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Segunda, 29 Mai 2023

Entenda como é realizado o monitoramento do nível dos rios Negro e Solimões

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Com o início do processo de enchente do rio Amazonas, os alertas sobem e se inicia o processo de adaptação de cidades e comunidades pelo interior. O monitoramento hidrológico é realizado através de projetos e institutos ao redor da Amazônia, como é o caso do Sistema Nacional de Proteção à Defesa Civil (Cemoa), que acompanha a subida diária dos rios da região através de 23 estações automáticas e liminimétricas, localizadas nas calhas do monitoramento da Agência Nacional de Água (ANA) e do Serviço Geológico do Brasil (CPRM).

Além da tecnologia que hoje é utilizada, o acompanhamento da cheia e vazante também é realizado de forma manual. Por exemplo, o Rio Negro é monitorado por uma ilustre figura que trabalha no Porto de Manaus, o seu Valderino. Com 73 anos, Valderino Pereira da Silva é o responsável por realizar a medição do Rio Negro há 35 anos.

Entretanto, seu Valderino não é o único com essa atividade. Mais para o centro do estado do Amazonas, em Tefé, pesquisadores do Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá desenvolveram um projeto de monitoramento com a participação dos ribeirinhos de comunidades próximas.

O Portal Amazônia conversou com Ayan Fleischmann, um dos responsáveis pelo projeto , para falar um pouco sobre a Rede de Monitoramento Hidrometeorológico do Mamirauá.

Foto: Ayan Fleischmann / Cedida

 O projeto está em operação desde o fim do ano de 2022 e é baseado na Rede Hidrometeorológica Nacional, operado pela ANA, com o objetivo de monitorar os recursos hídricos, em especial o nível dos rios e outras variáveis ambientais, além da chuva que ocorre no Brasil.

"Um ponto muito claro para todos é que o clima tem mudado, cheias e secas vem acontecendo com uma frequência bem maior, em especial cheias, aqui na nossa região. Então, tivemos na última década, uma série de cheias extremas que trouxeram grandes impactos para as comunidades ribeirinhas quanto para os ecossistemas da região. Foi então que a gente criou esse projeto, para monitorar o clima e os recursos hídricos da Reserva Mamirauá e a Reserva Amanã." afirma.

Foto: Ayan Fleischmann / Cedida

O processo funciona com 3 Estações Fluviométricas, que são estações convencionais onde foi instalado lanças de réguas nas bases de pesquisa ao longo da Reserva do Instituto Mamirauá e da Reserva Amanã, onde os zeladores da base de campo vão 2 vezes por dia e anotam o nível da água nas próprias réguas que estão inseridas nos ambientes.

As réguas se localizam no cano do Mamirauá, um canal que existe dentro da reserva; no Paraná do Jarauá e no Lago Amanã, na área da Casa do Baré, no Alto do Lago Amanã. Além dessas 3 estações convencionais, existem as estações automáticas que são 30 sensores instalados que ficam em diferentes ambientes da várzea. 

"O grande objetivo é complementar a rede hidrometeorológica nacional da Agência Nacional de Águas (ANA), com alguns dados, em especial, em ambientes de várzea, porque é bem claro que as estações de monitoramento que temos hoje no contexto amazônico são poucas e sempre as margens de rios, são raríssimos os casos em que estão dentro de várzeas, da área úmida, que inunda. É importante também entendermos esse ambiente."

 explica Ayan.

 Com o objetivo de monitorar as áreas de várzea, também há estações no fundo de lagos de várzea, incluindo os mais importantes da região em termos de recursos pesqueiros e outros recursos naturais. Também foram instalados ao longo da várzea, em pés de árvores que ficam submersas por cerca de 4, 5 meses inundados. É a partir do conjunto é que vão ter um resultado positivo em relação a saber como se encontra o nível de água. Além disso, existe uma estação medindo as variáveis climáticas dentro da área de várzea.

Segundo Ayan, o envolvimento dos comunitários auxilia o projeto de duas formas: 

"Uma é o auxílio dos comunitários na manutenção, na operação desse sistema e o outro é a resposta que a gente dá pras comunidades de modo geral sobre qual que é o estado atual dos recursos hídricos da da reserva e do ambiente regional como um todo. Como que a gente faz isso? Primeiro, algumas das estações automáticas estão do lado de casas de moradores da comunidade, né? Estão dentro de comunidades dado a nossa relação a longo prazo com esses comunitários. Então, a gente conversou com eles e eles toparam de deixar ali, e eles cuidam né? Então isso é muito importante, a gente sabe dos riscos de segurança para sensores, né? Que ficam instalados em ambientes relativamente remotos e rurais, então não é só instalar o sensor próximo a uma comunidade, né? Ajudando a questão de segurança, mas mais que tudo, ajuda no engajamento dessas pessoas e no envolvimento, no sentimento de pertencimento de pessoas ao sistema de monitoramento. Hoje, a gente está iniciando também uma série de atividades nas comunidades para mostrar o que a gente está fazendo, então são centena de comunidades nas reservas e entre aos poucos 'tá' conversando com eles, a ideia é fazer apresentações de várias comunidades, mostrando projeto, discutindo como que o clima tem mudado, como que o nível d'água está mudando e como que isso afeta a vida das pessoas pra trazer eles pra dentro do projeto e ajudar a melhorar o monitoramento, que claro, o objetivo final é ajudar as próprias comunidades. A melhor forma de se preparar para esses eventos, é ter uma talvez uma capacidade de do que que tá acontecendo."

Foto: Ayan Fleischmann / Cedida

A segunda vertente é em relação a divulgação da informação e dos dados obtidos. Ayan conta para o Portal Amazônia que o projeto trabalha com três eixos que estão em fase de implementação.

"O primeiro é via rádio. Então o Mamirauá tem um programa que vai ao ar quatro vezes por semana na Rádio Rural aqui de Tefé e que tem uma ampla cobertura na região. Então, no final do programa é comunicado nível d'água no último mês, na última semana aqui na região. É falado também qual é o nível lá em Tabatinga, porque as pessoas têm uma noção praticamente clara de que o que acontece em Tabatinga daqui algumas semanas vai acontecer aqui em Tefé e no Amanã e no Solimões de modo geral. Aqui no Médio Solimões, né? Então a gente fala o nível d'água o que a gente observou na última semana, no último mês aqui e também o que que foi observado pela Agência Nacional de Águas e pelo Serviço Geológico Brasileiro, lá em Tabatinga. A gente também fala na rádio quanto que choveu. No último mês e na última semana, que é pra dar essa essa devolutiva né? Para informar as comunidades. Além disso, nós temos outras duas formas de comunicação. Uma, onde é colocado no site do Instituto Mamirauá, onde é disponibilizado esses dados e a terceira, é a parte de boletins impressos. Então, isso ainda não está implementado, mas está sendo feito ao longo desses meses e preparando o que a gente chama de elaboração do boletim, hidrometeorológico do Mamirauá, onde a gente vai apresentar esses dados num documento de fácil compreensão, termos simples e a gente vai entregar esse boletim em várias comunidades. Nós vamos entregar o material impresso para que as pessoas possam ter o material e acompanhar e refletir, porque no fim de tudo, a gente sabe a importância de compreender o nível da água, de monitorar o nível dos fios pra vida das populações ribeirinhas aqui na Amazônia." finaliza. 

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