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Quinta, 18 Abril 2024

José Estelita de Monteiro Tapajós, um homem além de seu tempo

José Estelita de Monteiro Tapajós, um homem além de seu tempo

Doutor Estelita Tapajós nasceu em Manaus, a 05 de janeiro de 1860, sendo irmão do Dr. Torquato Tapajós. Fez seus primeiros estudos na cidade que lhe serviu de berço. Terminando-os, seguiu para Belém do Pará matriculando-se em um colégio interno. Extremamente estudioso, em suas folgas passava na casa do senhor Francisco Augusto de Oliveira, este casado com sua prima, dona Rosália Nunes de Oliveira.

Terminando o seu curso de humanidades, partiu para capital do Império, onde matriculou-se na Academia de Medicina do Rio de Janeiro. Durante o tempo em que foi estudante dessa escola, trabalhou como interno no Hospital Nacional de Alienados D. Pedro II, na Praça da Saudade. Terminando o curso respectivo e, depois de defender a tese “Psiquiatria”, recebeu o grau de Dr. Em Medicina. Logo em seguida foi nomeado delegado de Polícia, do Distrito da Lapa, no Rio de Janeiro, para em seguida ser nomeado diretor da Casa de Saúde Doutor Eyras. 

José Estelita de Monteiro Tapajós. Foto: Acervo/Abrahim Baze

Pouco tempo depois, viajou pela Europa em Companhia de seu futuro cunhado, Dr. Oliveira Fausto. No seu regresso, depois de ligeira passagem no Rio de Janeiro, foi para São Paulo, onde casou-se com Dona Francisca Simões. Depois de algum tempo residindo na capital paulista, passou uma regular temporada em Itatiaia e em seguida, passou a residir em São Miguel do Paraíso, a linda e poética cidade da linha férrea da Sorocabana. Nesta cidade angariou um bom círculo de amizade.  

“Segundo o autor Otoni Mesquita na sua obra Manaus História e Arquitetura-1852-1910. Em 1861, o Presidente da Província Manoel Clementino Carneiro da Cunha (24/11/1860 a 01/01/1863) revelara-se preocupado com a regularização da Repartição de Obras Públicas e com esse objetivo, ele alertou, em seu relatório de 03 de maio de 1862, sobre a necessidade de criar a repartição e regulá-la devidamente. A Repartição ainda era regida pelas instruções de 06 de junho de 1853. Neste mesmo relatório, o presidente anunciava a chegada de mais trinta e um africanos livres enviados pela Corte para atuarem nos trabalhos da província. Todavia, o presidente reconhecia não serem operários da melhor qualidade, mas alegava que estes auxiliados pelos operários já existentes supririam as necessidades e dar-se-ia andamento aos serviços.” ¹

Mesquita, Otoni Moreira de. Manaus: História e Arquitetura – 1852-1910/Otoni Moreira de Mesquita. Manaus: Editora da Universidade do Amazonas, 1997.  Pág. 27.

Estelita Tapajós honrou, por muito tempo, as letras, sobretudo estudos biológicos. No Departamento de Antropológia, tornou-se luminar. A feição característica de seu espírito era a filosofia, tendo publicado ensaios de filosofia e ciência, em 1898. A sua formação cientifica, pode-se dizer, operou-se no sul do país, onde expandiu seu talento e ilustração, tendo alcançado uma grande atuação no movimento intelectual do nosso país. Estelita Tapajós, amazonense, vinculado à importante família de Manaus, foi considerado o mais alto e notável representante da filosofia que o Amazonas já produziu. 

Filiou-se ao movimento evolucionista, de que foram grandes propagadores os intelectuais Tobias Barreto e Sílvio Romero. O filósofo amazonense abraçou com outro intelectual de sua época Fausto Cardoso, o Haekelismo sociológico (leia-se Padre Leonel França S.J. História de Filosofia, 3ª edição, página 302, 1928).

Foto: Acervo/Abrahim Baze

Foi sobre esse critério filosófico que empreendeu sínteses sobre a condição social da mulher, sobre a criminologia e a respeito da evolução da espécie humana. Diz Padre Leonel França S.J. “que o essencial de suas ideias é monismo Haekelismo Ekelian, com modificações pedida a Spencer.   

No Brasil daquele período, onde os estudos de filosofia não tinham feito grandes progressos, onde a inteligência se não tem revelado bastantes seguidores dos fenômenos do mundo e da sociedade nas suas mais altas generalizações, naturalmente pela falta de estudos metódicos e profundos, feitos sobre orientação de mestres abalizados. Foi digno de nota o realce que tomou, nessa ordem de ideias, o notável cientista Dr. José Estelita de Monteiro Tapajós, que figurou como um de nossos homens mais ilustres. 

Seu pai, Francisco Antônio Tapajós de nacionalidade portuguesa e que teve grande realce no tempo da Cabanagem, chegando a ser denominado de Herói de Tapajós. Três de seus filhos destacaram-se nos estudos, tais como: Manoel Tapajós, engenheiro; Torquato Tapajós, engenheiro e sanitarista, autor do projeto da estrada Manaus-Itacoatiara e Estelita Tapajós, médico psiquiatra. 

Foto: Acervo/Abrahim Baze

O escritor Luiz Ferraz, prefaciando o opúsculo do escritor Álvaro Guerra, escreveu: 

“Formas amigas de Estelita Tapajós. Não estranharás, por isso, que associando-me às tuas homenagens, tivesse mandado tirar em avulsas o teu estudo, publicado no Comércio de São Paulo, sobre aquele ilustre médico que – bem o dizes – foi um bom, foi um justo.

