Urutau: o pássaro amaldiçoado conhecido como “ave-fantasma da Amazônia”

O urutau ou “mãe-da-lua”, é um pássaro que carrega muitas superstições devido as lendas que o cercam. Por desconhecimento, acabam por acreditar que a ave é sinal de mau agouro ou má sorte.

Ave noturna e misteriosa, dona de canto melancólico e fúnebre. Estamos falando do urutau, também conhecido como uruvati, cacuí e mãe-lua. Muitas pessoas acham que ele seja uma espécie de coruja ou até de gavião, devido aos hábitos noturnos e a incrível habilidade de se camuflar em troncos de árvores.

A espécie ficou conhecida como ave fantasma da Amazônia.

Reprodução: Divulgação

Comum em bordas de florestas, campos com árvores e cerrados, o pássaro está presente em todo território brasileiro, inclusive dentro das cidades em locais mais arborizados, onde sua presença inusitada é frequentemente noticiada pelos jornais. É, antes de tudo, um desconhecido: mais é conhecido pela fama do que pela ave em si.

Além do Brasil, o urutau é encontrado desde a Costa Rica à Bolívia, e também na Argentina e no Uruguai. Engana-se quem pensa que só existe uma variedade da espécie. No Brasil ocorrem cinco, todas pertencentes ao gênero Nyctibiu, grupo restrito às regiões mais quentes do continente americano.

‘Espécies comuns na região Amazônica:

Mãe-da-lua-parda

A cor da íris da mãe-da-lua-parda é esverdeada, diferente das outras espécies — Foto: Gustavo Magnago/Arquivo Pessoal

Maior que a mãe-da-lua, a mãe-da-lua-parda (Nyctibius aethereus) mede cerca de 50 centímetros e apresenta cauda proporcionalmente mais longa e coloração parda. Outra diferença notável é a cor da íris, que na espécie é esverdeada ou cinza-azulada. O bico é escuro e os tarsos e pés são amarronzados.

A ave se alimenta de insetos, principalmente das mariposas, caçadas durante a noite em florestas densas úmidas. No Brasil, a mãe-da-lua-parda é vista com frequência na Amazônia.

Urutau-de-asa-branca

O urutau-de-asa-branca é comum na Amazônia — Foto: Arquivo TG

Comum na Amazônia e na região nordeste do Brasil, o urutau-de-asa-branca (Nyctibius leucopterus) se alimenta de insetos noturnos, besouros, mariposas e percevejos.

Com cerca de 38 centímetros de comprimento, apresenta uma mancha alva na base das asas, vista durante o voo.

O urutau-de-asa-branca costuma postar um único ovo na ponta de um tronco, que é chocado após 33 dias. O filhote recebe cuidados dos pais por cerca de 80 dias, um dos períodos mais longos das aves sul-americanas.

Olho Mágico

As fendas na pálpebra superior permitem à ave enxergar mesmo com os olhos fechados — Foto: Arte/Maycon Chaves

Conhecido como “olho mágico”, os olhos do urutau são grandes e redondos, com a íris amarela. A cor chamativa não colabora para a camuflagem perfeita da ave, por isso os indivíduos fecham os olhos quando a ameaça se aproxima. No entanto, a visão não é interferida, pois a pálpebra superior possui duas fendas que permitem ao urutau enxergar, mesmo com os olhos fechados.

A forma como os urutaus se reproduzem também é curiosa, já que a ave equilibra o único ovo na ponta de galhos ocos e o incuba por aproximadamente 30 dias. Depois de nascer, o filhote é mantido pelo casal de adultos, que trocam de guarda para caçar e alimentar a cria, sem deixa-la sozinha por muito tempo.

Lendas

O uratau protagoniza diversos contos e crendices do folclore brasileiro e da mitologia sul-americana. Na Amazônia, acredita-se que as penas da cauda deste pássaro protegem a castidade, por isso as mães varrem debaixo das redes das meninas com uma vassoura confeccionada com estas penas.

Na Peru, o animal é conhecido como “ayaymama”, pois seu canto lembra uma criança exclamando “ai, ai, mama! “. Reza a lenda que um bebê foi abandonado por sua mãe na floresta para evitar que morresse por uma peste que já havia dizimado seu povo. Ele então se transformou em uma ave, que todas as noites lamentava por sua mãe.

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