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Terça, 23 Abril 2024

Projeto resgata cidadania de pessoas com deficiência através da música em Belém

BELÉM - Com apenas 20% de visão por causa de um descolamento da retina há 18 anos, o ex-vigilante Arcelino Conceição sonha todos os dias em reviver a noite mais feliz de sua vida. Em 2013, ele se apresentou no Theatro da Paz, durante o Festival Internacional de Música, e foi ovacionado pelo público. “As palmas daquelas pessoas me fizeram chorar. Ali, eu voltei a me sentir respeitado como ser humano e profissional”, diz o agora estudante de música, que passa horas dedilhando o violão quando volta pra casa.
Aos 58 anos, Arcelino é um dos 165 alunos da Associação Paraense das Pessoas com Deficiência (APPD) que participam do projeto Música e Cidadania, organizado pela Fundação Carlos Gomes (FCG), que promove aulas de música a crianças, jovens, adultos e idosos com deficiência. As aulas também são abertas ao público em geral, já que o objetivo do projeto, criado em 1999, é descentralizar o ensino da Fundação Carlos Gomes e também promover a acessibilidade educacional e musical das pessoas de baixa renda.
Diversas organizações não governamentais e instituições filantrópicas abraçaram a causa a partir de 2003, entre elas, a Fundação Pro Paz. Ao todo, são cinco polos do projeto: três em Belém e os outros dois são em Benevides e Ananindeua. O projeto chegou a atender cerca de quatro mil alunos entre os anos de 2005 e 2006. As turmas atendidas no polo da APPD são mistas e têm tanto deficientes, quanto amantes da música que desejam tocar algum instrumento.
Projeto chegou a atender quatro mil alunos. Foto: Reprodução/Agência Pará
As turmas são divididas em seis de violão, cinco de teclado, quatro de cavaquinho, quatro de flauta e quatro de canto. As aulas de violão do projeto são uma terapia para dona Creusa Melo, 68 anos. Quando tinha 28 anos de idade, ela caiu de uma escada em casa e ficou com o movimento das pernas comprometido. Hoje, dona Creusa sofre com artrite e reumatismo, e sente muitas dores nas articulações das mãos, mas esquece de tudo quando começa a tocar “Cavalgada”, de seu ídolo Roberto Carlos, ao violão. “Desde criança, quando eu via meus avós tocando flauta, eu sonhava em me dedicar à música. Quando o papai morreu, não pude ir atrás desse sonho porque tive que trabalhar o dia inteiro para sustentar a família. Mas agora, eu realizei esse projeto aqui. Amo o violão e a calma que ele me proporciona”, revela.  
Evolução
A superação de vencer a dor, mostrada por dona Creusa, é igual à de Arcelino, que desafia os limites da deficiência visual e surpreende a professora Elaine Valente, professora da dupla desde 1999, quando começou o projeto. “Quando o Arcelino chegou aqui, eu duvidada muito de sua evolução, não tinha ideia de onde ele poderia chegar. Hoje, ele é um solista no violão, tira as músicas sem precisar de ninguém ao lado e me dá muito orgulho” diz. Para ela, acompanhar de perto a evolução dos alunos é mais do que um trabalho. “Ensinar a essas pessoas é uma realização pessoal pra mim. A gente se envolve com a história de vida de cada um deles. A força de vontade desses alunos e uma lição de vida”, acrescenta a professora emocionada.
Alunos tem oportunidade de superar obstáculos. Foto: Reprodução/Agência Pará
Mas o sonho de Arcelino ganhou asas. Depois que ele sentiu a emoção de ser aplaudido em pleno Theatro da Paz, ele só pensa em repetir a experiência durante o Festival de Música Internacional deste ano. Para isso, além das aulas, vem ensaiando em torno de seis horas por dia em sua própria casa para fazer cada vez mais bonito e voltar a se apresentar junto com seus companheiros de turma.
“Nos últimos 10 anos, a inclusão musical vem sendo reforçada nas universidades de música e instituições ligadas às artes. A ideia difundida por nossa colonização europeia era a de que o ensino da música era só para quem possuía alguma habilidade. Hoje, isso foi demolido”, diz Júdson Brito, professor de flauta do projeto. O sonho de voltar a se apresentar no Festival de Música é reforçado pelo coordenador da Associação Paraense das Pessoas com Deficiência, Ronaldo Oliveira: “É fundamental essa visibilidade em um festival reconhecido internacionalmente, tanto para os alunos, quanto para nossos instrutores”, destaca.
As inscrições para as aulas do projeto Música e Cidadania seguem até o dia 25 de fevereiro, na Associação Paraense das Pessoas com Deficiência (APPD), que funciona na Magalhães Barata, Vila Teta, 213.  O projeto aceita alunos de 7 a 80 anos. Mais informações pelo (91) 3249-4849.

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