Um bom, sim, meu caro Álvaro, porque viveu em paz, não acreditou no mal, transformou tudo em bem, e se convenceu de que o homem vê o semblante, Deus o coração. 

Um justo, sim, porque viveu da fé e a sua glória foi testemunho de sua boa convivência e da tranqüilidade do seu espírito, que não se moveu aos louvores nem aos vitupérios.”

São Paulo, 31 de dezembro de 1902. 

Estelita Tapajós, literato, falava inglês e francês. Entre tantas literaturas estrangeiras que lia, destaco: Tostoi e Ibsen.

O Dr. Estelita Tapajós deixou as seguintes obras: Physicologla da Percepção das Representações – Cormubiose Orgânica – Biologia Científica e Ensaios de Filosofia e Cinecias, este último prefaciado pelo Dr. Sílvio Romero, além de muitos outros, quer científicos quer de prosa ou verso. 

Foto: Acervo/Abrahim Baze

Segundo Arthur Cézar Ferreira Reis, em seu discurso de posse nesta Casa, em 27 de janeiro de 1967, cuja solenidade foi presidida pelo Acadêmico Álvaro Maia, ele destaca:    

A produção literária de Estelita Tapajós não sofreu ainda o exame dos especialistas. É de difícil acesso e talvez, por isso, não tenha havido a curiosidade para examiná-la e compreendê-la. Seria essa uma tarefa que sugiro aos docentes e discentes da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, da Universidade do Amazonas.

Ainda no mesmo discurso, o Acadêmico Arthur Cézar Ferreira Reis destaca:

A obra do Dr. Estelita Tapajós está pedindo um exame sereno, desapaixonado, para que lhe possamos assegurar a posição devida no quadro da cultura brasileira.  Faleceu aos 52 anos no dia 03 de dezembro de 1912. 

O governo do Amazonas imortalizou seu nome com a criação da Escola Estadual Estelita Tapajós, no bairro de Educandos, inaugurada no ano 1964, que tem como atual diretora a professora Ednelza Patrícia Cunha Navarro, que atende novecentos e dez estudantes, sendo, quinhentos e quarenta no turno matutino e quatrocentos e trinta no período vespertino, atendendo o ensino fundamental do 6º ao 9º ano do período da manhã e a tarde o ensino médio do 1º ao 3º ano. A escola pertence à Coordenadoria Distrital 2 da Secretaria de Estado de Educação. 

Essa escola é referência de vários alunos que hoje são professores. Reformada e ampliada atende com maior qualidade e conforto a comunidade estudantil. Está equipada com quatorze salas de aulas climatizada, salas administrativas, espaço recreativo, refeitório, cozinha, quadra poliesportiva e sala para o projeto TV Escola. Esta unidade de ensino foi ampliada, ganhando um laboratório de informática, um laboratório de ciências, um auditório com capacidade para 150 lugares, uma Banda Marcial Feminina, sala de multimídia, inclusive o cantor Arlindo Júnior foi aluno da escola e o Desembargador Hosanna Florêncio de Menezes foi professor enquanto juiz de Direito.

O Dr. José Estelita de Monteiro Tapajós deixou os seguintes trabalhos em volumes, todos scientificos: Psycho-physiologia da percepção e das representações, Cormubiose Organica, Biologie Synthetique e Ensaios de Philosophia e Sciencias, este último prefaciado pelo Dr. Silvio Romero, além de muitos outros, quer scientificos, quer de prosa ou de verso, que dariam se fossem impressos alguns volumes mais. 

Foto: Acervo/Abrahim Baze

Sua família era proprietária de uma Olaria na época da Província do Amazonas.

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Comentários: 3

Félix Rocha em Quinta, 30 Julho 2020 11:56

História Wow!
Sempre fui apaixonado pela Unidade Educacional Estelita Tapajós, essa era sua nomeclatura a qual era conhecida nos tempos em que vivi em Manaus.
Mas, jamais e, pra minha surpresa Estelita Tapajós tratava-se de um "homem".
Estudei numa de suas subunidades educacionais, o "Adalberto Valle" , também eminente Manauara.
Parabéns Dr. Estelita Tapajós, que onde estiveres que Deus o abençoe sempre.

História Wow! Sempre fui apaixonado pela Unidade Educacional Estelita Tapajós, essa era sua nomeclatura a qual era conhecida nos tempos em que vivi em Manaus. Mas, jamais e, pra minha surpresa Estelita Tapajós tratava-se de um "homem". Estudei numa de suas subunidades educacionais, o "Adalberto Valle" , também eminente Manauara. Parabéns Dr. Estelita Tapajós, que onde estiveres que Deus o abençoe sempre.
Deboro Melo em Terça, 23 Fevereiro 2021 18:57

EU SOU ESCRITOR, E FICO MUITO FELIZ EM SABER QUE EXISTIU PESSOAS COMO ESSE SENHOR QUE REPRESENTOU O AMAZONAS COM AFICO. OS AMAZONESES PRECISAM SE INTERESSAR MAIS POR SUA HISTÓRIA.

EU SOU ESCRITOR, E FICO MUITO FELIZ EM SABER QUE EXISTIU PESSOAS COMO ESSE SENHOR QUE REPRESENTOU O AMAZONAS COM AFICO. OS AMAZONESES PRECISAM SE INTERESSAR MAIS POR SUA HISTÓRIA.
Deboro Melo em Terça, 23 Fevereiro 2021 18:58

Afinco..corrigindo

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