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Sábado, 20 Abril 2024

Manaus da minha infância

Manaus da minha infância

 

Recordar é viver e constato que lá se vão 70 anos, na Av. 7 de Setembro, esquina com Joaquim Nabuco, local em que morei toda a infância. Eu vi nascer as Casas do Óleo do Sr. Mário Assayag, hoje uma rede de Supermercados. Naquela época não tínhamos a figura do supermercado, somente pequenas tabernas ou grandes mercearias, como é o caso da “A Renascença”, de um grupo de portugueses.

 

Avenida Sete de Setembro, esquina com a Avenida Joaquim Nabuco, em 1940. Foto: Acervo/Abrahim Baze


Bem na outra esquina ficava o velho Sombra que vendia somente picolé e sorvetes, cuja produção consistia em um cilindro girando na salmoura. Na outra esquina nós tínhamos o velho Nasser, libanês pai da Charuffe, Osman e outros, também o velho Porfírio, que consertava bicicletas, o Marcelinho, único turco em Manaus – confundir turco com libanês é algo imperdoável – e como meu pai, tinha uma loja de confecção na esquina seguinte. Havia ainda a estância do Cangalha, hoje Casas do Óleo, a padaria Frankfurt de outro português – Sr. Antônio que morreu solteiro.

A família Simões – do Grupo Simões – residia na 7 de Setembro, hoje edificado o prédio Antônio Simões. Nossa juventude mostrava sua alegria na “Escola São Francisco de Assis” hoje demolido e que já abrigou há 10 anos o colégio Objetivo Einstein.

 

Cine Polytheama, Cine Guarany, boas lembranças. Em dezembro na sua passagem de aniversário, o Guarany exibia filmes todas as noites em uma imensa tela na rua, aos domingos era elegante o Coreto na Praça da Polícia. A banda se apresentava às 16h e passava em círculo na praça, até as 19h. Para a ocasião, vestia-se a melhor roupa e ainda posso sentir o cheiro do algodão-doce e da pipoca que acompanhavam a apresentação. 

 

Cine Guarany, em 1950. Foto: Acervo/Abrahim Baze


Igarapé de Manaus, ponto tradicional do banho diário, com brincadeiras, reboque de motor, Ponte Cabral, que liga Av. 7 de Setembro a Rua Dr. Almínio.

 

Quando o rio secava fazíamos um pequeno campo de futebol (o tradicional papagaio) que sempre acabava em perseguições da manduquinha porque era proibido. Era motivo de orgulho para os meninos enrolarem a maçaroca de linha e ficar de olho na polícia que marcava o Russo e o Loló, dois primos famosos pela arte de confeccionar papagaios e que até pouco tempo ainda eram bem procurados pelos apreciadores.

 

Igarapé de Manaus, em 1950. Foto: Acervo/Abrahim Baze


Como complemento de nosso hobby, aproveitávamos os bondes para colocar vidro nos trilhos e moer a fim de fazer o melhor cerol. Para variar mocegar os bondes, o que sempre acabava em acidentes que eram tratados no SSU (Serviço Socorro de Urgência), cujo, prédio hoje abriga a Secretaria de Segurança. Ainda na Rua Joaquim Nabuco dona Marieta, com seus bordados belíssimos era a mulher mais procurada pelas moças para dar cursos e preparar os mais requintados enxovais. 

A Banda de Música da Polícia Militar, “O Bumbalá” na frente como maestro. A “Nega Charuto”, uma mulher que fornecia refeição e corria atrás da molecada quando ouvia o apelido. Como não tínhamos as bandas de revistas que existem, vendia-se ou, trocava-se revistas em quadrinhos na porta do Cine Guarany e Polytheama, espalhadas no chão e carregadas aos montes embaixo dos braços. 

 

Consulado de Portugal em Manaus, em 1920. Hoje, Grupo Escolar Barão do Rio Branco. Foto: Acervo/Abrahim Baze

Novamente o Igarapé de Manaus, com as lavadeiras e suas cacimbas, as carroças do velho Severino, cujos, cavalos pastavam no Monte Cristo, Guaraná Baré, Colégio Santa Dorotéia (palco de formação de grandes gerações); Grupos Escolar Barão do Rio Branco, que no passado foi o Consulado de Portugal em Manaus; Beneficente Portuguesa, tradicional Hospital Português, cujas, mangas nós éramos fregueses; o prédio da L. B. A. comprado no governo do Dr. Álvaro Maia, hoje, reformado e abriga o Tribunal de Contas do Governo Federal, com suas mangueiras frondosas.  

Avenida Sete de Setembro, ao lado do Palácio Rio Negro, em 1950. Foto: Acervo/Abrahim Baze

Tinha ainda o Manoel Queijeiro, vendia queijo e manteiga regional, pai do meu amigo Dedé, mais tarde, Diretor da Escola do SESI. 

 

O Quartel do Bombeiros na Av. 7 de Setembro, hoje a Fundação Joaquim Nabuco era um barulho só e as ruas com o tradicional paralelepípedo, cobertos criminosamente com asfalto. 

Estes momentos marcaram a minha infância e juventude, na esquina da 7 de Setembro com Joaquim Nabuco onde nós tínhamos até mesmo um sinaleiro. Esta é a minha Manaus de ontem que em nome do progresso muitas coisas foram demolidas. Vale lembrar a família Pérez, do senador, berço de políticos e homens inteligentes! 

 

Palácio Rio Negro, em 1950. Foto: Acervo/Abrahim Baze

Vale a pena recordar os banhos com os meninos da época, no Igarapé de Manaus. Corríamos na Ponte Cabral para assistir o futebol em um campinho no final da Estância do Cangalha, bem em frente ao Pombal, a Ponte Cabral era toda de Madeira com a proteção de ferro.

