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Sábado, 20 Abril 2024

Centro de estudo de quelônios completa dois anos de criação em Manaus

Centro de estudo de quelônios completa dois anos de criação em Manaus
Centro completou dois anos dia 12 de fevereiro. Foto: Luciete Pedrosa/Inpa
O Centro de estudos e exposição de quelônios vivos da Amazônia (Cequa) completa dois anos de atividade em Manaus em 2017. O espaço funciona dentro do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) e realiza trabalhos sobre o comportamento alimentar e reprodutivo, regulação de temperatura por ninho e vocalização de tartarugas (bioacústica). Desde a inauguração (12 de fevereiro de 2015), o Cequa recebeu aproximadamente sete mil visitantes.

Para marcar a data, o centro realizou uma festa no sábado (18), na sede, localizada no Bosque da Ciência, próximo ao Lago Amazônico. Atualmente, o Cequa abriga cerca de 130 animais. O espaço funciona para visitação de terça a sexta-feira, das 8h às 17h.

“Apesar das dificuldades financeiras, temos muito a comemorar, especialmente a aprovação do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INCT) Tartarugas da Amazônia – Conservando para o Futuro”, conta o coordenador do Cequa, o pesquisador Richard Vogt, especialista em conservação e ecologia de tartarugas de água doce.

Além deste INCT, o Inpa tem outros dois Institutos com recursos aprovados junto ao CNPq, que são o INCT Madeiras da Amazônia e o INCT Adaptação da Biota Aquática da Amazônia (Adapta). “Tivemos um corte de 40% do valor, mas deveremos receber R$ 6 milhões, que serão aplicados, por exemplo, para pagar bolsistas, renovar o Lago Amazônico, a praia, além de comprar barcos e consertar os motores. Estou feliz da vida”, comemora Vogt.

O
Cequa

Construído com recursos do Programa Petrobras Ambiental numa área de cerca 1.000 m2, o Cequa conta com uma estrutura de apoio aos pesquisadores nos experimentos em lagos, praias para desova e incubadoras para os filhotes. Possui quatro tanques de 4x7m onde estão expostos exemplares de quelônios amazônicos vivos, como tracajá (Podocnemis unifilis), irapuca (Podocnemis erythrocephala), cabeçudo (Peltocephaulus dumerilianus) e mata-matá (Chelus fimbriata). Possui ainda um terrário com seis poços contendo exemplares menores de jabutis-machado, perema, lalá e muçuã.

Por meio das câmeras de vigilância instaladas no terrário – recinto artificial composto por terra, plantas e poços, simulando um ambiente natural - os especialistas conseguiram acompanhar a desova múltipla da perema, espécie semiaquática que possui incubação prolongada com cerca de cinco meses, e é um dos quelônios menos estudados no Brasil.

“Temos várias espécies desovando no prédio, como a perema, por exemplo, que o numero de desova por ano na natureza não é conhecido, e no nosso cativeiro está colocando dois ninhos anualmente com um a dois ovos em cada”, diz Vogt.
Estudos envolvem comportamento e bioacústica dos animais. Foto: Luciete Pedrosa/Inpa
Depois de estudar a bioacústica das tartarugas-da-amazônia, animais ameaçados pela grande caça ilegal e consumo de carne e ovos, os especialistas expandiram as pesquisas para outras espécies. Antes se pensava que as tartarugas não ‘falavam’, mas hoje se sabe que os filhotes se comunicam no ninho e na incubadora para juntos decidirem a data do nascimento.

“Pela primeira vez estamos estudando a vocalização das iaçás ou pitiús, peremas e irapucas. E isso é algo novo e muito importante para entender a variabilidade de vocalizações e comportamento de quelônios no mundo. Acredito que todas as espécies de quelônios no mundo estão vocalizando, e as espécies mais sociáveis como tartarugas da Amazônia vocaliza mais”, revela Vogt.

Das 335 espécies de quelônios do mundo descritas pela ciência, sabe-se que apenas 49 vocalizam, ou seja, utilizam sons como um comportamento social de interação de indivíduos. Faltam estudos para as outras espécies.

Educação

O Cequa é um espaço que busca, por meio de ações conjuntas de educação ambiental e de pesquisa, o aumento da valorização e da consciência ecológica dos amazonenses frente à dificuldade para a conservação de quelônios, destacando-se, principalmente, o consumo, o comércio ilegal e a importância desses vertebrados aquáticos para o equilíbrio ambiental na Amazônia.

Uma das estudantes que atuam no Centro é aluna de Biologia, Thaisa Fernandes, que desenvolve na iniciação científica pesquisa sobre o comportamento reprodutivo do cabeçudo (Peltocephaulus dumerilianus), desde o acasalamento até a desova. “O cabeçudo é uma espécie onívora e está distribuído pela Venezuela, Colômbia, Peru e Brasil, sendo sua maior distribuição na região amazônica e em águas escuras”, diz. “Acredita-se ser o animal mais antigo da família Podocnemidae”, acrescenta.

Dotado de um auditório com capacidade para 65 pessoas e um amplo laboratório para estudos das espécies de quelônios da Amazônia, o Cequa também conta uma biblioteca para dar suporte a pesquisadores e alunos dos programas de prós-graduação e de iniciação científica do Inpa vinculados ao projeto. Atualmente funciona com ajuda de voluntários, como os estudantes de mestrado, doutorado e de Iniciação Científica. “O Inpa está ajudando como pode, mas ainda falta muito a ser feito”, conta o pesquisador.

INCT

Com o recurso que o INCT Tartarugas da Amazônia deve receber, o pesquisador Richard Vogt espera investir também na ampliação do prédio do Cequa com a construção de outro andar (o segundo pavimento) e na aquisição de equipamentos para trabalhos de campo em telemetria, como teletransmissores e sonares que serão usados em testes para saber a movimentação das tartarugas na várzea e igapó, já que algumas espécies da Amazônia migram muito, como a tartaruga-da-amazônia  e o iaçá.

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