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Domingo, 05 Mai 2024

"Nosso costumes": fotógrafo registra tradicional festa de casamento peruana

O fotodocumentalista Carlos Lezama Villantoy explora o 'palpa' e o 'kasarakuy', alguns dos nomes que o casamento recebe nos Andes, no Peru. Uma festa tradicional que sobrevive nos povoados do Vale do Mantaro, em Junín, é a 'palpa': quando as famílias competem saudavelmente para ver quem dá melhores presentes aos noivos.

Em algumas cidades há o princípio pré-colombiano de reciprocidade, em forma de oferendas ou presentes de casamento. Em Huancarani (província de Paucartambo, Cusco), por exemplo, os casamentos incluem a celebração da 'paltasqa' que, ao contrário do 'palpa', conta-se o dinheiro que está ligado às roupas dos noivos e espera-se que a noiva junte mais, como sinal de que o casal vai bem na vida em comum.
Clique feito por Carlos Lezama Villantoy. Foto: Arquivo Pessoal
Brindes e oferendas de casamento são chamados de "jirusqa" em Parccocalla (distrito de Ccarhuayo, província de Quispicanchi, Cusco). Os padrinhos iniciam a cerimônia, seguidos pelos pais e todos os parentes se unem para desejar felicidades aos noivos. "Retratei casamentos muito ostensivos e outros muito humildes. Ambas somam muita beleza", diz Carlos Lezama.

O fotodocumentalista chegava no mesmo dia do casamento e quase sempre sem convite. Segundo ele, foi uma tensão. Ele aparecia com sua câmera, sem ser contratado. Ele explicou aos casamenteiros que seu objetivo não era comercial, que o que ele buscava era retratar a cultura do casamento, que era "tudo por amor à arte". E eles concordaram.

Lezama interessou-se pelas suas roupas, pelas suas feições, igrejas onde diziam o 'sim', pelos rituais, pelos convidados, pelos sons, tudo que envolve a tradição cultural.

"Às vezes, a mídia não olha para esses eventos porque não são notícias. Mas se mergulharmos nesses temas, naquele céu, nas roupas, vamos descobrir que existe beleza, cores, costumes, existe uma nação. O 'palpa', o 'kasarakuy', o casamento, é o que nós peruanos somos. Se estudarmos a competição das famílias dos noivos, veremos que não é nada anacrônico, é contemporâneo. Essas fotos são uma viagem ao que nos representa como peruanos: essas pessoas se divertem, se vestem com orgulho e mantêm nossos costumes. É aquele Peru que às vezes a gente não vê", 

afirma.
Villantoy acompanhou todas as tradições de um casamento. Foto: Arquivo Pessoal

Ele afirma que, ao contar histórias com imagens, percorre-se caminhos não marcados. Assim, o fotojornalista cumpre sua missão: situar as pessoas com seus protagonistas dentro do que são os Andes e da grande atividade que é o centro dessas celebrações, o 'ayni', porque nesses casamentos o que se busca é o bem de toda a comunidade. 

Porque o dinheiro que é preso às roupas do casal com alfinetes ou agulhas, explica, é uma versão da ajuda que se mantém viva nas comunidades andinas. O importante, enfatiza Lezama, é o gesto.

Por trás das lentes, Lezama não busca forçar as imagens ou interferir na situação. "Procuro ver tudo com naturalidade", diz o fotógrafo.

Olhar com luz, permite-lhe encontrar essas imagens. Por exemplo, no interior das igrejas da montanha, onde as pessoas o ajudam a simbolizar melhor as ideias que quer partilhar. Faz parte do acaso, que é o elemento que acompanha qualquer missão jornalística: você não sabe o que vai encontrar.

"Como fotógrafos documentais temos uma missão tão simples e poderosa, ao mesmo tempo, que é o olhar: a fotografia deve parar o tempo para sempre. As festas do Paucartambo ou da Candelária não são as mesmas há 20 anos, tudo está mudando, e temos que contar o que estamos presenciando. Nenhum artifício. A prática nos leva a ter um comportamento honesto e digno, pois a fotografia sempre dignificou", comenta. 

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