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Sexta, 19 Abril 2024

Ervas-de-passarinho são pesquisadas para tratamento de câncer em Mato Grosso

CUIABÁ - Já imaginou utilizar ervas-de-passarinho no tratamento de câncer? Pois, professores e estudantes da Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat), em Cáceres, a 220 km de Cuiabá, estão desenvolvendo uma pesquisa que pretende usar plantas hemiparasitas no tratamentos alternativos contra alguns tipos de câncer. Os responsáveis pelo estudo são pesquisadores do grupo Flora Portadora de Substâncias Bioativas (Flobio), da Unemat.De acordo com o professor coordenador do grupo, Arno Rieder, o trabalho aposta na capacidade das plantas de realizar o processo biológico, chamado de 'divisão celular'. As espécies seriam utilizadas para confeccionar remédios fitoterápicos [ramo da medicina que estuda a capacidade curativa das plantas] que pudessem atuar nas celulares cancerosas e diminuir os tumores.Segundo Rieder, muito já se conhece sobre essas plantas em relação ao efeito curativo em outras enfermidades. “A cultura popular nos mostra que existe muito conhecimento acerca da capacidade  das ervas de passarinho. Algumas espécies da Alemanha já mostraram eficácia quando foram transformadas em fármacos, e nossa ideia é testar as daqui do Brasil”, explica. Rieder é pós doutorado em Ciências Biológicas e da Saúde pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e leciona na Unemat.A pesquisa, segundo ele, é realizada com plantas que surgem em áreas urbanas de vários municípios. “Já entrevistamos pessoas que usam essas espécies como remédio em 20 cidades de Mato Grosso. Conseguimos verificar que a maioria delas [das plantas] serve ou é usada para doenças respiratórias. O que o povo sabe sobre essas plantas nos dão pistas iniciais sobre como proceder os estudos”, afirma.
O próximo passo da pesquisa é verificar o que existe de estudo sobre as plantas coletadas, ampliar o trabalho de campo e entender melhor o processo de divisão celular delas, que é acelerado, conta o professor.O trabalho dos pesquisadores foi apresentado no '6º Simpósio Interdisciplinar Sobre Espécies Vegetais Hemiparasitas na Terapia de Tumores/Câncer: Pesquisa básica e clínica', realizado nos dias 12 e 13 de novembro na cidade de Niefern-Öschelbronn, na Alemanha. Rieder apresentou, em alemão e inglês, parte da pesquisa com o tema 'O uso medicinal de hemiparasitas em Mato Grosso'. Antes disso, a pesquisa já havia sido publicada na revista científica internacional 'Journal of Phytomedicine'.A fitoterapia é um ramo da medicina em crescimento e as pesquisas na área são importantes para aumentar o número de opções de tratamentos. “A fitoterapia hoje já é considerada uma alopatia [ramo comum da medicina]. Ela se constitui como uma alternativa para quem indica o tratamento. O Brasil tem uma diversidade de espécies de plantas enorme e está produzindo muita pesquisa na área", disse o professor.Rieder lembra que o grupo de pesquisas Flobio é multidisciplinar, formado por acadêmicos de várias áreas, como medicina, enfermagem, agronomia, biologia e matemática. A pesquisa é importante mesmo que o resultado não seja o programado. “A ciência é importante mesmo se houver uma negativa. Até um resultado que não esperamos nos dá uma resposta sobre alguma coisa”, enfatizou.Segundo a pesquisadora Isanete Geraldini Bieski, doutora em Ciências da Saúde pela UFMT, o medicamento fitoterápico é regulado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), como os remédios sintéticos, e para entrar no mercado passa por alguns testes de qualidade. “Geralmente, verificamos a eficácia dessas plantas no tratamento das doenças a partir do conhecimento popular. Mas os pesquisadores só podem transformar a planta em um remédio após um estudo que comprove a sua eficácia científica. E, após isso, o medicamento poderá ser patenteado e vendido em uma farmácia de fitoterapia ou de manipulação. O processo é rígido e parecido com o da chamada alopatia”, explica.A acadêmica aponta que fármacos gerados a partir de plantas como a erva baleeira [cordia verbenacea] ou a trepadeira unha de gato [uncaria tomentosa] já substituem remédios industrializados usados para combater dores crônicas. Toda a produção da fitoterapia passa por testes farmacológicos em animais e em humanos. Essas fases são chamadas de testes pré-clínicos e clínicos, respectivamente.

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