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Quarta, 24 Abril 2024

Sauins-de-coleira na Europa: iniciativa pode salvar animais da extinção


Sauins-de-coleira que vivem no Durrell Wildlife Park. Foto: Diogo Lagroteria/Cedida

MANAUS – A Ilha de Jersey, localizada no Canal da Mancha, na Europa, abriga um grupo de ilustres cidadãos manauaras. São cerca de 70 sauins-de-coleira que vivem no Durrell Wildlife Park, um centro de conservação de vida silvestre. Os macaquinhos anglo-brasileiros não estão por lá de férias, a permanência deles é estratégica e pode salvar a espécie da extinção no futuro.
“Os bichos são lindos, gordinhos e têm pelo brilhante. São até mais bonitos que os de vida livre que encontramos em Manaus”, avalia o veterinário do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação da Biodiversidade Amazônica (Cepam), Diogo Lagroteria. Ele viu de perto a vida britânica que os animais levam no local, que também chegam a viver até 22 anos. Na natureza eles alcançam cerca de 15 anos.
Os sauins-de-coleira que vivem no Durrell Wildlife Park são objetos de pesquisa e estudos. Eles vivem em recintos que imitam a floresta e, mesmo com a diferença climática, a espécie consegue se reproduzir com tranquilidade. “O local tem áreas abertas e fechadas. Quando o clima está mais quente eles ficam na área externa, quando esfria, entram por túneis em casinhas quentinhas”, conta Lagroteria.
“No Durrell eles são bem tratados e o ambiente é tão bom que eles se reproduzem com bastante frequência. É necessário até tomar medidas para o controle populacional”, relata o veterinário. Na natureza a situação é diferente. Segundo Diogo, devido às condições ambientais na região de Manaus, os animais estão desaparecendo.

Sauins-de-coleira que vivem no Durrell Wildlife Park. Foto: Diogo Lagroteria/Cedida

A reprodução é um dos obstáculos para o sucesso de iniciativas para a conservação de sauins-de-coleira em cativeiro. Os bichos só têm filhotes quando as condições do ambiente em cativeiro são semelhantes às do seu habitat. E nem sempre estas condições simulam adequadamente às naturais.
O sucesso na reprodução de sauins-de-coleira em refúgios como o Durrel pode salvar a espécie da extinção, como aconteceu com o mico-leão-dourado. Há 15 anos, o primata de pelos dourados estava na mesma condição que o amazônida. A situação levou a comunidade científica a unir esforços para evitar o desparecimento da espécie, que já era reproduzida em cativeiro no exterior.

Sauins-de-coleira que vivem no Durrell Wildlife Park. Foto: Diogo Lagroteria/Cedida

“Quando a situação do mico-leão-dourado ficou insustentável, fizeram a recuperação de áreas de Mata Atlântica e trouxeram filhotes que estavam em refúgios nos Estados Unidos e na Europa para o Brasil”, recorda Lagroteria. “Eles se adaptaram e começaram a reproduzir e isso evitou o desparecimento da espécie”, diz. “Se as coisas continuarem como estão, poderemos ter que fazer o mesmo com o sauim de coleira”, completa.
A ilha que abriga o refúgio europeu destes pequenos primatas tem cerca de 120 quilômetros quadrados (km²) e está mais perto da França, a 22 km, que da Inglaterra, a 160 km. Lagroteria acredita que os primeiros sauins de coleira foram levados para o local há mais de 20 anos.
Mas este não é o único lugar fora da Amazônia que mantém o animal símbolo de Manaus. Outros centros de conservação no Brasil e no exterior estão trabalhando para salvar a espécie. A rede Pied tamarin EEP, da qual o Durrell Wildlife Park faz parte, possui mais de 140 instituições.
“No Brasil, temos cinco ou seis instituições que fazem o mesmo trabalho que o Durrell com sauins de coleira, mas só duas têm sucesso com a reprodução: o Zoológico Municipal de Bauru e o Centro de Primatologia do Rio Janeiro”, revela.
Símbolo ameaçado
O sauim-de-coleira é uma das espécies mais ameaçadas da Amazônia. O primata consta na Lista de Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção do Ministério do Meio Ambiente (MMA) como Criticamente em Perigo. Isso quer dizer que ela corre risco extremamente alto de extinção na natureza em um futuro imediato. Este também é o segundo estado de conservação mais grave, antes do total desaparecimento da espécie.

O sauim-de-coleira é um dos símbolos de Manaus. Foto: Diogo Lagroteria/Cedida

A principal razão este cenário é a distribuição restrita a 7.500 km², uma das menores distribuições geográficas conhecidas para primatas brasileiros. O infortúnio do sauim é que este espaço está entre os municípios de Manaus, Rio Preto da Eva e Itacoatiara, na Região Metropolitana de Manaus. A ocupação humana na área cresce desordenadamente e causa desmatamento e fragmentação da floresta.
Para tentar reverter a situação, a entidade Fauna e Flora Consultoria está promovendo uma mobilização pela criação de novas Unidades de Conservação para tirar o sauim-de-coleira do caminho da extinção. A iniciativa pretende reunir 100.000 assinaturas que serão entregues ao poder público federal e estadual, respaldando a reivindicação de criação de novas Unidades e Conservação além das que já existem.

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