 

As tardes de domingo era comum empinarmos papagaio com o Russo e Loló, eles eram primos, filhos de portugueses que residiam na Joaquim Nabuco, em frente a Arquidiocese de Manaus. Colocávamos vidro no trilho do bonde para moer, o que era proibido.

 

Quando o rio secava juntava-se a turma do Igarapé de Manaus com a turma da Rua Major Gabriel, para fazermos o campo de futebol na sua margem, onde tinha uma família ilustre, os descendentes do Governador Pedro de Alcântara Bacelar, ainda posso recordar o Trindade, Isaac Benarrós, Rafael Bacelar, Pedro Bacelar, Antônio Travessa, Ruth Nascimento, Brandão, Jussara Jacob, Clarita, Itaúna, Sandra Lúcia, Álvaro Garcia, Iana, Suely Pinheiro, Fausto, Antônio, Sandra Raposo, Carlos Raposo, José Amorim, Naldir Soares e tantos outros.

 

Igarapé da Segunda Ponte, em 1950. Foto: Acervo/Abrahim Baze


A referência das primeiras letras foi no Grupo Escolar Barão do Rio Branco. No mês de junho era comum passarem pela Rua 7 de setembro os bois Corre Campo e Tira Prosa. As noites eram uma festa em frente ao Cine Guarany e Politheama. No aniversário do Cine Guarany era tradição a tela enorme em frente ao cinema para sessão noturna comemorativa ao aniversário.

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Comentários: 7

Jorge Prendas em Sexta, 27 Novembro 2020 12:43

Caríssimo, chamo-me Jorge, sou do Porto, Portugal os meus dois avôs viveram e trabalharam em Manaus. Um, foi o dono da Confeitaria São Jorge, na Sete de Setembro. O outro teve uma taberna na esquina de Joaquim Nabuco com Ramos Ferreira. Aliás a minha família ainda vive na Ramos Ferreira.
Muitos dos nomes e lojas que li nesta publicação são familiares para mim. O meu pai, que vive aqui no Porto e tem 84 anos, muitas vezes me conta estórias dessa Manaus onde ele viveu até aos trinta anos dele.
Encontrei esta publicação porque procuro fotos dessa época, sobretudo da confeitaria São Jorge. Se por acaso me puder ajudar, agradeço.
Abraço

Caríssimo, chamo-me Jorge, sou do Porto, Portugal os meus dois avôs viveram e trabalharam em Manaus. Um, foi o dono da Confeitaria São Jorge, na Sete de Setembro. O outro teve uma taberna na esquina de Joaquim Nabuco com Ramos Ferreira. Aliás a minha família ainda vive na Ramos Ferreira. Muitos dos nomes e lojas que li nesta publicação são familiares para mim. O meu pai, que vive aqui no Porto e tem 84 anos, muitas vezes me conta estórias dessa Manaus onde ele viveu até aos trinta anos dele. Encontrei esta publicação porque procuro fotos dessa época, sobretudo da confeitaria São Jorge. Se por acaso me puder ajudar, agradeço. Abraço
Roberto Bruce em Terça, 23 Mai 2023 12:41

Olá, você conseguiu as fotos?Também estou atrás de fotos antigas da Joaquim nabuco para um trabalho acadêmico, se conseguiu tem como entrar e m contato comigo?

Olá, você conseguiu as fotos?Também estou atrás de fotos antigas da Joaquim nabuco para um trabalho acadêmico, se conseguiu tem como entrar e m contato comigo?
Ruy Ferreira Marques em Quinta, 28 Outubro 2021 05:26

Sou dessa época e conheci todas essas pessoas e locais. Nasci na rua dos Andradas ao lado da padaria Garcia. Adorei seu relato, o qual gerou taquicardia. Felicidade é o que desejo para vc. Sds é abraços.

Sou dessa época e conheci todas essas pessoas e locais. Nasci na rua dos Andradas ao lado da padaria Garcia. Adorei seu relato, o qual gerou taquicardia. Felicidade é o que desejo para vc. Sds é abraços.
Ana Cláudia Ayres em Domingo, 31 Outubro 2021 12:08

É só emoção ler e ver fotos de uma Manaus tão acolhedora. Parabéns!

É só emoção ler e ver fotos de uma Manaus tão acolhedora. Parabéns!
Socorro amorim em Terça, 25 Janeiro 2022 23:48

Que legal nasci na rua iagarape de Manaus ,meu pai ainda vivo mora em sp comigo.
Saudades

Que legal nasci na rua iagarape de Manaus ,meu pai ainda vivo mora em sp comigo. Saudades
DÉBORO MELO em Sexta, 06 Mai 2022 20:58

Sem dúvidas, Manaus possui uma história única e singular e tão peculiar. Sinto muita saudade de minha infância e das coisas antigas.
Como o velho restaurante Chapéu de palha, loja Lobras, o avião na praça da saudade, os cinemas de ruas. Escola Ângelo Ramazoti, parquinho 2000 e tantas outras coisas que eu lembro. Tenho 49 anos.

Sem dúvidas, Manaus possui uma história única e singular e tão peculiar. Sinto muita saudade de minha infância e das coisas antigas. Como o velho restaurante Chapéu de palha, loja Lobras, o avião na praça da saudade, os cinemas de ruas. Escola Ângelo Ramazoti, parquinho 2000 e tantas outras coisas que eu lembro. Tenho 49 anos.
Antonia silva em Sábado, 25 Março 2023 10:20

Fomos agraciados por sermos Amazonens amo Manaus!

Fomos agraciados por sermos Amazonens amo Manaus!
Visitante
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