Setor cerâmico do Amazonas perde 50% nas vendas

MANAUS - O setor cerâmico do Amazonas enfrenta dificuldades para eliminar os tijolos estocados por conta da baixa demanda nas comercializações à Manaus e das dificuldades de navegabilidade, principalmente na região do alto rio Negro, em decorrência da vazante. Parte do segmento também está impossibilitada de extrair a argila, matéria-prima utilizada para a fabricação dos produtos, devido a não emissão de um laudo de liberação para a extração do minério, por parte do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

Como resultado do cenário negativo, a categoria registrou no período de janeiro a setembro queda de 50% nas vendas, em comparação a igual período de 2014. O presidente do Sindicato da Indústria de Olaria do Estado do Amazonas, Sandro Augusto Lima, conta que o ano de 2015 deverá encerrar com saldo negativo para o setor por conta de inúmeros fatores que envolvem tanto questões relacionadas a fenômenos naturais como problemas econômicos.

Lima informa que o setor sofre o impacto com a retração no segmento da construção civil e que atualmente boa parte da produção obtida no primeiro semestre do ano ainda está retida em estoque por falta de demanda para a venda do tijolo. “O mercado está fraco. Vivemos um momento diferente e nunca visto antes. Em épocas de vazantes, em anos anteriores, estávamos no pico de produção e de vendas. Enquanto daqui a alguns meses encerraremos o ano e ainda teremos produto estocado para ser comercializado em 2016”, anuncia.

Outro entrave ao desenvolvimento econômico do setor, neste período, é a vazante. Por conta da redução no nível dos rios as embarcações deixaram de transportar tijolos, há duas semanas, às comunidades localizadas na região do Alto Rio Negro. Lima relata que os barcos não conseguem atracar na área portuária devido à seca. “Os barcos estão impossibilitados de descarregar os produtos nessas comunidades. Há duas semanas os tijolos não chegam a esses locais”, disse.

Por conta da queda nas vendas e consequentemente no índice de produção, até o último mês o segmento registrou uma redução estimada entre 25% e 30% na mão de obra.

Falta argila para 2016 O setor cerâmico do Amazonas conta com 33 olarias,das quais cerca de 15 estão impossibilitadas de reabastecer o estoque de matéria-prima para atender à produção para o próximo ano. O presidente explica que a argila deve ser extraída no período de setembro a novembro, processo que é impossibilitado de acontecer nos meses posteriores por conta da chuva. O minério é retirado das áreas de várzea existentes em todo o Estado.

Segundo o presidente, no início deste ano o Iphan informou ao segmento sobre a obrigatoriedade da emissão de um laudo, por parte do próprio Iphan, chamado de ‘carta de anuência’. O documento deverá atestar que o instituto fiscalizou as áreas a serem exploradas e que não há riscos de os trabalhos atingirem áreas consideradas como sítios arqueológicos. Mas, para que as empresas tenham acesso ao documento é necessário solicitá-lo ao Iphan, processo já efetivado pelas 15 olarias.

Sandro Lima relata que há 30 dias o sindicato participou de uma reunião com o Iphan e reforçou o pedido para a emissão da carta. Porém, até o momento o segmento ainda não obteve resposta. “Entre dez a 15 empresas aguardam a emissão da carta de anuência, conforme a determinação do Iphan, neste ano. O instituto deverá fiscalizar as áreas argileiras para saber se locais a serem explorados envolvem algum sítio arqueológico. Porém, até agora nada foi feito.

As empresas deram entrada na solicitação do documento, mas o instituto informou que não tem condições de atender à demanda por falta de mão de obra”, comentou Lima. “Após a emissão deste documento do Iphan o instituto também emitirá um laudo com a permissão final”, completou. A reportagem tentou contato com a superintendência do Iphan, mas até o fechamento da edição não obteve retorno.