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Sábado, 20 Abril 2024

Pesquisador aponta que degradação da Amazônia afeta sobrevivência de sapos na Mata Atlântica

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A existência da Amazônia  é fundamental para a manutenção do clima global e afeta diretamente o modo de vida humana, de outras espécies e até mesmo biomas. O avanço desordenado do desmatamento e o aquecimento global prejudicam vários processos ecossistêmicos da natureza que necessitam da região amazônica para funcionarem de maneira adequada.

Você sabia que os rios voadores da Amazônia, que consistem em grandes fluxos aéreos de vapor, são essenciais para a sobrevivência de anfíbios na Mata Atlântica, em especial, nas regiões sul e sudeste do país?

Essa constatação foi o resultado de um estudo publicado na revista internacional 'Conservation Biology' intitulado  'Efeitos dos rios voadores amazônicos sobre a biodiversidade e as populações de anuros na Mata Atlântica'.

O Portal Amazônia conversou o autor principal do artigo, o doutor em ecologia e pesquisador da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), Lucas Ferrante, sobre as consequências para a biodiversidade dos biomas e que políticas podem ser adotadas para diminuição dos impactos nas espécies de sapos.

Foto: Renato Gaiga

Serviços ecossistêmicos

O bioma amazônico é responsável pela realização de vários serviços ecossistêmicos para outros biomas, como a formação de chuvas para a Mata Atlântica. Isso é possível por meio da existência de rios voadores. Mas, afinal, o que é isso?

Ferrante explica que esse é um fenômeno no qual ventos vindos do Oceano Atlântico trazem a umidade oceânica para a Floresta Amazônica. Parte das águas ficam na região e, através da evapotranspiração, a floresta 'recicla' essa umidade, formando vapores aéreos que são transportados com a ajuda de ventos de baixa pressão para a direção sul do Brasil. 

"As chuvas das regiões Sul e Sudeste do Brasil se originam na Amazônia. A região tem um papel importante para esse serviço ecossistêmico fundamental que é responsável por até 70% das chuvas dessas outras regiões. Nós estamos falando de regiões, como o Sudeste, que concentram o PIB do Brasil. Esse serviço tem impacto, por exemplo, sobre a agricultura dessas regiões, sobre a atividade de indústria e abastecimento humano e também sobre a biodiversidade",

explica o pesquisador.
Foto: Reprodução/FunBio

Declínio populacional de anfíbios 

O estudo mostra que, o avanço do desmatamento tem impacto direto na dinâmica dos rios voadores. Com isso, as chuvas da Mata Atlântica também são comprometidas.

Assim, de acordo com o pesquisador, essa dinâmica é essencial para a sobrevivência de anfíbios, pois dependem da umidade transportada para sobreviverem em seus habitats e se reproduzirem.

Ferrante informa que, para evitar esse cenário, é necessário frear o desmatamento na Amazônia e isso precisa ser feito a curto prazo.

"Se nós mantivermos essas taxas de desmatamento, são graves as consequências a curto e médio prazo para outras partes do país. Estamos falando de secas severas no Sul e Sudeste, afetando o abastecimento hídrico nas cidades, a água para a indústrias, para agricultura e também podemos falar de um colapso muito grande para toda a biodiversidade",

alerta o ecólogo.

Um dos exemplos é o efeito em espécies de sapos endêmicas da Mata Atlântica, como é o caso das rãs da correnteza do gêneros Hylodes, que são dependentes de riachos de água corrente no interior da floresta. 

Outras espécies têm papel fundamental na regulação de pragas para a agricultura e de vetores de doenças para seres humanos, o que a longo prazo poderia causar surtos de doenças não tão comuns, o que também preocupa os pesquisadores.

Política de Desmatamento Zero 

Para Lucas Ferrante, é crucial adotar uma política de desmatamento zero para a preservação desses serviços ecossistêmicos que dependem da Amazônia. Ele destaca que o bioma já está no 'turning point', que seria o ponto de inflexão de desmatamento tolerado. "A Amazônia tende a colapsar esses serviços de forma que eles não vão poder mais ser recuperados", diz.

O ecólogo menciona ainda que agentes públicos, os "tomadores de decisões", devem entender que o caminho de desenvolvimento da Amazônia "não deve ser pautado na pecuária, em monoculturas ou extração e sim em agroecologia, turismo comunitário e principalmente na bioeconomia".

Ferrante cita hidrovias como um caminho a ser seguido, ao invés do desmatamento para construção de rodovias, como é o caso da BR-319,  que é um consenso entre pesquisadores que apontam a inviabilidade econômica, ambiental e social da obra, segundo estudos técnicos.

"Através dessas políticas de ressignificar o que é desenvolvimento para o Estado e evitar que essas grandes obras com esse grande impacto caminhem ao mesmo tempo que nós adotamos uma política de desmatamento zero, nós temos condição de conservar a Amazônia e os serviços ecossistêmicos propiciados pelo bioma que são fundamentais para soberania nacional",

finaliza.
Divulgação/Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes

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