“Toda vida gostei de boneca, desde a minha infância, mas me criei no seringal e não tive a oportunidade [de ter uma boneca] e minha mãe fazia aquelas bruxinhas de pano para mim. Não gostava da bruxinha, achava feia. Quando fiquei adulta e vim na cidade pela primeira vez, tinha 27 anos, comprei uma para mim”, relembrou. De acordo com reportagem publicada no G1 Acre, Bolivianinha, a primeira boneca, ainda acompanha dona Francisca.

De lá para cá, seu encantamento pelos brinquedos só cresceu. Hoje, aos 70 anos de idade, a costureira conta com mais de 100 peças, entre bonecas e ursos, de todos os tamanhos.
“São minhas companheiras e minhas filhas”, derrete-se.

No começo, ela acabava ‘adotando’ as bonecas que eram abandonadas pelas filhas.A partir de 2010, no entanto, a coleção de dona Francisca passou a contar com um incremento: bonecas encontradas nos lixos são limpas, restauradas e recebem novas roupinhas. Tudo para incluir novas ‘filhas e companheiras’ à coleção.
“Às vezes eu acho, mas têm umas duas pessoas que catam lixo que trazem para mim. Pedi para elas [catadoras] trazerem para mim. Trazem de mês em mês, de três a quatro por mês. Moradores também vêm doar. Chegam riscadas de caneta, mas descobrimos um produto que a gente passa e coloca no sol e tira. Outras vêm rasgada, sem a barriga, outras só a cabeça e compro o corpo. Dou banho com desinfetante”, revelou.

O amor pelas pequenas companheiras é tão grande que a costureira garante que nunca vendeu ou trocou nenhuma. Mas, como já ocupam todos os cômodos da casa, dona Francisca já considera a possibilidade de abrir mais espaço para as futuras aquisições.
“As que forem [bonecas] repetidas vou começar a vender. Tem muita gente que faz encomenda caso eu queira vender. Vou vender se ficar sem espaço para elas”, complementou.
Boneca que parece bebê

As bonecas são como filhas, mas sempre há alguma mais especial que a outra. Este é o caso de Rosa Linda, uma boneca que custou R$ 1 mil e tem feições de um bebê de verdade. Francisca conta que comprou a a boneca durante uma viagem a Pernambuco.
“Vi passar na televisão a propaganda da boneca. Quando cheguei em Pernambuco, sai com uma mulher que andava com a gente, cheguei em um shopping e tinha um bebê desse de manequim. Perguntei onde encontrava a boneca e ela disse que era em um shopping no Centro da cidade, que uma mulher fazia. No outro dia fomos e encontramos. Tinha o número da mulher, ligamos e ela marcou o dia para a gente buscar na casa dela. Ela tinha cinco modelos e eu gostei mais dessa”, disse.
Francisca revela que os filhos nunca se incomodaram com paixão da mãe. A única mulher entre os três filhos, inclusive, deixou as próprias bonecas para a mãe cuidar depois de que ficou adulta. Além disso, a coleção inclui também doações feitas por vizinhos e amigos.
“Costuro de dia e a noite, enquanto assisto a novela, cuido delas. Me sinto alegre e feliz porque a bichinha vem do lixo, ninguém deu valor, e quando chega aqui levo para o banho, deixo perfeita. Acho que minha casa fica alegre. Entro na casa e sinto que está alegre, cheia de coisas para eu olhar eu moro só”, confirmou.