabaré Chinelo' , apresentado há mais de um ano pelo Ateliê 23. A obra é inspirada na pesquisa de Narciso Freitas e em parceria com a companhia de teatro argentina García Sathicq. 

O espetáculo surpreende o público por colocar foco no esquema de tráfico internacional e sexual no início do século XX em Manaus.

Espetáculo mostra a vida de prostitutas no Cabaré Chinelo. Foto: Diego Oliveira/Portal Amazônia

Inclusive, a pesquisa do historiador Narciso Freitas virou um jornal que é utilizado em momentos de interatividade do espetáculo. O material pode ser acessado pelos espectadores através de um QR Code. São quatro momentos da peça em que os materiais são utilizados e fazem o público imergir nas histórias das prostitutas que trabalhavam no Cabaré Chinelo.

A atriz Vivian Oliveira, que vive a cafetina Mulata, afirma que as histórias dessas mulheres ficaram escondidas durante 100 anos e através da pesquisa de Freitas foi possível catalogar e conhecer a origem de 300 mulheres que viveram na prostituição. "A maioria dessas mulheres achava que tinham encontrado um príncipe encantado, quando na verdade o tal homem era um kafeter, daí se originou a palavra cafetão, que eram judeus que captavam essas mulheres e traziam para o Brasil", contou a atriz ao Portal Amazônia.

Localizado na antiga esquina da rua do governador Vitório (Rua dos Armazéns - Rua de Deus Padres) está localizado o Hotel Cassina, construído em 1899. O hotel era o reflexo do Ciclo da Borracha, época em que Manaus vivia o seu apogeu. Porém, após o setor sofrer uma queda e a economia da cidade ficar abalada, o prédio se transformou em pensão e recebeu o nome de 'Cabaré Chinelo'.

Leia também: Hotel Cassina: sucesso e decadência do ícone histórico de Manaus

"As pessoas conhecem a história do Cabaré Chinelo, mas pouco se fala das mulheres que trabalhavam lá. É algo chocante e muito triste. Temos a oportunidade de denunciar essa história nunca contada, dessas mulheres que ficaram escondidas por muito tempo, por mais de 100 anos", 

observou Vivian.
Cabaré Chinelo faz o público entrar na história. Foto: Diego Oliveira/Portal Amazônia

O espetáculo, dado o conteúdo explícito, tem classificação de 18 anos  e o grupo avisa ainda que há 'gatilho': "Contém cenas simbólicas de violência física e sexual contra mulher". 

Tendo estreado em 2023, já tem um currículo de experiência importantes, como a participação em prêmios:

Prêmio José Risonho - FIT Rio Preto 2023

- Prêmio Cenym de Teatro Nacional 2023 - MELHOR ELENCO (indicado)

- Prêmio Cenym de Teatro Nacional 2023 - MELHOR COMPANHIA (indicado)

- Prêmio Cenym de Teatro Nacional 2023 - MELHOR FIGURINO (indicado)

Trilha sonora

A trilha sonora do espetáculo é outra característica única e conta com 15 músicas, como "Somos o Cabaré", "Soulanger", "Maria É Gente", "Prazer, Luiza", "La Muerte", "Moço", "Bom Amigo", "Tatá", "Eu Sou a Maior", "Lobas", "Descanse" e "Grito de Conceição". A composição é de Eric Lima e Sarah Margarido. Já os arranjos são de Guilherme Bonates, Stivisson Menezes e Yago Reis.

O lançamento da trilha sonora original do espetáculo aconteceu no Teatro Amazonas e contou com a participação da Orquestra de Câmara do Amazonas (OCA), além da regência do maestro Marcelo de Jesus. 

"Nós procuramos a musicalidade da época, ou seja, de 100 anos atrás. E percebemos que os ritmos que predominavam eram o jazz e o blues. Fizemos uma mistura com ritmos regionais como o beiradão e um pouco de brega. Criamos um grande compilado de simbologias musicais para trazer o conceito sonoro para o musical", disse o produtor musical Guilherme Bonates.

Confira algumas canções do espetáculo 'Cabaré Chinelo':

Nova Temporada 

A obra sobre as mulheres vítimas de tráfico internacional e sexual no período da Belle Époque chegou repaginada na temporada de 2024. Entre as novidades está o figurino assinado por Eric Lima, com assistência de Andira Angeli e apoio de Sarah Margarido. A ideia, segundo ele, é criar uma atmosfera interna de cabaré ainda mais exacerbada, em que o público perceba mais a vulnerabilidade de cada personagem.

Outro destaque da nova temporada é a adição da atriz Emily Danali, que vai dar vida a uma mulher viúva que chega ao cabaré. Seu enredo combina o fanatismo religioso e a opressão às mulheres. A estreia dela foi uma surpresa, apenas três pessoas do elenco sabiam dessa novidade.

"É uma honra entrar em um espetáculo que se consolidou na capital e fora do Estado. Agora é dar continuidade ao trabalho e alcançar o maior número de pessoas através do 'Cabaré Chinelo", 

afirmou Emily.
Foto: Diego Oliveira/Portal Amazônia

De Manaus para o Brasil 

Em 2023, o espetáculo foi indicado ao 34º Prêmio Shell de Teatro na categoria "Energia que vem da gente" na seleção do júri de São Paulo, pela pesquisa e o trabalho desenvolvido na obra. O elenco também realizou duas apresentações em São Paulo no mês de novembro.

Já este ano, o 'Cabaré Chinelo' retorna ao Teatro B32, em São Paulo, em 30 de março, a partir das 20h. Nos dias 2 e 3 de abril, o espetáculo compõe a programação do 32º Festival de Curitiba, um dos maiores e mais importantes festivais de artes cênicas do Brasil. Os ingressos estão esgotados em todas as sessões.

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