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Terça, 23 Abril 2024

Seca compromete o Alto rio Negro

MANAUS - A vazante atípica do rio Negro desde janeiro vem causando oscilações no nível das águas que servem como estradas para a maioria da população amazônica. O efeito exótico em uma época de cheias e chuvas já causa problemas de abastecimento em cidades como Barcelos (402.69 km de Manaus), Santa Isabel do Rio Negro e São Gabriel da Cachoeira (respectivamente 781 e 852 km distantes da capital), que já decretaram situação de alerta e a seca impede a chegada de alimentos, remédios e combustíveis.
Empresários que atuam nesses segmentos de transporte lamentam pelas perdas e só podem esperar que a normalidade se reestabeleça. No porto do São Raimundo (zona Oeste) o principal porto escoador para as cidades da calha do Alto rio Negro, as saídas das balsas estão a cada dia mais espaçadas. Os preços praticados por alguns balseiros puxam para baixo o movimento que já vinha enfraquecendo desde a desativação parcial do porto com a construção da ponte Rio Negro.Medicamentos em falta
O que sempre foi preocupante no interior do Amazonas, sujeito a surtos de doenças tropicais, parece piorar com a seca repentina. Em algumas cidades medicamentos começar a rarear. Para o encarregado pelas televendas da Distribuidora Moderna, Leno Farias, a ida de remédios para estes locais é totalmente bloqueada.
“O abastecimento é interrompido, já que não há nada a se fazer. Nas modalidades de entrega, via fluvial ou terrestre, se pode negociar. Via barco, o frete é pago pelo cliente, no rodoviário é por nossa conta. De avião não há essa possibilidade”, conta.Com 23 anos de negociações com o interior do Amazonas e parte do Estado do Pará, a distribuidora de medicamentos ainda tenta se adequar ao regime das águas. “Mesmo quando sabemos que a seca se aproxima não inflacionamos, sabendo das dificuldades de quem comercializa no interior. Tentamos manter preços para não perder clientes, mas não são todos que podem contar com estoque, então simplesmente os negócios cessam nesse período”, fecha Farias.Alimentos em faltaA região que é carente de produtos de primeira necessidade tem nas cheias e secas seus períodos de maior escassez, mas a vazante inesperada não deu tempo hábil para planejar estratégias de abastecimento. No ramo de hortifrúti há 20 anos, a microempresária Daniela Branício tem visto fevereiro como de grandes prejuízos para a economia local. “A viagem interrompida ou até mesmo maisdemorada afeta toda a cadeia econômica. Perdemos nós dos hortifrúti e principalmente o produtor, já que compramos menos. Ao cliente no interior resta inflacionar preços para cobrir gastos com frete, o que espanta o consumidor final”, disse.
Com algumas balsas navegando apenas durante o dia para evitar choque contra pedras, as rotas fluviais de comércio com o Alto rio Negro praticamente dobraram o tempo de viagem. E a única alternativa é inviável. “Conheço empresários que tiveram a ideia de fazer o transporte por via aérea e o prejuízo foi enorme.Mesmo com toda a carência que os municípios têm de gêneros alimentícios, ninguém está disposto ou tem dinheiro para pagar R$ 15 em um quilo de cenoura. Esse foi o valor com que o legume chegou a São Gabriel após sair da Ceasa de Manaus ao preço de R$ 3”, ressalta a microempresária. Frete mais caroAssim como o mercado de medicamentos, as remessas de hortifrúti para o interior podem ser negociadas junto aos transportadores. “Os barcos levam produtos cobrando por volume não por peso, é um acordo entre as partes. Com a vazante inesperada que aumenta o tempo das viagense oferece risco de perdas, os volumes passaram de R$ 3 para R$ 15 e alguns se recusam a transportar. Como a maioria não possui câmara frigorífica, as perdas são enormes e o transportador não quer ter essa responsabilidade”, conclui Daniela.CombustíveisClassificando a vazante atual como trágica, a atendente de posto de gasolina, Kellen Souza também espera pela volta da navegabilidade no Alto rio Negro. “Ainda não havíamos passado por isso, a situação começa a ficar trágica. A seca impede as balsas e barcos de recreio de atracarem na cidade e logo Barcelos pode ficar sem movimentação econômica, o que pode gerar demissões em um comércio que já é fraco”, afirma. Segundo Kellen o que mantém o posto em funcionamento é a locação de uma balsa mais rápida e menor para transportar gasolina, diesel e gás de cozinha. “Ainda temos esses produtos estocados e nos chegam algumas quantidades. Os gastos serão maiores, mas devemos manter os preços, acréscimos iriam penalizar o comércio e os barcelenses, não queremos isso e vamos esperar que os rios voltem ao curso normal”, fecha.

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